4 de abr. de 2009

Cine Majestic

Dando valor as leis e a solidariedade

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Jim Carrey é realmente um sujeito surpreendente. Começou sua carreira como um comediante que tinha tudo para ser uma reedição atualizada do grande Jerry Lewis (para conferir isso basta ver "O Máscara", "Ace Ventura" e "Debi e Lóide). Seu destino cinematográfico pareciam ser as comédias escrachadas, um tanto quanto apelativas em seu senso de humor. Dizia-se dele que era um grande "careteiro", que suas "gags" e malabarismos eram sua grande arte, sua garantia de sucesso e de boas bilheterias.

Por melhores que sejam os roteiros e as histórias contadas nos filmes, esse tipo de interpretação se esgota, cansa os espectadores e, acaba fazendo com que um artista de grande sucesso de repente se torne um retumbante fracasso. Talvez ciente dessa possibilidade, Jim Carrey resolveu enveredar por caminhos um tanto quanto diferentes e, verdadeiramente autênticos. A primeira grande prova desse novo desafio de Carrey foi o bem-sucedido "O Show de Truman".

Em "Truman", o astro de cachês vultosos conseguiu fazer com que sua verve cômica fosse agregada a um surpreendente talento para o drama. Essa tendência continua e, o reconhecimento ao trabalho de Carrey tem crescido em todos os lugares, seja de público ou de crítica.

"Cine Majestic" é uma nova oportunidade de verificar o aperfeiçoamento de Jim Carrey. Trata-se de uma história ambientada nos Estados Unidos dos anos 1950, no auge do Mcartismo. Fenômeno dos mais aterrorizantes esse tal de Macarthismo, principalmente para as pessoas que prezam e lutam pelas liberdades individuais, pela democracia. No início da Guerra Fria, movidos por uma grande histeria, parlamentares americanos liderados pelo senador Joseph Mcarthy iniciaram uma grande "caça as bruxas". As bruxas a que me refiro não foram queimadas na fogueira mas, na prática, a perseguição a que foram submetidos deixou-os chamuscados para sempre.

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As vítimas de toda a arbitrariedade contida nessas perseguições foram os pretensos comunistas que estariam em ação nos Estados Unidos. Muitos deles nem ao menos sabiam os ditames da ideologia marxista, como imaginar então que participavam de grupos simpatizantes dessa linha política. Esse era o caso do personagem Peter Appleton (Carrey), roteirista de filmes de segunda linha, em início de carreira e ávido por chances ainda melhores no disputado mercado hollywoodiano.

A capital do cinema foi, a propósito, um dos grandes alvos dos agentes do Macarthismo. Diretores, roteiristas, produtores e artistas foram alvos de investigações e, em muitos casos, foram a tribunais públicos para se defender das acusações de que eram comunistas. Muitos tiveram que se retratar publicamente por erros que nem ao menos haviam cometido. A intolerância desse período beira as raias da insanidade. Nada poderia justificar tal histeria e permitir que, utilizando-se de expedientes e agências governamentais, se agisse de tal maneira.

Voltando ao filme. Perseguido, Appleton acaba por sofrer um acidente que o leva a perder a memória. Acaba indo parar numa pequena cidade interiorana e é confundido com um jovem (chamado Luke Trimble) daquela localidade que havia partido para a guerra e nunca regressara. As semelhanças entre ambos são muito grandes e, a partir desse momento, as pessoas da cidade tentam reintegra-lo ao cotidiano local.

O pai do jovem (vivido pelo experiente e competente Martin Landau) decide reabrir o cinema que pertence a família desde os anos 1920. Esperava o retorno de Luke para que pudesse fazer isso. Com o apoio da comunidade e da prefeitura, que lhes dão suporte material e humano para as reformas necessárias, ressurge o Cine Majestic. Tudo parecia ir muito bem, inclusive o romance reatado entre Luke/Appleton e sua antiga namorada/noiva, até o FBI rastrear os passos do desaparecido roteirista, acusado de simpatizante dos "vermelhos"...

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Os grandes méritos do filme para o trabalho nas escolas residem na solidariedade da comunidade ao unir forças para a reconstrução de um símbolo da cidade (o Cine Majestic) e o calor com que receberam Luke/Appleton, a reconstituição de um fenômeno histórico de grande repercussão na história americana (o macarthismo) e, principalmente, na firmeza e decisão do personagem de Carrey ao enfrentar os tribunais que o perseguiam injustamente.

Ao lembrar-se dos artigos da constituição americana que exaltavam o direito as liberdades individuais, como a liberdade de culto religioso, o direito de expressar suas opiniões e a oportunidade de veicular as informações através da imprensa, Appleton (Carrey) traz a tona um pouco do sonho de todos nós (e não apenas dos norte-americanos), de que as leis sejam muito mais que apenas pedaços de papel sem valor. Confira!

Obs.: Sobre o macarthismo vale conferir o filme de Woody Allen chamado "Testa de ferro por acaso" e a participação de Robert De Niro em "Acusado por suspeita".

Ficha Técnica

Cine Majestic
(The Majestic)

País/Ano de produção:- EUA, 2001
Duração/Gênero:- 153 min., drama
Disponível em vídeo e DVD
Direção de Frank Darabont
Roteiro de Michael Sloane
Elenco:- Jim Carrey, Martin Landau, Laurie Holden, Allen Garfield, Amanda Detmer.

Links

- http://majesticmovie.warnerbros.com (site oficial - em inglês)
- http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=3690

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João Luís de Almeida Machado Editor do Portal Planeta Educação; Doutor em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).

Fonte: http://www.planetaeducacao.com.br/novo/artigo.asp?artigo=33

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