Ninguém sabe, muito menos eu, como será o mundo daqui a meros cinco anos. Porém, algumas coisas nós podemos prever para a próxima década com certa razoabilidade.
No universo da Educação, prever
acontecimentos futuros é muito importante, ainda que raramente alguém se
preocupe com isso, pois nessa área caminha-se sempre muito lentamente e algumas
mudanças ocorrem no intervalo de duas ou mais gerações (quando ocorrem!).
Coisas que para alguns gestores públicos, gestores escolares e professores soam
hoje como novidade e causam sérias dificuldades de implantação, são, na
verdade, velharias que já estão por aí há uma ou duas décadas, como os
computadores, a internet e as TDIC de forma geral.
Precisamos ter alguma ideia do
que espera por nossos alunos no futuro para que possamos começar desde já a construir
teorias e práticas que serão fundamentais daqui há uma ou duas décadas. Não
parece razoável que estejamos hoje lutando ainda para tentar salvar paradigmas
que já estão putrefatos e modelos que são sabidamente fracassados. Se tivermos
que salvar alguma coisa, então que sejam os nossos filhos e netos.
Em alguns casos não é difícil
fazer previsões. Por exemplo, é óbvio que não
retrocederemos. Somente essa “previsão” básica já deveria nos bastar para
que deixássemos de lado atitudes e medidas retrógradas que têm como propósito
apenas o retrocesso. Só para ilustrar um exemplo claro disso na seara da
Educação, reflitamos sobre a perseguição insana aos “telefones celulares”.
Ora, telefones celulares sequer
existem mais! O que se tem hoje em dia são dispositivos móveis multimidiáticos
e interconectados em rede que, além das 1001 utilidades que já possuem, e que
todos os dias são expandidas, também
servem como telefones!
Desde que o bisavô desses
aparelhos surgiu, na época com a função única de ser um telefone móvel, mês
após mês só assistimos a um desenvolvimento exponencial de funcionalidades cada
vez mais úteis. É fácil antever que daqui a cinco anos esses aparelhos terão
atingido uma funcionalidade tal que possam substituir quase todos os aparelhos
que usamos atualmente para comunicação, entretenimento, educação e negócios,
por exemplo.
Em um único aparelhinho desses já
é possível realizar tarefas que vão da leitura de um livro, a audiência de um
filme, ou da distração de um videogame até transações bancárias complexas.
Daqui a uma década esse tipo de dispositivo terá expandido suas funcionalidades
tanto para mais coisas banais, como controlar eletrodomésticos, quanto para
outras mais sofisticadas, como gerenciar seu computador, secretariar seu dia a
dia ou dirigir seu carro.
Se
você é jovem provavelmente não faz idéia de como foi
revolucionário o primeiro
telefone celular. Olhe bem o "tijolão da foto"! