22 de nov. de 2008

O Informante

Drogas legalizadas e letais

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Cavalos selvagens se movimentam por uma vasta área de pradarias, em seu encalço estão bravos cowboys, tentando a todo custo capturá-los e levá-los para seus ranchos como prêmios máximos de sua competência e valentia. Os cowboys são o retrato mais próximo da idéia de liberdade, força e saúde que podemos ter. São todos altos, fortes e demonstram através de suas ações a idéia de sucesso. Além de todos esses pontos em comum, um outro parece uni-los, todos eles fumam...

Jovens exploram e testam carros de corrida, lanchas e outros veículos. Além disso, se arriscam em saltos de pára-quedas, esqui aquático, equitação ou ainda, outros esportes radicais. No final, vitoriosos, todos se reúnem e saboreiam a glória das conquistas sorvendo um cigarrinho. Todos são muito bonitos, moços e moças entre 20 e 30 anos, esbanjando saúde e, apesar de fumarem, tem sorrisos brancos e reluzentes, dignos de propagandas de pasta de dentes...

Se pararmos para pensar, certamente lembraremos das propagandas divulgadas na televisão há poucos anos atrás em que se fazia a apologia do uso de cigarros. A poderosa indústria produtora de cigarros possuía equipes de marketing extremamente competentes que escolhiam como alvo os jovens (e acabavam atingindo também os adolescentes). Para isso utilizavam em anúncios de televisão, jornais, revistas e outdoors, elementos como locais paradisíacos, pessoas bonitas, muita adrenalina, vitórias,...

Há alguns anos, por medida de lei, a propaganda de cigarros na televisão passou a ser proibida. Além disso, os fabricantes tiveram que inserir nos maços de cigarros a inscrição: “O Ministério da Saúde adverte que fumar é prejudicial à saúde”. Fotografias com pessoas doentes, com moléstias causadas pelo uso contínuo e prolongado de cigarros também “decoram” a embalagem do produto.

Todas essas alterações contribuíram para evitar que um número muito grande de pessoas aderisse ao tabagismo, no entanto, apesar das vitórias obtidas, o setor continua poderoso e próspero.

Entretanto, há algum tempo atrás, através de um prestigioso programa de televisão, veio à tona uma denúncia de impacto a respeito da indústria tabagista. Um alto executivo demitido por uma dessas empresas alertou a população para o fato de que os cigarros vendidos nos Estados Unidos estavam sendo fabricados com produtos que aceleravam o processo de dependência dos usuários em relação à nicotina.

Descobriu-se, portanto que as companhias fabricantes de cigarros não apenas estimulavam o consumo de seu produto através de milionárias campanhas publicitárias na televisão e nos demais meios de comunicação de massa como, também, inseriam produtos em suas mercadorias para, literalmente, “viciar” mais rapidamente os usuários.

“O Informante”, filme do experiente diretor Michael Mann, estrelado por Al Pacino e Russell Crowe nos conta essa notável história de vingança, trapaças e do enorme “furo” jornalístico obtido pela televisão. Simplesmente imperdível!

O Filme

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Demitido de uma das mais importantes empresas tabagistas dos Estados Unidos, o executivo Lowell Bergman (Russell Crowe) concede entrevista reveladora ao programa jornalístico “60 minutes” da rede de televisão CBS. Entre várias histórias e revelações contadas aos jornalistas da TV, Bergman divulga que a indústria tabagista usa de um artifício químico para acelerar a dependência dos consumidores em relação à nicotina, por si só um elemento viciante.

Bergman passa então a sofrer perseguições e a televisão, apesar de ter em suas mãos uma notícia de enorme importância, totalmente bombástica, amedrontada diante da ameaça de corte na publicidade e de processos judiciais por parte dos fabricantes, hesita em divulgar o depoimento do ex-executivo.

Dilemas morais se confrontam com necessidades financeiras nesse impressionante thriller estrelado por Crowe e por Al Pacino. A imprevisibilidade acompanha os passos do entrevistado que passa a temer cada vez mais por sua vida. Os espectadores são colocados em xeque diante das possibilidades do personagem central:- recuar e desmentir suas afirmações ou continuar brigando, apesar de toda a força, poder e lobby de seus opositores.

