O filme escolhido hoje para o projeto Cinema no Caldeirão é o "Encontrando Forrester" do fantástico, polêmico e talentosíssimo diretor Gus Van Sant, o mesmo diretor de outros filmes igualmente polêmicos como "Drugstore Cowboy" e "Garotos de Programa" entre outros.
O primeiro é Jamal Wallace, um negro de dezesseis anos que mora no Bronx e que se dedica a jogar Basquete. Aluno de escola pública, Jamal recebe uma bolsa para estudar em um colégio freqüentado pelas elites, em Manhattan.
O segundo é William Forrester, escritor consagrado pela crítica e pelo público após publicar seu primeiro e único livro. Desiludido com a incompreensão da sua obra, Forrester desenvolve uma fobia social, isola-se em seu apartamento, também no Bronx, onde divide espaço com os livros que lê.
O terceiro é Crawford, professor de literatura na escola de Manhattan, e escritor frustrado. Destes três personagens, o único negro é Jamal; Forrester e Crawford são brancos.
No outro extremo temos o professor de literatura Crawford, um escritor frustrado e reconhecido pelos seus alunos como autoritário e vingativo. Crawford assumirá para si a função de preservar uma suposta pureza cultural, representada no filme pela literatura.
A discussão que o filme propõe a respeito da literatura e da figura do escritor é vasta, e não há espaço para discutirmos aqui. Cabe-nos sim observar que a despeito de toda a sua introspecção, Forrester tem a função de facilitar o diálogo entre Jamal e a cultura do "outro", representada, neste caso, pela literatura e pela aceitação plena no colégio em Manhattan. É o escritor que convida Jamal para entrar em seu apartamento, é ele que propõe o diálogo através da leitura crítica dos textos do adolescente que almeja escrever bem; sua função é mediar dois mundos, tornando possível o trânsito de Jamal por estes, ou seja, cabe a William Forrester o papel de mestre.
Assim, o que o filme Encontrando Forrester propõe é justamente a importância do diálogo interétnico, e a compreensão de que identidades são constituídas na mobilidade, e móveis devem permanecer. Proposta interessante para um tempo de pouco dialogo entre os seres humanos e aos fantasmas da xenofobia, sempre presentes.
A relação entre criador e criatura não é nada profunda, no começo. Os diálogos dos dois são o forte do filme. "Essa não é uma pergunta sobre sopa" é o código usado por eles, quando a pergunta era de cunho mais pessoal. O mais rico do filme “Encontrando Forrester” parte de uma relação entre dois indivíduos antagônicos, que dividem o amor pela literatura e pela arte de escrever. Jamal vê seus trabalhos revisados pelo ilustre autor e a medida em que os encontros entre mestre e aprendiz ocorrem, tanto se desperta uma amizade inusitada, na qual Jamal encontra um guia para ajudá-lo a desenvolver seu talento, como Forrester também encontra ajuda para se libertar da sua condição de ermitão.
A produção realça a amizade dos personagens, a importância da presença de Jamal na reclusão de Forrester. Ele acreditava que tudo já estava definido em sua vida, que não havia mais nada a ousar. Por isso, ''Encontrando Forrester'' emociona. E como.
Abraços
Equipe NTE Itaperuna
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