Olá Amigos
O filme de hoje no Projeto Cinema no Caldeirão é o "Diários de Motocicleta" de Walter Salles, talentosíssimo diretor nacional. O filme em questão foi escolhido como apoio aqueles professores que queriam trabalhar com algum projeto relacionado aos 50 anos da revolução cubana.
O chamado "road movie" tem um atrativo todo especial para o cinema. Está sempre em movimento e, como em um pensamento "zen", geralmente não é o objetivo que importa, mas sim a jornada.
Baseado nos livros Notas de Viaje, de Ernesto “Che” Guevara e Con el Che por Sudamérica, de Alberto Granado, o filme visa contar como foi a viagem do jovem Che Guevara e de seu amigo Alberto pela América Latina, munidos apenas de uns poucos trocados e de uma moto caindo aos pedaços, batizada de La Poderosa.
Diários de Motocicleta começa e termina de forma bem diferente, ambas com muitos pontos positivos. No início do filme, são apenas dois jovens que querem se divertir, conhecendo muitas pessoas, países e culturas diferentes. Nesse ínterim, eles vão passar por vários problemas e confusões, a maioria protagonizada por La Poderosa e descobrir que o mundo é menos justo do que pensavam. Podemos sentir o idealismo dos amigos aflorando aos poucos durante o filme e ambos deixando de ser crianças para, enfim, penetrar no mundo adulto.
Um dos maiores trunfos do filme é o fato de os dois serem caras normais, passando por situações normais. Nada de inverossimilhança. O que acontece com os dois é o que aconteceria comigo ou com você se nos aventurássemos em uma viagem dessas. O tom cômico vem do personagem de Rodrigo de La Serna (Alberto Granado). Sua cara de pau parece não ter fim, bem como as confusões em que se mete.
Um dos momentos mais emocionantes é quando os dois vão para um acampamento de leprosos (Ernesto é estudante de medicina e Alberto é bioquímico). Lá, se deparam com uma situação ridícula onde os próprios médicos não têm coragem de chegar perto dos pacientes e começam sua primeira revolução, quebrando as regras e tratando os pacientes como qualquer ser humano merece ser tratado: com respeito. Os doentes, é claro, retribuem com muito carinho e verdadeiras amizades se formam, transformando até o próprio espectador, que também aprende a ver as pessoas por trás dos rostos marcados por uma das piores doenças da história.
Independente de se tratar da juventude de Ernesto "Che" Guevara, "Diários de Motocicleta" também é um filme sobre um jovem que se torna adulto, um jovem que também busca seu lugar no mundo. E no caso de Guevara, que lugar!
Não vou discutir aqui sobre os aspectos históricos ou míticos envolvendo a figura de Guevara. Afinal, muito já se falou sobre isso. E todos nós, até o mais cínico, não consegue ficar impassível diante de Che, não do homem que ele foi, mas do que ele representa: um sonhador e um rebelde, alguém que ousou lutar por um mundo melhor (independente dos meios que ele usou), morrendo por esse sonho. Che Guevara se tornou algo íconico, quase arquetípico.
Todavia, a proposta de Salles em "Diários de Motocicleta" é buscar o homem, ou melhor, o menino, por trás do mito e o processo que o fez tornar homem. O ponto de partida para conseguir captar isso? Ora, novamente uma viagem. A viagem que Ernesto de La Serna (Gael García Bernal) e seu amigo Alberto Granado (o ótimo Rodrigo de la Serna) fizeram em 1952, cruzando a América do Sul desde a Argentina até o Peru.
"Diários de Motocicleta" é sim o filme poético que prometia ser desde que foi anunciado. É o melhor trabalho de Salles? Certamente não sei dizer.
Contudo não deixa de ser um filme excepcional e tocante, não porque se trata da história de Che Guevara, e não apenas porque nos torna mais próximos de Ernesto de La Serna, mas principalmente pelo motivo que ressaltei: por tratar de forma sincera temas como a busca pela identidade e o amadurecimento pessoal.
Temas essencialmente humanos, tão caros a todo e qualquer sujeito, e capaz de realmente alcançar o menino por trás do mito, tornando-o um de nós.
Abraços
Equipe NTE Itaperuna
Nenhum comentário:
Postar um comentário