1 de ago. de 2009

E vale a pena ser professor?


João Ruivo| 2009-02-04

O novo milénio atribui aos professores funções e competências indispensáveis ao desenvolvimento da sociedade do conhecimento. O futuro tem que ser construído com os professores e as suas organizações. Nunca contra, ou apesar deles.

Claro que vale. E muito! Ser professor é a mais nobre dádiva à humanidade e o maior contributo para o progresso dos povos e das nações. E, como ninguém nasce professor, é necessário aprender-se a ser. Leva muitos anos de estudo, trabalho, sacrifício, altruísmo e até dor.

Um professor tem que aprender o que ensina, o modo de ensinar e tudo (mesmo tudo) sobre os alunos que vão ser sujeitos à sua actividade profissional. Mas não se iludam: depois de tudo isso um professor nunca está formado. Tem que aprender sempre. Um professor carrega para toda a vida o fardo de ter que ser aluno de si próprio. De se cuidar, de estar sempre atento, ter os pés bem postos no presente e os olhos bem focados no futuro.

Ser professor obriga a não ter geração. Professor tem que saber lidar com todas elas, as que o acompanham durante quatro décadas de carreira. É pai, mãe e espírito santo. E, para o Estado, ainda é um funcionário que, zelosamente, se obriga a cumprir todas as regras da coisa pública.

Por tudo isso, professor é obra permanentemente inacabada. É contentor onde cabe sempre mais alguma coisa. O professor é um intelectual, mas também é um artesão; é um teórico, mas que tem que viver na e com a prática; é um sábio, mas que tem de aprender todos os dias; é um cientista que tem que traduzir a sua experimentação para mil linguagens; é um aprendente que ensina; é um fazedor dos seres e dos saberes; mas é também um homem, ou uma mulher, como todos nós, frágil, expectante e sujeito às mais vulgares vulnerabilidades.

O professor contenta-se com pouco: alimenta a sua auto-estima com o sucesso dos outros (os que ensina), e tanto basta para que isso se revele como a fórmula mágica que traduz a medida certa da sua satisfação pessoal e profissional. Por isso é altruísta e, face ao poder, muitas vezes ingénuo e péssimo negociador.

O professor vive quase todo o tempo da sua carreira em estádios profissionais de enorme maturidade e de mestria. São estádios em que a maioria dos docentes se sentem profissionalmente muito seguros, em que trabalham com entusiasmo, com serenidade e com maturidade, e em que, num grande esforço de investimento pessoal, se auto conduzem ao impulsionar da renovação da escola e à diversificação das suas práticas lectivas.

Infelizmente, de onde devia partir o apoio, o incentivo e o reconhecimento social, temos visto aplicar medidas políticas, e expressar pensamentos, através de palavras e de obras, que menorizam os professores, que os denigrem junto da opinião pública, no que constitui o maior ataque à escola e aos professores perpetrado nas últimas três décadas do Portugal democrático.

Um ataque teimoso, persistente, vitimador e injustificado que tem levado o grande corpo da classe docente a fases profissionais negativas, de desânimo, de desencanto, de desinvestimento, de contestação, de estagnação, e de conformismo, o que pressagia a mais duradoura e a mais grave conjuntura profissional de erosão, mal-estar e de desprofissionalização.

Se não for possível colocar um fim rápido a estas políticas de agressão profissional, oxalá uma década seja suficiente para repor toda uma classe nos trilhos do envolvimento, do empenhamento e do ânimo, que pressagiem o regresso ao bem estar e à busca do desenvolvimento pessoal.

Importante, agora, será a persistência na ilusão. Os professores são uma classe única e insubstituível. A sociedade já não sabe, nem pode, viver sem eles. O Estado democrático soçobraria sem a escola. O novo milênio atribui aos professores funções e competências indispensáveis ao desenvolvimento da sociedade do conhecimento. O futuro tem que ser construído com os professores e as suas organizações. Nunca contra, ou apesar deles.

Ser professor é, portanto, tudo isto e muito mais. É uma bênção, é um forte orgulho e uma honra incompreensível. Quem é professor ama o que faz e não quer ser outra coisa. Mesmo se, conjuntural e extemporaneamente, diz o contrário. Fá-lo por raiva e revolta contra os poderes que, infamemente, o distraem da sua missão principal e, injustamente, o tentam julgar na praça pública, com cobardia e sempre com grave falta ao rigor e à verdade.

Como diria a minha colega Alen, ao longo da história mais recente a sociedade já precisou que os professores fossem heróis para que assegurassem o ensino nos momentos mais difíceis e nas condições mais adversas; já necessitou que fossem apóstolos para que aceitassem ganhar pouco; que fossem santos para que nunca faltassem, mesmo quando doentes; que se revelassem sensíveis, para que garantissem as funções assistenciais e se substituíssem à família e ao Estado; e que, simultaneamente, se mantivessem abertos e flexíveis para aceitarem todas as novas políticas e novas propostas governamentais. Mesmos as mais ilógicas e infundadas.

Porém, agora é bom que os mantenhamos lúcidos para que possam ultrapassar com sucesso este desafio, esta dura prova a que todos os dias se têm visto sujeitos e para que possam ver ficar pelo caminho as políticas e os políticos que os quiseram humilhar.

