Um diretor de uma escola brasileira - só pode ser particular, já que na rede pública o professor é "imexível" - demitiu um professor extremamente tradicional, que ali lecionava há 30 anos. Não porque não gostasse dele. Era boa gente, atencioso, frequente, pontual.
Mas o diretor queria mudar o formato do ensino na escola e, por isso, contratou um recém- egresso da universidade.
Era jovem, deveria ter uma formação mais moderna, mais de acordo com o que deve ser preciso em uma escola do Século XXI.
Seguramente o novato aprendera coisas sobre didática, psicologia, tecnologia educacional que o antigo professor sequer ouvira quando estava na universidade.
O desejo do diretor de oferecer um ensino inovador era mesmo enorme e naquele professor recém-formado estava essa chance.
E o diretor, sedento por ver a rápida mudança acontecer, decidiu acompanhar o novo professor em seu trabalho. Ele seria o modelo para a mudança dos demais.
Percebeu que a arrumação da sala se mantinha como antes. As carteiras continuavam enfileiradas, cada aluno assentado atrás de outro.
Contudo, pensou, isso é o de menos. Mais importante que alterar o aspecto das salas, o essencial seria modificar as aulas.
Uma nova didática, novo ensino, uma educação moderna, ainda que as carteiras estivessem enfileiradas.
Acompanhou então uma primeira aula do professor novato.
Ele usava o computador e o projetor multimídia. Enquanto falava, mostrava aos alunos uma série quase infindável de slides.
Eram tantos que as luzes só se acenderam no final da aula. E o professor prometeu aos alunos, jovens que sem dúvida gostam de usar o computador, que enviaria a apresentação por e-mail.
Isso era a modernidade, pensou o diretor.
Mas, depois de algumas aulas, viu que eram todas iguais. A dinâmica em todas era a mesma. Aulas expositivas, alunos silentes, slides projetados em uma tela.
O diretor constatou, com enorme tristeza, que afinal era a mesma forma de abordar o conteúdo adotada pelo professor que demitira. Não fosse pelo computador, era a mesma aula.
As provas, verificou depois, permaneciam do mesmo jeito, cobrando aos alunos a matéria que deviam decorar.
O diretor, incomodado, resolveu abordar o professor recém-chegado.
Questionou-o sobre as aulas, sobre o ensino. Afinal, tudo permanecia na mesma.
O professor, recém-formado, repetia o que o demitido fizera por anos e anos na escola, três décadas para sermos exatos.
"Por que nada mudou?", perguntou então o diretor, em uma conversa reservada com o professor novato
Do novato ouviu uma resposta: “Desculpe-me, mas a minha educação básica foi feita assim, em todas as escolas que frequentei, ao longo de onze anos. Depois foram mais quatro anos na universidade. Tudo era dessa mesma maneira."
E, encerrou o professor novato, desculpando-se: "Não sei como fazer isso diferente”.
Foi demitido na hora, apesar de toda a honestidade que foi imediatamente reconhecida pelo diretor.
Logo depois aquele novo desempregado foi chamado para ser professor em uma universidade. Agora podia realizar o que era seu grande sonho: formar novos professores.
2 comentários:
Adorei o texto, pois ele é a mais pura das verdades. A verdade que todos sabemos e não fazemos nada para mudar. Faz dois anos e meio que dou aula, vejo que toda mudança é sempre bloqueada. Mas não podemos desistir.
A mudança depende de cada um de nós.
Grande abraço da amiga da filosofia.
Marise.
Gostamos muito do texto..
E deixamos mimos pra vc em nosso antigo blog.
Como estávamos de mudança, nossos recados se atrasaram..Passe lá,ok?
Postagem do dia 22/3/9
http://projetoseideias.zip.net/
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