Um fenômeno literário nacional. Não há como definir melhor o livro "O Menino Maluquinho", de Ziraldo. Essa conquista (vendagem e grande popularidade) não foram obtidas sem verdadeiros méritos, pelo contrário, a obra tem um encaminhamento singular, único, num tema em que todos se julgam grandes conhecedores que é a infância. Muito já se escreveu sobre essa importante fase da vida de todas as pessoas, há vários trabalhos que tiveram grande repercussão e reconhecimento por parte da crítica ou dos leitores, no entanto, falar diretamente as crianças sobre o que significa a infância e, atingir também aos jovens e aos adultos com sucesso, é tarefa para poucos.
O respaldo obtido pelo livro junto a seus leitores deve-se muito ao fato de Ziraldo nos falar sobre o "ser criança" de uma forma alegre, descompromissada como a própria infância, partindo do ponto de vista das próprias crianças, vivenciando experiências do mundo infantil e, o melhor de tudo, sem fazer com que os personagens principais dessa trama sejam tratados de forma desrespeitosa ou infantilizados demais. A inteligência de meninos e meninas é vista como uma coisa natural, esperada e que deve ser respeitada pelos adultos.
Além disso, a representação de um universo onde são apresentados os melhores momentos da vida de uma criança (como jogar bola, colecionar figurinhas, brincar na rua com os amigos, desenhar nos cadernos escolares, ter o carinho dos pais e avós,...) não deixa de fora os dramas do universo infantil, as pequenas (porém significativas) dores e ressentimentos. Ao ler o livro, recheado de ilustrações de traço rápido e objetivo, aparentemente tão simples em sua concepção, mas, sobretudo enriquecedor e extremamente terno, acabamos nos lembrando de momentos de nossa infância. Isso talvez explique um pouco do sucesso dessa obra de Ziraldo.
Contando com um público tão fiel e cativo, a produção de um longa-metragem baseado no livro era apenas questão de tempo. As dificuldades próprias do mercado cinematográfico no Brasil acabaram adiando o projeto para a década de 1990, mas, o resultado compensou. O mais importante era não perder a essência da obra literária e, os roteiristas e o diretor conseguiram manter o espírito na transposição para as telas do autêntico maluquinho.
Contaram com um elenco que se mostrou à vontade nos papéis principais, especialmente o menino Samuel Costa como Maluquinho e os atores Roberto Bontempo e Patrícia Pillar protagonizando os pais do personagem principal e o veterano Luiz Carlos Arutincomo o avô.
As músicas também colaboraram para criar uma atmosfera das mais agradáveis, principalmente os trabalhos de Rita Lee e Milton Nascimento. As locações escolhidas para a filmagem, reproduzindo uma calma rua onde as crianças conseguiam brincar tranqüilamente após a volta da escola estão de acordo com a trama do livro, assim como as brincadeiras e travessuras que os meninos aprontam uns com os outros, além das paqueras com as meninas.
Outros importantes momentos da história se referem à escola e a casa dos avós. Uma professora caricata (Vera Holtz) e aulas aparentemente bem tradicionais marcam a vida escolar de Maluquinho e de seus colegas; por outro lado, a viagem para a casa dos avós, a mesa farta e a vida tranqüila no campo, o carinho e a atenção dispensados pelos avós em relação às crianças, as disputas travadas com os meninos que moram na cidade mais próxima e o jogo de futebol que reúne todos os amigos fazem as delícias de quem vê o filme e recorda a infância.
Infância gostosa, com sabor de quero mais, marcada por corridas de carrinhos de rolimã, brincadeiras de esconde-esconde, subidas nas árvores para pegar goiabas ou mangas, bolos de fubá ou chocolate e amizades inesquecíveis. Parece coisa de outros tempos, que não voltam mais. Hoje a criançada só quer saber de videogames, internet ou brinquedos eletrônicos. Uma boa parte do tempo é passada na frente da televisão, a babá eletrônica. Quanto à alimentação, nem se diga, substituíram-se as frutas, os bolos da vovó ou a sopa de legumes reforçada por hambúrgueres, salgadinhos e refrigerantes.
Pode-se dizer que tudo isso é apenas saudosismo e que a modernidade trouxe outras possibilidades que podem ser aproveitadas por todos, como os computadores e a transmissão de programas via satélite. Mas, que é muito triste constatar como nossas crianças tem deixado prematuramente a infância, isso é!
"O Menino Maluquinho" é um filme que pode dar base para um estudo diferenciado da história e da geografia, nos deslocando para ambientes familiares e práticas ou hábitos do cotidiano do período atual e comparando-as com o tempo de nossos pais ou avós. Peça aos alunos que façam levantamentos sobre como eram os brinquedos e as brincadeiras no passado, de que forma a cidade onde moram mudou, se existem fotos daquela época, como as crianças se vestiam, se as ruas e casas sofreram grandes transformações,...
Esse trabalho pode e deve ser feito em associação com português, literatura, filosofia e mesmo matemática. Pode-se verificar os planos e mapeamentos da cidade, os projetos das casas, textos podem ser escritos sobre essa experiência de reviver o passado comparando-o com o presente,...
Boa sorte e, mãos à obra!
Ficha Técnica
Menino Maluquinho
País/Ano de produção:- Brasil, 1995
Duração/Gênero:- 83 min., Infantil/Comédia/Aventura
Disponível em vídeo
Direção de Helvécio Ratton
Roteiro de Maria Gessy, Alcione Araújo, Helvécio Ratton e Ziraldo
Elenco:- Patrícia Pillar, Samuel Costa, Roberto Bontempo, Luiz Carlos Arutin,
Vera Holtz, Tonico Pereira e Hilda Rebello.
Link
- http://www.adorocinema.com/filmes/menino-maluquinho/menino-maluquinho.htm
Fonte: http://www.planetaeducacao.com.br/novo/artigo.asp?artigo=67
Nenhum comentário:
Postar um comentário