22 de nov. de 2008

Quando um homem ama uma mulher

O precipício do alcoolismo

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“O que é alcoolismo” pergunta a menina de cinco anos. Surpreendido pela dúvida da filha, o pai se esforça para traduzir em palavras o drama vivido por toda a família em virtude do vício de sua esposa. Há, evidentemente, muitas palavras que poderiam ser utilizadas para explicar esse vício pelas pessoas que conhecem as dificuldades e percalços relacionados ao consumo excessivo e doentio de bebidas alcoólicas.

Sem dúvida alguma entre elas poderíamos colocar termos como dor, angústia, perda e até mesmo deterioração.

Há uma explicação para cada uma delas, mas vale lembrar que esse espinhoso tema já foi trabalhado com maestria nas telas do cinema em algumas ocasiões, entre as quais podemos destacar clássicos como Farrapo Humano (com Ray Milland; dirigido por Billy Wilder), O Veredicto (com Paul Newman; dirigido por Sidney Lumet) ou ainda, Despedida em Las Vegas (com Nicolas Cage; dirigido por Mike Figgis).

Um eventual estudo sobre a degradação provocada pelo álcool poderia incluir uma visita a qualquer um dos títulos mencionados acima. O que se vê nas telas é uma reprodução dos erros e desacertos que tornam a vida de qualquer pessoa afetada por esse mal a minar-lhe as possibilidades de ser encarado com seriedade no mundo em que está inserido.

O álcool transforma não apenas o nosso caminhar, os trejeitos, a fala, o olhar ou o raciocínio – goles a mais de cerveja, whisky ou vinho nos colocam em evidência como os “bobos da corte” ou ainda no papel de “palhaços de plantão”, trôpegos, cambaleantes, enunciando tratados sem sentido, jogando ao vento idéias patéticas e rapidamente descartadas ou desacreditadas.

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A deterioração não é apenas visível a partir de atitudes ou conversas dessas pessoas, ela se configura na destruição física do próprio ser e na paulatina dissociação dos mais estimados e próximos pares. Destroem-se os laços familiares, distanciam-se os amigos, perdem-se empregos e demais vínculos sociais. As pessoas se sentem embaraçadas e constrangidas ao lado de alcoólatras.

É claro que, felizmente para algumas pessoas que padecem desse vício, legalizado jurídica e socialmente (um dos maiores erros da humanidade), existem seres humanos que teimam em prestar-lhes auxílio apesar das humilhações e incongruências da vida desses doentes. É justamente nesse âmbito que gravita o filme Quando um homem ama uma mulher, do diretor Luis Mandoki, estrelado por Meg Ryan e Andy Garcia.

A abnegação de um marido realmente apaixonado por sua mulher segura a trama e conduz o espectador pelo inferno do alcoolismo, capaz de colocar até mesmo uma mãe em confronto com as filhas pequenas. Nesse ínterim percebemos também a questão da angústia e da dor, que supera as pequenezas de nossos corpos, em sua dimensão física, e atingem a esfera psico-social.

Não há dor maior do que agredir a sua própria carne, num primeiro instante a partir da contaminação promovida pelos excessos de uma droga a percorrer suas veias e artérias; em etapas posteriores pela ausência do lar, da família, dos filhos e dos pares amorosos. O resultado não pode ser outro senão o deslocamento do sofrimento físico, mais imediato e inevitável, para a solidão, o abandono e a angústia...

Quando um homem ama uma mulher trabalha essas questões de forma branda, leve. Não é frontal, agressivo ou polêmico. Tenta demonstrar a questão atingindo um público mais amplo, podendo ser considerado até mesmo como um filme de entretenimento. Apesar disso, não trata de forma leviana ou descompromissada um tema importante para a sociedade e para a educação, comprovação disso é a própria ambientação da história a um ambiente familiar típico. Pode ser um importante aliado para trabalhar o alcoolismo na escola...

O Filme

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Não se deixem iludir pelo título adocicado do filme Quando um homem ama uma mulher. Apesar do romance que permeia toda a trama e que se configura através dos personagens principais vividos por Andy Garcia e Meg Ryan, a temática principal do filme gira em torno do alcoolismo e suas conseqüências para a estrutura pessoal e familiar do personagem vivenciado por Ryan.

A história começa a se estabelecer a partir do encontro entre os personagens e o início de seu romance. Não por coincidência boa parte desse amor acontece em ambientes festivos, onde há bebidas alcoólicas e, como conseqüência das mesmas, com os desfechos sendo cheios de risadas, passos trôpegos e corpos que literalmente despencam em sofás ou camas.

O que se percebe é que entre o casal há uma clara sintonia. Apesar de Alice (Meg Ryan) já ter uma filha de outro relacionamento, seu novo marido, Michael (Andy Garcia) é compreensivo, dedicado e resolvido quanto a todas as questões que permeiam sua relação amorosa. Nos jantares, reuniões sociais ou confraternizações de “happy hour” é sempre ela que, para se soltar e se sentir mais divertida, acaba bebendo um pouco além da conta.

