9 de nov. de 2012

Tablets e netbooks na educação

José Manuel Moran

Há uma pressão enorme para incluir as tecnologias móveis na educação. Alguns colégios e instituições superiores entregam tablets ou netbooks para os alunos como parte do material escolar. Há uma tendência à substituição dos livros de texto por conteúdos digitais dentro de tecnologias móveis. Uma justifica é diminuir de peso das mochilas dos alunos; outra, baratear do acesso ao conteúdo não impresso (além de ser ecologicamente mais correto); também é visto como importante oferecer recursos de pesquisa, de leitura e de comunicação próximos dos alunos, dos ambientes digitais que frequentam, para motivá-los mais a aprender.



Este é um campo minado de discussões, decisões, interesses. Qualquer análise ainda é parcial, provisória, precária. Mesmo assim, esta é a percepção que tenho no momento.

As tecnologias móveis trazem enormes desafios, porque descentralizam os processos de gestão do conhecimento: podemos aprender em qualquer lugar, a qualquer hora e de muitas formas diferentes. Podemos aprender sozinhos e em grupo, estando juntos fisicamente ou conectados. Na medida que entram na sala de aula o seu uso não pode ser só complementar. Podemos repensar a forma de ensinar e de aprender, colocando o professor como mediador, como organizador de processos mais abertos e colaborativos.

No Brasil, os smartphones e os tablets ainda estão numa fase de experimentação dentro das escolas. Trazem desafios complexos. São cada vez mais fáceis de usar, permitem a colaboração entre pessoas próximas e distantes, ampliam a noção de espaço escolar, integrando os alunos e professores de países, línguas e culturas diferentes. E todos, além da aprendizagem formal, têm a oportunidade de se engajar, aprender e desenvolver relações duradouras para suas vidas. Ensinar e aprender podem ser feitos de forma muito mais flexível, ativa e focada no ritmo de cada um.

A tela sensível ao toque permite uma navegação muito mais intuitiva e fácil do que com o mouse. Crianças pequenas encontram os jogos e aplicativos muito mais rapidamente. Com o barateamento progressivo a partir de agora, estarão muito mais presentes dentro e fora da sala de aula. Permitem experimentar muitas formas de pesquisa e desenvolvimento de projetos, jogos, atividades dentro e fora da sala de aula, individual e grupalmente. O professor não precisa focar sua energia em transmitir informações, mas em disponibilizá-las, gerenciar atividades significativas desenvolvidas pelos alunos, saber mediar cada etapa das atividades didáticas. Poderemos ensinar e aprender a qualquer hora, em qualquer lugar e da forma mais conveniente para cada situação. Os próximos passos na educação estarão cada vez mais interligados à mobilidade, flexibilidade e facilidade de uso que os tablets e ipods oferecem a um custo mais reduzido e com soluções mais interessantes, motivadoras e encantadoras. Não podemos esquecer que há usos dispersivos. É cada vez mais difícil concentrar-se em um único assunto ou texto, pela quantidade de solicitações que encontramos nas tecnologias móveis. Tudo está na tela, para ajudar e para complicar, ao mesmo tempo.

As tecnologias móveis desafiam as instituições a sair do ensino tradicional em que os professores são o centro, para uma aprendizagem mais participativa e integrada, com momentos presenciais e outros a distância, mantendo vínculos pessoais e afetivos, estando juntos virtualmente.

As inovações mais promissoras encontram-se em escolas que têm tecnologias móveis na sala de aula, utilizadas por professores e alunos. Os programas de um computador ou tablet por aluno, ainda em fase experimental em centenas de escolas municipais, estaduais e particulares, sinalizam mudanças muito importantes na forma de ensinar e de aprender. As aulas são mais focadas em projetos colaborativos, os alunos aprendem juntos, realizam atividades diversificadas em ritmos e tempos diferentes. O professor muda sua postura. Ele sai do centro, da lousa para circular orientando os alunos individualmente e em pequenos grupos. As aulas de 50 minutos não fazem sentido, porque dificultam a sequência de tempos para atividades de pesquisa, análise, apresentação, contextualização e síntese.

Tablets ou netbooks?

No momento atual é difícil escolher uma das duas ferramentas sem perder algo. Os tablets atraem mais, são mais intuitivos, fáceis de manusear, de ler. Aos poucos chegarão com comandos de voz, sem precisar tocar na tela para acontecer o que desejamos conseguir. Os netbooks aos poucos são mais rápidos, leves e com mais recursos. A tendência é a dos ultrabooks. Os tablets não privilegiam o ato de escrever, fundamental para aprender. Têm teclado, mas ainda não está totalmente integrado, de forma fácil para quem escreve muito. Percebo que é uma questão de pouco tempo para termos no mercado tablets que incorporem os melhores recursos dos notebooks mais poderosos. Na minha opinião não deveríamos, atualmente, optar por uma ou outra ferramenta exclusivamente, mas ter ambas disponíveis para os alunos, permitindo a escolha pessoal, de acordo com o perfil de cada um e de como vai utilizá-los mais. Os tablets e smartphones são mais avançados, inovadores e chamativos. Os notebooks procuram incorporar alguns dos avanços de ambos. É uma decisão ainda em aberto, aguardando a evolução integradora das tecnologias móveis.

