O filme de hoje no Projeto Cinema no Caldeirão é "Tempos Modernos" do Charles Chaplin. O motivo de escolher um clássico do cinema mundial foi a discussão que se deu essa semana na lista de discussão dos Blogs Educativos, sobre a modernidade do "aprender a aprender as TIC" e de um texto do blog Tecnologias Digitais e Educação do Prof. Simão Pedro Marinho intitulado "Uma Estorinha de "Mudança". Além disso o filme trata de questões atualíssimas em diversas cenas.
Já nas primeiras cenas do filme, há uma sobreposição de imagens: um rebanho de ovelhas é sobreposto pela imagem de um grupo de trabalhadores saindo de uma estação de metrô e se dirigindo as industrias. Da mesma forma como as ovelhas são animais famosos pela docilidade, os trabalhadores também o são, obedecendo de forma doce e pacifica as estruturas hierárquicas da sociedade industrial.
Pode-se lembrar também que a ovelha é um animal recorrente na tradição judaico-cristã, lembrada como um animal que tem estreita ligação com Deus. Não raro, líderes religiosos referem-se a seus fiéis como “rebanho”, ou “ovelhas”. Aqui, Chaplin nos propõe um questionamento: seria o mercado uma divindade, e os trabalhadores, seus fiéis?
Uma outra cena que merece especial destaque, pelo alto teor crítico ali contido, passa-se numa loja de departamentos, onde o Vagabundo conseguiu um emprego como vigia noturno. Ele leva sua companheira até lá, para que lhe faça companhia durante a noite, e ali, naquele paraíso de consumo, eles mostram-se extremamente felizes. Pela lógica capitalista até mesmo as emoções humanas: a felicidade é personificada em mercadorias. A felicidade pode ser comprada.
A cena da loja de departamentos que é invadida por ladrões é emblemática. Um deles é um antigo companheiro de trabalho do Vagabundo. Agora desempregado, ele não tem alternativa senão roubar para sobreviver. Chaplin nos faz questionar as causas da criminalidade nos grandes centros urbanos. Não seriam os criminosos aqueles que foram excluídos pelo sistema vigente? Que alternativa eles poderiam ter, se ninguém lhes dá outra oportunidade? Chaplin é claro: em sua visão, a criminalidade é reflexo da exclusão social.
Um detalhe que chama a atenção em Tempos Modernos, é o fato de ser um filme majoritariamente mudo, mesmo tendo sido produzido numa época em que os filmes falados já eram produzidos em larga escala. No entanto, a opção de Chaplin por um filme quase mudo tem sua razão de ser. Ao longo do filme, há alguns momentos em que há falas. E há algo de comum entre eles: são sempre momentos em que há uma máquina falando. Um rádio, uma televisão, uma gravação qualquer. Os seres humanos não têm voz. As máquinas sim.
Impressiona notar que atualmente, mais de 70 anos após a filmagem de Tempos Modernos, essa questão da máquina falar no lugar do homem esteja mais presente do que nunca. Afinal, nossa sociedade fala através de telefones, através de computadores, através de todo tipo de máquina, mas falamos cada vez menos pessoalmente.
As últimas cenas do filme possuem um caráter otimista surpreendente. Após tantos dissabores, o Vagabundo acaba conseguindo um emprego como cantor em um clube noturno. Com sua performance, ele encanta a platéia, e é ovacionado. Aqui, Chaplin mostra o quanto a noção de trabalho foi distorcida pela lógica industrial.
O trabalho deve ser criativo, gratificante, prazeroso como é o número de canto do Vagabundo, em contraponto ao trabalho mortificante, tedioso e alienante da fábrica. No entanto, em um sistema capitalista, poucos têm a oportunidade de se dedicarem a uma atividade profissional que seja prazerosa.
Imagem criada a partir do texto: “De Tempos Modernos a Matrix: do contexto midiático da narrativa fílmica a uma reflexão, na contemporaneidade, sobre liberdade, reducionismo e complexidade”
Apesar de seus 71 anos de idade, Tempos Modernos é um filme atual. É interessante (e algo assustador) notarmos que as mesmas críticas feitas por Chaplin à sociedade de sua época, poderiam ser feitas à sociedade do século XXI.Nunca um filme foi tão moderno quanto Tempos Modernos.
Abraços
Equipe NTE Itaperuna
2 comentários:
Pois então, Robson!
Tempos Modernos não é apenas uma obra-prima; é um filme instigante.
Por conta de exibi-lo para meus alunos na disciplina de Organização de Empresas, já o assisti pelo menos umas cento e cinquenta vezes. Não me canso e sempre encontro algo novo.
Chaplin é mesmo genial. E Tempos Modernos não é apenas uma crítica à sociedade industrial de seu tempo; é uma profecia que se cumpre mesmo nesses tempos pós-modernos.
Em tempo, quero aproveitar para sugerir o filme Colcha de Retalhos com Wynona Ryder. É um filme de 1995 com amplas possibilidades pedagógicas. Paralelamente à história principal, que são as histórias pessoais de várias mulheres, a protagonista anda às voltas com a produção de sua monografia - que é, afinal, uma colcha de retalhos. É muito interessante.
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