Não há entre os autênticos educadores um único que não tenha o interesse genuíno de fazer com que sua aula extrapole os limites dos conteúdos que estão sendo trabalhados e permita a seus estudantes uma formação plena, integral. E quando falamos nisso, destacamos que essa idéia envolve a busca não apenas do conhecimento do ponto de vista acadêmico, mas também ético e filosófico.
Queremos transformar nossas crianças e jovens em pessoas que saibam o quanto é importante valorizar a vida, estimular o progresso, perceber o mundo em que vivem, amar o conhecimento, gostar de conviver com outras pessoas (e com as diferenças), enfim, crescer em busca da harmonia, do amor e da paz.
Há, sem dúvida, como nos diz o mestre Rubem Alves, aqueles que entram em aula apenas para “dar aulas”. São competentes (ou não tão competentes) “dadores” de aulas de história, matemática, ciências ou português, entretanto não conseguem perceber que o papel dos educadores extrapola conceitos e teorias, regras gramaticais e descrições de paisagens, fatos históricos ou fórmulas matemáticas.
A educação carrega em si, de forma implícita a realização da plenitude de nossos alunos através de seu contato conosco, os professores. Isso não significa que somos exemplares e virtuosos. Somos sujeitos a falhas e imperfeições como todas as outras pessoas. O que se espera é que consigamos, através de nossa prática pedagógica, de nossa proximidade com os estudantes, de nossa capacidade de dialogar e tantas outras habilidades e competências que devemos ter, que sejamos capazes de falar ao coração, atingir a alma, perpetuando palavras, pensamentos e ações que estão além de meros conteúdos.
Muitos educadores sabem disso. São eles que estão sempre se dispondo a escutar seus alunos tanto em aula e em relação aos tópicos e temas trabalhados em suas disciplinas quanto fora de aula para ajudar a dissipar as dúvidas que surgem na estrada da vida; são esses professores que estudam sempre e constantemente buscam novas fórmulas e metodologias que tornem suas aulas ainda mais motivadoras; são esses profissionais que nunca parecem satisfeitos e que às vezes são chamados de inconformados por sua atitude de perene procura de respostas aos problemas do cotidiano da escola.
Se você está se percebendo nessas linhas e notando que suas atitudes são condizentes com aquilo que está escrito, parabéns! Você deveria receber prêmios (o maior de todos é o carinho e a consideração de nossos alunos) e reconhecimento por sua postura e conduta profissional. Sei que não é isso que você está querendo através de suas realizações, afinal de contas o nosso espírito de educadores não é tão afeito aos holofotes, a fama e a celebridade, o que realmente vale é saber que passamos a fazer parte da história de vida de nossos estudantes e que os auxiliamos a obter sucesso e alcançar a felicidade profissional e pessoal.
O filme “O Clube do Imperador” nos coloca diante de um professor que persegue esse nosso sonho de forma abnegada. Tenho certeza que só isso já é suficiente para que você se interesse em saber mais e assista ao filme... Boa diversão!
O Filme
William Hundert (Kevin Kline) é um conceituado professor de história da Antiguidade Clássica (Grécia e Roma) verdadeiramente apaixonado por seu trabalho. Além disso, Hundert é um dos baluartes da tradicional escola onde dá suas aulas. Respeitado pelo diretor e pelos alunos, todos os anos esse professor organiza uma competição cultural que se tornou clássica no colégio, o “Clube do Imperador”.
Em sua nova turma de estudantes o professor Hundert começa desde o princípio a estimular o gosto pelo estudo dos grandes acontecimentos relacionados aos generais e imperadores romanos e aos filósofos e artistas gregos. É capaz de gastar uma aula inteira se dedicando a explicitar pensamentos e campanhas militares para os jovens estudantes.
Seus novos estudantes são muito promissores o que o anima ainda mais a realizar um trabalho de qualidade. Entre eles há, inclusive, o filho de um dos vencedores de uma das edições passadas do “Clube do Imperador”. Depois de alguns dias de aula transcorridos, sua aula é interrompida para a chegada de um novo estudante, Sedgewick Bell (Emile Hirsch), arrogante e prepotente filho de um senador.