Alguns aplicativos para tecnologias móveis

Os aplicativos cada vez mais se adaptam aos principais sistemas operacionais, abertos e fechados. Os aplicativos mais interessantes que conheço, principalmente para smartphones, ajudam no aprendizado de línguas. Cursos inteiros podem ser acompanhados por podcast ou vídeos, com testes adequados e ambientes de colaboração como os que acontecem em redes sociais. Gosto, por exemplo, do LearnEnglish do British Council com histórias em capítulos, jogos, desafios e integração com Facebook e Twitter. Outro semelhante é o ESLPod com histórias do cotidiano e explicações das principais expressões em ritmos diferentes. Tem aplicativos como o Stitcher que organiza os programas de rádio e podcast por temas e línguas e são extremamente variados e atualizados e podem ser acessados a qualquer hora e de qualquer lugar. Tem o Google Earth e todas as possibilidades de utilização principalmente em Geografia, o YouTube com a imensa variedade de vídeos, de canais e de facilidade de postagem de novos vídeos feitos pelos alunos. O Google Sky Map – ao apontar o smartphone para o céu e o Google Sky Map mostrará as estrelas, planetas, constelações e muito mais para ajudar a identificar os objetos celestes em vista. O aplicativo mais conhecido é o Wikipedia - da maior enciclopédia online colaborativa. Também é interessante o Celeste CE - Basta apontar a câmera e ver exatamente onde cada objeto do Sistema Solar está localizado de dia ou noite. O My Class Schedule - Aplicativo para que o estudando organize horários de estudo, notas e todas as informações do seu curso. Tem os aplicativos que utilizam a localização por GPS e que permitem  interagir com outras pessoas naquilo que se precisa, enviar fotos, trocar vídeos, desenvolver projetos juntos. A tendência é a de termos muitas mais soluções para todas as nossas necessidades. O que nunca pode faltar é a vontade e o gosto por aprender.


Conclusão

Todas as tecnologias nos ajudam e ao mesmo tempo nos complicam. Depende de como as integramos no que pretendemos. Elas podem nos ajudar a aprender e a evoluir, mas também favorecem a dispersão nas múltiplas telas, aparelhos, aplicativos, redes. Ajudam a comunicar-nos melhor, mas também a desfocar-nos, distrair-nos, tornar-nos dependentes. A educação é um processo rico e complexo de ajudar a aprender, a evoluir, a ser pessoas livres. As tecnologias fazem parte do nosso mundo, nos ajudam, mas ainda precisamos experimentar muito para encontrar caminhos de integração que nos permitam avanços significativos na escola e na vida.

Sobre o autor: José Manuel Moran, Professor de Comunicação na USP(aposentado). Diretor do Centro de Educação a Distância da Universidade Anhanguera-Uniderp e pesquisador de mudanças na educação presencial e a distância. Meu foco é tornar a escola e a universidade mais inovadoras, empreendedoras e acolhedoras, focando mais a pesquisa, a inter-aprendizagem, os valores humanos e as tecnologias digitais ; Facebook: jmmoran10 ; E-mail: moran10@gmail.com  ; blog: http://moran10.blogspot.com.br/  ; Site Oficial: http://www.eca.usp.br/prof/moran

2 comentários:

Unknown disse...

Lendo o texto do professor Moran, impossível não pensar nos tablets que o Governo federal anunciou para o ensino médio a partir de 2013 e nas sofríveis conexões com a internet existentes nas escolas!

Na escola estadual em que trabalho, quando desejamos conexão à rede sem fio, temos que andar em busca de sinal pelos corredores...

No Laboratório, onde estão os desktops, a lentidão do sinal afasta os alunos...

Sou uma entusiasta do uso das TIC integradas às práticas pedagógicas, e tento desenvolver diferentes atividades colaborativas com as alunas usando a web co o mediadora.

Enfrento o desafio do Laboratório com frequência, pois muitas alunas têm acesso à internet, apenas, na escola.

Mas as dificuldades que mencionei estão entre os motivos citados pelos professores para o não uso das TIC.

Como diz o professor Moran, "as tecnologias nos ajudam e ao mesmo tempo nos complicam".

Só que essas complicações não devem ser usadas como desculpas para não usar as TIC!!

Que, junto com os tablets e com os netbooks, venha, também, um sinal melhor, para que possamos acessar a web com tranquilidade.

Abs

jenny disse...

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