17 de mar. de 2009

Saberes em jogo

por Max Fischer

Receita para cativar adolescentes: junte computador, internet com uma pitada de competição e adicione o tema que quiser

Criada a partir de um jogo de caça ao tesouro chamado Scavenger Hunt, popular nos EUA, as WebGincanas começam a fazer sucesso nas escolas brasileiras. Sua história no Brasil começou em 2003, quando o professor Jarbas Novelino iniciou a tradução de algumas Scavenger Hunts para a matéria de Tecnologia Educacional que lecionava no curso de Pedagogia na Universidade São Judas Tadeu, em São Paulo.

“No formato original havia apenas perguntas que precisavam ser respondidas por meio de consultas a fontes na web. Acrescentei a essa estrutura atividades ‘gincaneiras’. Assim os alunos tiveram de fazer algumas missões práticas como parte do jogo”, afirma Novelino, ao diferenciar a versão brasileira da original.

“Mas eu ainda achava que estava trabalhando com Scavenger Hunts. Em 2006, trabalhei no modelo com a colaboração de Carlos Seabra (Fundador da Sociedade Brasileira de Informática na Educação), e elaboramos uma proposta de definição para as WebGincanas. Sugerimos que elas fossem constituídas por um conjunto de quinze questões, três atividades e duas missões, bem diferente do modelo norte-americano”, explica.

Dois exemplos de sucesso de WebGincana podem ser vistos na Escola Educandário Santa Rita de Cássia, em São Paulo, ou em uma das 69 escolas públicas de Ensino Fundamental de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.

“Uma WebGincana é diferente da outra. O que você vai aplicar numa escola de elite na zona sul não pode ser igual ao que será aplicado numa escola de periferia da zona norte”, explica Nivaldo Junior, professor do Rita de Cássia, enfatizando a necessidade de contextualização das atividades. Na sua escola, Nivaldo normalmente promove a WebGincana no começo do segundo semestre, já que é preciso conhecer os alunos para personalizar a atividade.

Ao instigar o espírito de competição, o educador pode, no entanto, gerar um novo problema: como estimular uma concorrência entre os estudantes de maneira positiva para a aprendizagem? Uma WebGincana tanto pode ensinar aos alunos participantes a importância da cooperação no trabalho em equipe quanto valorizar o individualismo e a competitividade. “O professor tem de tomar muito cuidado com isso. Um computador ou uma WebGincana é que nem uma pedra: você pode fazer uma coisa muito legal com ela ou pode jogá-la na cabeça de alguém”, alerta Nivaldo Junior.

Na visão de Verônica dos Santos, participante da Seção de Laboratório e Educação Tecnológica de São Bernardo do Campo, “uma aula comum é conteudista. Nela, o professor detém o conhecimento e apenas o transmite aos alunos. Já a WebGincana e a WebQuest trabalham com a informação de modo que faça sentido para os alunos”. Mas, enquanto uma WebGincana é a atividade ideal quando se quer trazer um conhecimento novo ao aluno, a WebQuest é sugerida caso se deseje que o aluno pense, critique ou julgue uma situação.

“A internet pode educar de várias formas. WebGincanas não são uma solução quando se quer transformação de informações. WebQuests não são o caminho quando o resultado que se espera é o de reprodução de informações”, explica Novelino.

Não é possível calcular o número de WebGincanas ou WebQuests no Brasil, pois não existe um local único para armazená-las na internet. Contudo, existe um projeto em São Bernardo em fase de finalização que pretende guardar todas as WebGincanas da cidade em um único lugar virtual. A implantação do Portal Cidade Escola de São Bernardo está prevista para o começo do ano que vem.

Para Novelino isso não é problema. “Hoje existem cerca de 4 mil menções do termo WebGincana na Web. Isso sinaliza que, talvez, existam aproximadamente duas centenas de WebGincanas publicadas na internet. Acho que começaremos a criar bancos quando tivermos um número um pouco maior de publicações. No caso das WebQuests, por exemplo, a organização de repertórios de WQs começou quando havia cerca de 40 mil citações do modelo em buscas”, lembra.

Promova uma WebGincana

1º passo: Saiba quando aplicar

A WebGincana pode ser aplicada em dois momentos:
logo no começo de um tema, quando o professor pode estimular a curiosidade dos alunos pelo tema, ou no final do aprendizado, momento em que os alunos testarão seus conhecimentos. Para Novelino o ideal é fazer uma ou duas WebGincanas por semestre, já que “fazer uso muito freqüente de WG, ou de qualquer outra solução de organização de informações para fins de aprendizagem, pode levar a rotinas que provocam desinteresse”.

2º passo: Verificar a possibilidade de criação


Após decidir a data, a próxima coisa que o professor deve fazer ao pensar em aplicar uma WebGincana em seus alunos é se o conteúdo a ser trabalhado poderá trazer alguma surpresa, humor ou situações inesperadas. Caso contrário a WebGincana pode acabar sendo um simples questionário para os alunos. O professor também deve ser bastante inventivo na criação de cada pergunta ou tarefa. Não existe um limite para temas. Uma WebGincana pode misturar questões de história, matemática e geografia na mesma atividade.

3º passo: Procurando fontes

O terceiro passo é verificar se há na internet fontes de informação adequadas ao nível de desenvolvimento dos alunos. Fontes muito difíceis ou muito fáceis não são motivadoras.

4º passo: Construindo a WebGincana

A WebGincana tradicional é dividida em cinco partes.
Na introdução o professor passa as informações iniciais sobre o tema da atividade. Por exemplo, numa WebGincana sobre danças regionais pode-se perguntar sobre a bate-caixa (dança típica do interior de São Paulo) ou Congada (Goiás).

A segunda etapa é o “desafio”, onde estará exposta uma série de questões e atividades que serão respondidas via internet ou “off-line”. Para responder essas questões, o aluno vai aos “Recursos”, os locais pré-escolhidos pelo professor para a pesquisa. O quarto item é a “Avaliação”, com as regras e critérios que serão utilizados nos julgamentos das respostas e atividades dos alunos. E, por fim, o grupo chega à “Conclusão”, texto que encerra a atividade.

5º passo: Construindo a WebGincana

O publicador mais usado é o Php webquest, que pode ser encontrado em www.livre.escolabr.com/ferramentas/wq/, mas há como montar a WebGincana no PowerPoint e publicar o arquivo no Slideshare (www.slideshare.net/), criar um site específico para ela ou escrevê-la em um documento de Word e colocá-la na rede do laboratório da escola. “WebGincana é um conceito em construção. Não é uma solução pronta e acabada. Por isso é conveniente que os autores procurem trabalhar de modo cooperativo, associando-se a outros professores na escola ou rede de ensino”, comenta Novelino.

Saiba Mais


Embora não haja ainda um banco de WebGincanas, os interessados podem examinar diversos exemplos do modelo nos seguintes endereços:

www.webgincana.utopia.com.br/testes/
www.jarbas.wordpress.com/4-webgincanas-de-alunos

Também é possível entrar em contato com os professores Novelino e Junior pelos endereços:

Junior: www.linuxnaescola.com.br
Novelino: www.jarbas.wordpress.com

Fonte: http://www.cartanaescola.com.br/edicoes/30/saberes-em-jogo/

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