O problema é que esses copos a mais não estão mais se restringindo aos momentos de descontração do casal. O consumo de álcool começa a se estender para encontros com amigas ou horas dispendidas no ambiente doméstico na proximidade das duas filhas pequenas. A utilização de bebidas nesses outros espaços e momentos da vida de Alice configuram a transformação de um hábito esporádico numa terrível doenças, o alcoolismo.

A ingestão regular de bebidas como a vodca (que supostamente não deixa rastros de seu consumo no bafo das pessoas) por Alice transtorna sua relação com o marido e as filhas motivando a sua internação para tratamento.

De forma sutil e delicada, tendo uma mulher como protagonista da questão central, o alcoolismo, Quando um homem ama uma mulher, trata de questões importantes e pertinentes como a degradação física e emocional do viciado em álcool, a desestruturação familiar, a perda dos amigos, a quebra de confiança ou ainda as dificuldades dos tratamentos e as possibilidades de recuperação.

Ainda mais presente, como mencionado no próprio título da produção, transparece a necessidade de apoio, carinho incondicional e amor por parte da família para a recuperação dos alcoólatras. Numa época como a que estamos vivendo, na qual a venda de bebidas para menores é uma realidade, trata-se de uma produção importante para discutir a questão na escola e na comunidade.

Aos Professores

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1- Há algumas campanhas sendo feitas a nível nacional contra a venda e consumo de bebidas alcoólicas por crianças e adolescentes em nosso país. Qual é o mote do trabalho desses grupos? Que efetividade eles apresentam? O que mais pode ser feito? Que tal fomentar uma pesquisa entre os estudantes para descobrir esses projetos, obter informações sobre o alcoolismo entre todos os grupos populacionais brasileiros, conversar sobre as conseqüências desse vício? O que acham de iniciar uma campanha contra o alcoolismo em sua escola e comunidade?

2- O que a família pode fazer em relação ao consumo precoce de bebidas alcoólicas por seus filhos? Uma das primeiras e mais prementes medidas é moderar o consumo por parte dos adultos e evitar que se beba em larga escala na presença das crianças, como dizia Glauber Rocha, “uma imagem vale mais que mil palavras”... O exemplo dos pais, de consumo freqüente e em quantidades exageradas pode motivar os filhos a associar a bebida as práticas de aceitação social e entendê-las como parte integrante da experiência humana cotidiana. Sabemos muito bem que isso não é verdade, pelo contrário...

3- Monte uma mostra de filmes com os títulos apresentados no início desse artigo (Farrapo Humano, O Veredito, Despedida em Las Vegas) adicionando a esse evento outras produções em que o alcoolismo seja evidenciado e desmascarado em toda a sua potencialidade de destruição do ser humano. Convidem alunos, pais, professores e membros da comunidade para participar e criem uma mesa redonda em que se discutam medidas efetivas de combate aos males do alcoolismo. Registrem o evento, façam artigos para o jornal da escola, convidem a imprensa local para falar sobre o assunto, levem médicos para dar depoimentos,...

4- O contato com pessoas que vivenciaram o inferno do álcool e que, com o apoio da família, dos amigos e de instituições como os Alcoólicos Anônimos conseguiram sobreviver as mazelas desse vício pode ser muito interessante e enriquecedor para que outras pessoas da comunidade, inclusive os alunos das escolas do município, saibam que aquilo que foi visto nas telas é uma realidade muito próxima de cada um e de todos nós.

Obs.: Tive um tio que foi vítima dos abusos relacionados ao consumo de álcool. Era um competente provador de café, um ramo de atuação onde poucos profissionais conseguem destaque e que depende muito do paladar apurado. Suas perdas foram grandes, da separação conjugal ao distanciamento em relação aos filhos, da perda de empregos até a morte. Histórias tristes como essa fazem parte da realidade de muitas pessoas, temos que rever essas situações e efetivar transformações que evitem tais perdas e danos...

Ficha Técnica

Quando um homem ama uma mulher

Título Original: When a man loves a woman
País/Ano de produção: EUA, 1994
Duração/Gênero: 126 min., Drama/Romance
Direção de Luis Mandoki
Roteiro de Ronald Bass e Al Franken
Elenco: Meg Ryan, Andy Garcia, Ellen Burstyn, Philip Seymour Hoffman,
Tina Majorino, Mae Whitman, Lauren Tom, Eugene Roche, Gail Strickland.

Links
- http://www.adorocinema.com/filmes/quando-um-homem-ama-uma-mulher/quando-um-homem-ama-uma-mulher.asp
- http://www.imdb.com/title/tt0111693

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João Luís de Almeida Machado Editor do Portal Planeta Educação; Doutorando em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).

Fonte: http://www.planetaeducacao.com.br/novo/artigo.asp?artigo=510

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