Você entra no elevador e ele trava antes de chegar ao andar desejado. Durante vários minutos algumas pessoas ficam presas no elevador. Uma delas, claustrofóbica, começa a passar mal. Um dos ocupantes do elevador tem a idéia de tentar abrir a porta à força para conseguir uma brecha pela qual entre um pouco de ar fresco. Forçam os mecanismos e, depois de muito esforço, as portas se abrem. Estamos entre dois andares, devemos ou não sair?
As escadas rolantes do shopping center deixam de funcionar. A assistência técnica é convocada as pressas e se esforça ao máximo para consertar os mecanismos o mais rapidamente possível. Estranhamente nada parece estar quebrado, fora do lugar ou queimado. Os acionamentos eletrônicos são averiguados e chega-se a conclusão de que o problema pode ser algum erro na programação...
Os aparelhos de ar condicionado de um enorme prédio de escritórios no centro de uma das mais importantes cidades comerciais do mundo começam a funcionar por conta própria e, em alguns minutos praticamente congelam o prédio inteiro provocando a necessidade de uma evacuação das salas com o auxílio do corpo de bombeiros e da polícia.
O que está acontecendo? As máquinas parecem ter endoidecido e, ao invés de responderem aos comandos dos homens, estão agindo por contar própria, passando a funcionar em horários em que não são requisitadas, criando condições inóspitas ou inadequadas para o trabalho e a permanência de seres humanos numa determinada localidade, dando choques em pessoas que tentam consertar seus circuitos, mutilando técnicos que encaminham consertos...
A possibilidade de uma revolta das máquinas é um dos temas recorrentes da literatura e do cinema quando se trata de ficção científica. Não precisamos ir muito longe para lembrar do clássico “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, do genial Stanley Kubrick, de “A.I. – Inteligência Artificial”, do premiado Steven Spielberg ou ainda de “Blade Runner – O Caçador de Andróides”, do perfeccionista Ridley Scott (poderíamos ainda mencionar “O Exterminador do Futuro”, de James Cameron e “Westworld”, dirigido por Michael Crichton).
Isso para falar somente dos filmes, mas é impossível abordar tal perspectiva e assunto sem falar da literatura (de onde muitas dessas histórias contadas pelos filmes foram retiradas). Nesse aspecto vale destacar o trabalho de Phillip K. Dick (autor dos contos que inspiraram “Blade Runner” e “Inteligência Artificial”) e Issac Asimov, considerado pelos experts no assunto como um dos maiores autores e estudiosos do gênero.
“Eu, Robô” baseia-se numa história criada e contada com maestria por Asimov. Nela ficamos conhecendo as leis que regem a relação entre os homens e os robôs. Legislação essa que nos tempos atuais tem entrado em discussão a partir do exame das relações entre os homens e os computadores (e a internet). Código de leis que ainda não existem, mas que tacitamente estão inseridos na cabeça de cada um de nós quando parecemos exigir que todas as nossas máquinas funcionem dentro de conformes que estabelecemos ou ainda de exigências que criamos, mas nem sempre isso acontece, não é?
O Filme
Andar nas ruas e se deparar com robôs é a situação mais normal do mundo, pelo menos no ano de 2035. As pessoas convivem com essa situação como hoje o fazemos ao ligar nossos computadores ou ao acessarmos a internet. Não há grandes novidades, tudo parece parte do cotidiano, tudo é corriqueiro. Para todas as pessoas, menos para o detetive Del Spooner (Will Smith, à vontade no papel), que não consegue relaxar na presença desses seres cibernéticos.
Nem mesmo a existência de leis que regem a convivência entre seres humanos e robôs, que teoricamente constituem os primeiros registros instalados na memória dessas máquinas, deixa Spooner tranqüilo. E o pior é que ele parece sozinho nessa angústia, ninguém sequer sonha com a possibilidade de uma rebelião dos robôs, ou mesmo com panes nos sistemas que controlam seus cérebros eletrônicos e que ocasionem disfunções que podem causar problemas à humanidade.
Afinal de contas as regras são bem simples e, como qualquer criança consegue memorizá-las com a maior facilidade, todos passam a acreditar que os avanços tecnológicos constantes e acelerados garantem, a cada nova geração de andróides, uma maior proximidade da infalibilidade por parte desses equipamentos.
