Eu sou um revolucionário, faço parte da revolução digital.
Estamos mudando a forma como as pessoas se relacionam e se comunicam, destruindo monopólios e inventando maneiras de interagir.
Nós fazemos com que músicos não precisem assinar com gravadoras para ter seu trabalho divulgado, sequer precisam ir a programas de TV domingo à tarde. Bandas de incrível sucesso mundial liberam suas criações num sistema “pague o quanto quiser pelo álbum”. Centenas de milhares de músicas são armazenadas num espaço físico que antes não caberia uma única faixa de LP. Essas músicas são facilmente filtradas, classificadas, buscadas, e, o mais importante: compartilhadas com outras pessoas.
Aparelhos móveis inteligentes nos ajudam a acabar com prisões ilegais. Apresentam mapas com detalhamento que, nos anos 70, seriam considerados problema de segurança. Com um smartphone conectado à internet posso fazer mais que todos os computadores de 20 anos atrás juntos. Trocando mensagens de texto rapidamente conseguimos organizar eventos que aparentam não ter objetivo claro, mas têm: mostrar que podemos.
Propagandas em horário nobre concorrem com anúncios de texto espalhados em milhões de sites pessoais. Empresas resolvem entregar seus produtos a consumidores influentes sem exigir nada em troca, apenas pela oportunidade de criar uma experiência. Anúncios publicitários criados por nós têm mais impacto que muitos anúncios profissionais. O conteúdo que criamos mete o pé na porta dos canais de televisão, o mainstream deu lugar ao underground.
Produtos que vendem pouquíssimo passam a ter importância no faturamento de grandes lojas; a massa de itens que vende pouco pode continuar disponível para venda, alimentando um renascimento da cultura heterogênea. Conseguimos músicas, séries de TV, jogos e todo tipo de entretenimento sem pagar por isso. O próximo passo serão as viagens de avião gratuitas. Nós importamos sem ficar presos a legalidades fronteiriças, não por má fé, mas como forma de protesto. Queremos um mundo sem barreiras comerciais (as culturais nós já derrubamos).
Nós fazemos muitos hiperlinks, recriamos conteúdo já existente, misturamos animê japonês com música infantil norte-americana, colocamos contrabaixo no duo guitarra-bateria vermelho e branco, misturamos o álbum preto com o álbum branco. Recriamos nosso idioma, inventamos novos e mantemos os antigos vivos. Remixamos cultura. É como Larry Lessig disse: “Vocês nos aceitam ou nos criminalizam. Nos mostram para o mundo ou nos mandam para o underground. Vocês só não conseguem nos parar”.
Terremotos imprevistos são anunciados ao mundo no momento em que estão acontecendo. Em menos de 140 caracteres surgem amores, amizades, intrigas, piadas, eventos, histórias. As pessoas passam a se conhecer pelo que falam, levamos a amizade a uma escala global, ignorando limites traçados no solo, não há solo.
Obrigamos jornais e revistas a liberar grátis seu conteúdo, antes só acessível sob pagamento. Fizemos com que milhões de vídeos caseiros tenham valor comparável à reservas infinitas de minério. Nossos jogos movimentam mais dinheiro que o cinema.
Nós destruímos a formalização do ensino. Desprezamos títulos e valorizamos ações. Não nos reconhecemos pelos nossos PhDs, mas pela energia que agregamos à comunidade. Por nossa causa o governo fechou cybercafés próximos a escolas. Preferimos usar a internet a ficar trancados numa cela seguindo um modelo de ensino milenar. Nós aprendemos idiomas, linguagens de programação, história, ciência e qualquer coisa que nos interesse sem ajuda de instituições de ensino. Nós não precisamos de autorização para nada.
Muitas das coisas que fazemos não são inéditas, mas nós estamos agindo numa escala global. Computadores são cada vez mais baratos, em breve serão gratuitos e não haverá discriminação no acesso à informação.
Eu sou guerrilheiro nessa revolução. E você?Sobre o autor
Marco Gomes (eu@marcogomes.com) projeta produtos para internet, é designer e programador de interfaces, empreendedor profissional, diretor de tecnologia da boo-box e mantém um blog pessoal.
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