Os produtores do programa de televisão também passam por experiência semelhante, tem diante de si a oportunidade única de consagração e fama, tamanho o impacto da notícia que tem em suas mãos. No entanto, essa mesma informação pode representar prejuízos grandes para a emissora e a perda de emprego para alguns deles...

Aos professores

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1- Discutir os malefícios do cigarro é o primeiro trabalho a ser desenvolvido em relação a esse filme. Incitar os alunos a pesquisar como as pessoas que conhecem e que sabem ser fumantes iniciaram-se nessa experiência. Levantar dados a respeito de quantas pessoas conseguem se libertar do tabagismo. Entrevistar médicos e especialistas a respeito das conseqüências negativas da nicotina para o organismo de uma pessoa. Todos esses seriam os passos iniciais do trabalho com esse filme.

2- Uma segunda possibilidade, ainda explorando o tema do tabagismo refere-se a um exame minucioso das embalagens dos cigarros. Pode-se explorar, por exemplo, a fórmula e os ingredientes dos cigarros para discernir elementos químicos e buscar aqueles que causam a dependência. Deve-se utilizar as imagens dos maços de cigarro que apresentam as doenças causadas pelo vício para examinar as conseqüências objetivas do vício no corpo humano. Criar painéis com essas imagens e com as informações sobre a química do cigarro seriam ótimos meios de divulgar as pesquisas e alertar os alunos sobre os males do tabagismo.

3- A história do tabaco como produto e mercadoria de valor no comércio mundial é extremamente recente. O tabaco, originário da América, era desconhecido dos europeus até o século XVI, quando passou a ser vendido e consumido regularmente. Fazer um levantamento do comércio desse produto ao longo da história e do aperfeiçoamento do processo industrial de produção de cigarros é uma ótima alternativa para entender o enriquecimento e o poder da indústria tabagista.

4- A tênue relação entre ética, poder e dinheiro permeia negócios e intercâmbios formalizados diariamente mundo afora. Em que momentos prevalece à ética? Em que situações o que fala mais alto é o interesse financeiro? De que forma podemos conciliar lucros e responsabilidade social? É possível viver eticamente no mundo dos negócios (ao menos onde a quantidade de “verdinhas” é tão alta que as pessoas acabam se corrompendo sem maiores dificuldades)? “O Informante” nos convida a refletir, a filosofar sobre esse tema que nos é tão caro e tão presente, os negócios e a ética, o lucro e a cidadania...

Ficha Técnica

O Informante
(The Insider)

País/Ano de produção: EUA, 1999
Duração/Gênero: 160 min., Drama/Ação
Direção de Michael Mann
Roteiro de Marie Brenner, Eric Roth e Michael Mann
Elenco: Russell Crowe, Al Pacino, Christopher Plummer, Diane Venora,
Philip Baker Hall, Devi Masar, Lindsay Crouse

Links
- http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=153
- cineclick.virgula.terra.com.br/cinemateca/ficha_filme.php?id_cine=8195

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João Luís de Almeida Machado Editor do Portal Planeta Educação; Doutorando em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).

Fonte: http://www.planetaeducacao.com.br/novo/artigo.asp?artigo=174

Um comentário:

Conceição Rosa disse...

O que mais me impressionou neste filme foram as relações econômicas que envolvem o mundo dos cigarros. Negócios e ética, lucro e cidadania... Qual a cadeia deflagrada pela opção de fumar? O informante foi o cidadão que ousou denunciar o vício provocado intencionalmente, e pagou um alto preço na sua vida pessoal por isso. Acho que o problema das drogas lícitas é tão preocupante quanto o das ilícitas, já que os detentores de sua exploração são tão bem organizados para sua defesa. Vide o exemplo aqui no Brasil, onde uma questão de saúde pública (alcoolismo) passou à questão de "liberdade de expressão comercial" defendida até por um ex secretário da ONU...