Mas será isso possível em se tratando de máquinas e sistemas criados por seres humanos, dotados de grandes habilidades e conhecimentos, mas também passíveis de erros e comportamentos instáveis? Quando ocorre um crime em que as evidências apontam para a ação de um robô, ninguém parece disposto a apoiar tal tese, mesmo que as pistas apontem nessa direção. Ninguém exceto o detetive Spooner...
Quem disse que um filme de ação não pode ser, ao mesmo tempo, inteligente e instigante? Assistam e confiram.
Obs. É evidente que a obra de Issac Asimov tem muito mais detalhes e possibilidades, por esse motivo o ideal é a leitura da mesma antes que se assista ao filme.
Aos Professores
1- O primeiro e mais importante passo a ser dado para realizar um trabalho com filmes de ficção científica é vencer as barreiras e preconceitos em relação a eles. Muito daquilo que hoje parece apenas fruto da imaginação de escritores e roteiristas provavelmente fará parte do amanhã da humanidade. E esse é o primeiro passo a ser dado ao se utilizar um filme como “Eu, Robô” com seus alunos. Inicie uma atividade em que os alunos se programem para assistir alguns clássicos da ficção científica dos anos 1950, 1960, 1970 ou 1980 e tentem verificar o que naquelas películas era apenas projeção para o futuro e o que se tornou realidade nas décadas seguintes...
2- Ler Issac Asimov é tão importante quanto ler os maiores expoentes da literatura brasileira e mundial. Pode parecer um exagero para alguns puristas que ainda restringem o estudo da literatura a Machado de Assis ou William Shakespeare, entretanto, é de fundamental importância que sejam inseridos nos programas escolares de leitura uma nova bibliografia, sintonizada com as modificações pelas quais o mundo passou, atualizada com o desenvolvimento tecnológico e propositora de uma análise das novas relações que regem o planeta. Proponha a leitura do livro “Eu, Robô” e, a partir da mesma, comparações entre o que foi lido e o que foi assistido, análises das leis da robótica, revisões da história (com a conseqüente criação de outros encaminhamentos),...
3- Que tal fazer um levantamento quanto às pesquisas que estão sendo feitas mundo afora (em especial nos maiores e mais importantes laboratórios mundiais, localizados no Japão e nos Estados Unidos) quanto ao aperfeiçoamento da robótica? Como serão os robôs com os quais poderemos estar convivendo em 2035? Será que eles realmente passarão a fazer parte do cotidiano das pessoas? Procurem informações em revistas científicas, internet, centros de pesquisa que trabalhem nessa área em nosso país,...
4- Caminhando na direção contrária de toda essa proposição tecnológica e futurista, proponha aos estudantes que descubram como era a vida antes do advento da maior parte dos equipamentos com os quais estão acostumados a viver. Dos computadores as geladeiras, da televisão aos CD players, da comida instantânea aos antibióticos, entre tantos outros recursos, estamos acostumados com muitas facilidades. Como era a vida de nossos avós e bisavós, que na maior parte dos casos jamais chegaram a pensar na existência dessa tal de internet?
Ficha Técnica
Eu, Robô
(I, Robot)
País/Ano de produção: Estados Unidos, 2004
Duração/Gênero: 115 min., Aventura/Ficção Científica
Direção de Alex Proyas
Roteiro de Akiva Goldsman e Jeff Vintar, baseado na obra de Issac Asimov
Elenco: Will Smith, Bridget Monayhan, Bruce Greenwood, Chi McBride,
Alan Tudyk, James Cromwell, Emily Tennant, Peter Chinkoda.
Links
- http://www.adorocinema.com.br/filmes/eu-robo/eu-robo.asp
-http://www.cinemaemcena.com.br/FORUM/forum_posts.asp?TID=14025
- http://cineclick.virgula.terra.com.br/criticas/index_texto.php?id_critica=8863
João Luís de Almeida Machado Editor do Portal Planeta Educação; Doutorando em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).
Fonte: http://www.planetaeducacao.com.br/novo/artigo.asp?artigo=314
Um comentário:
Oi Robson
Concordo quando ao fato de que a ficção científica deva ser um gênero a se trabalhar também na escola. Principalmente porque apresenta a possibilidade de um "despertar" para as coisas das Ciências. Seja na versão impressa ou cinematográfica.
Pensando na obra de Júlio Verne, por exemplo, quanto de conhecimento real não foi preciso para escrever uma história verossímil, com fatos e produtos que tornaram-se realidade anos e anos mais tarde?
Quanto se pode pensar o futuro (ou o passado) a partir da ficção científica?
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