Fonte: http://www.educare.pt/educare/Opiniao.Artigo.aspx?contentid=5ADDDF5F682A0375E0400A0AB8002BC1&channelid=5ADDDF5F682A0375E0400A0AB8002BC1&schemaid=&opsel=2

4 comentários:

Elaine dos Santos disse...

Meu Deus, a despeito de tudo e de todos, vale muito a pena ser professor. Mas é preciso crer na doação, é preciso não esperar O reconhecimento, a resposta imediata. Não sei, contudo, se este momento "negativo" no magistério é fruto único e exclusivo de políticas governamentais. Aqui, no RS, desconfio que o próprio sindicato da categoria plantou uma idéia de menosprezo à classe e, agora, todo professor se acha O coitado e se esconde atrás desta condição para não melhorar, para não se renovar..sei lá, é apenas uma opinião pessoal...mas!!

Robson Freire disse...

Olá Elaine

Que bom te-la por aqui. E mesmo uma pena a profissão ser tão mal valorizada. Mas mesmo diante dos desafios e de todas as pedras que temos pelo caminho vamos construindo e renovando a profissão.

Trabalhar no que se ama é um privilegio que poucos tem, mas que eu felizmente tenho. Quando comecei a ver o uso das TIC na educação fiquei encantado com as possibilidades.

E quando eu vejo professores se "remixando" atraves das TIC eu realmente acredito que ninguem pode ou podera substituir um professor.

A visão romântica do texto é um chamariz para a reflexão e para que todos possam aqui declarar, ou professar, sua paixão.

Abraços

Robson Freire

Anônimo disse...

Oi, Robson, se me permites, vou colocar o texto de resposta do fórum do blogs educativos.

Ressalto que ele expressa minha opinião e acho que devemos ser honestos e verdadeiros, acima de tudo (e aguentar a penca de críticas, por consequência!)

Algumas considerações sobre o texto:

1- "Ser professor é a mais nobre dádiva à humanidade e o maior contributo para o progresso dos povos e das nações". Bobagem! Boa parte da sociedade, incluindo alguns de nós, já acha que o professor - na atual conjuntura - é dispensável. E vai ser difícil mudar esta imagem.

2- "É pai, mãe e espírito santo". Bobagem! Esta é a antiga representação de nossa profissão, que remonta ao ensino religioso medieval, e jesuítico no período colonial de nossa história. É uma visão ultrapassada do ser missionário como um sacerdote, e de preferência com voto de pobreza.

3- "O professor é um intelectual, mas também é um artesão; é um teórico,
mas que tem que viver na e com a prática; é um sábio, mas que tem de
aprender todos os dias; é um cientista que tem que traduzir a sua
experimentação para mil linguagens; é um aprendente que ensina; é um
fazedor dos seres e dos saberes; mas é também um homem, ou uma mulher,
como todos nós, frágil, expectante e sujeito às mais vulgares
vulnerabilidades" . Concordo plenamente! Deveríamos ganhar mais por tantas atribuições.

4- "O professor contenta-se com pouco: alimenta a sua auto-estima com o
sucesso dos outros (os que ensina), e tanto basta para que isso se
revele como a fórmula mágica que traduz a medida certa da sua
satisfação pessoal e profissional. Por isso é altruísta e, face ao
poder, muitas vezes ingénuo e péssimo negociador". Bobagem! Muitos professores são frustrados com a sua condição e, no fundo, desejam mudanças reais. Ingênuos e péssimos negociadores eu concordo, pois a maioria não consegue fazer suas reinvidicações chegarem a 1/3 do programado.

5- "Quem é professor ama o que faz e não quer ser outra coisa. Mesmo se,
conjuntural e extemporaneamente, diz o contrário. Fá-lo por raiva e
revolta contra os poderes que, infamemente, o distraem da sua missão
principal e, injustamente, o tentam julgar na praça pública, com
cobardia e sempre com grave falta ao rigor e à verdade". Bobagem! Tenho muitos colegas deixando a profissão por vários motivos. E vejo os cursos de licenciatura rebolando para cobrir as vagas, que muitas vezes são preenchidas por pessoas que nunca vão exercer a profissão.

Essa é minha opinião.

Um grande abraço,
Prof_Michel

Nayla disse...

Concordo com as ideias aqui transcritas: "...professor é obra permanentemente inacabada. É contentor onde cabe sempre mais alguma coisa. O professor é um intelectual, mas também é um artesão; é um teórico, mas que tem que viver na e com a prática; é um sábio, mas que tem de aprender todos os dias; é um cientista que tem que traduzir a sua experimentação para mil linguagens; é um aprendente que ensina; é um fazedor dos seres e dos saberes; mas é também um homem, ou uma mulher, como todos nós, frágil, expectante e sujeito às mais vulgares vulnerabilidades."
Destaco palavras-chave: incabado, aprendente e expectante.
Enfim, na minha opinião, é um ser que vai se constituindo de suas fragilidades e/ou de suas certezas, mas uma pessoa como outra qualquer que precisa ser feliz, amar e ser amado. E aí se inclui muito respeito para ser respeitado.
Um abraço,
http://nschenka.blog.uol.com.br/