Confrontado algumas vezes pelo garoto, Hundert resolve contar com o apoio do pai do garoto para conseguir fazer com que ele se aplique mais nos estudos e valorize a educação a que está tendo acesso. De seu empenho surge a primeira grande oportunidade de valorizar Sedgewick e dar-lhe o necessário estímulo para um maior interesse na escola ao ter em suas mãos a chance de classificá-lo para as finais do “Clube do Imperador”.
Será possível aos professores através de suas atitudes modificar o futuro de seus alunos? Até que ponto o convívio diário com os professores pode influenciar o caráter e as atitudes dos estudantes? O individualismo e a busca da vitória a qualquer preço são ensinamentos que devem continuar fazendo parte das lições trabalhadas na escola? Até que ponto os professores devem continuar acreditando e investindo na recuperação de seus alunos (seja na formação ética ou na acadêmica)? Será que o idealismo muitas vezes não chega a cegar os professores em seus julgamentos e procedimentos em relação a seus estudantes?
Todas essas questões estão, de certa forma, presentes no filme “Clube do Imperador”, isso já o qualifica a ser visto por educadores e seus pupilos, pelos pais e por todas as pessoas interessadas em melhorar a educação. Assistam!
Aos Professores
1- Jamais deixem de sonhar! Mais do que isso, invistam em seus sonhos, façam com que eles se tornem realidade. Apliquem seu tempo, utilizem seus conhecimentos, pesquisem quando necessário e permitam que todo o seu esforço e experiência se transformem em projetos que revertam em favor da educação, da escola onde trabalham, da comunidade a qual servem e, principalmente de seus alunos.
2- Tendo como exemplo o filme “O Clube do Imperador”, por que não realizar concursos culturais em sua escola. Podem ser criadas competições em qualquer disciplina ou mesmo em todas, por séries ou níveis de dificuldade, agregando notas ao desempenho dos alunos em cada disciplina ou para premiar com medalhas e troféus os vencedores. O mais importante é fazer com que os alunos se interessem e queiram cada vez mais estudar.
3- Muitos professores me questionam nas palestras e workshops que realizo a respeito da formação mais ampla e integral do aluno. Costumo lhes dizer que os alunos se pautam muito em nossas atitudes e postura diante do mundo. Uma das observações mais constantes de nossos estudantes em relação a seus professores relaciona-se a coerência entre discurso e prática. Não adianta, por exemplo, o professor defender de forma veemente a democracia se suas atitudes são de intolerância e incompreensão...
4- As escolas deveriam se preocupar em documentar a passagem de seus estudantes pela escola através de fotografias como ocorre regularmente nos Estados Unidos com os Yearbooks (livros do ano). Além disso, seria muito interessante se a cada 5 ou 10 anos as escolas conseguissem reunir os alunos que se formaram e seus professores para reuniões e confraternizações em que se falasse sobre o que aconteceu com cada um depois do término de seus compromissos escolares. Seria estimulante para professores e alunos saber que seu convívio foi fundamental para o futuro de ambos...
Ficha Técnica
O Clube do Imperador
(The Emperor’s Club)
País/Ano de produção: EUA, 2002
Duração/Gênero: 109 min., Drama
Direção de Michael Hoffman
Roteiro de Ethan Canin e Neil Tolkin
Elenco: Kevin Kline, Emily Hirsch, Embeth Davidtz, Rob Morrow, Edward Herrmann,
Harris Yulin, Paul Dano, Rishi Mehta, Jesse Eisenberg, Gabriel Millman.
Links
- http://www.video21.com.br/padrao.php?page=acervos_&res=5513
- http://www.webcine.com.br/filmessi/emperclu.htm
João Luís de Almeida Machado Editor do Portal Planeta Educação; Doutorando em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).
Fonte: http://www.planetaeducacao.com.br/novo/artigo.asp?artigo=226
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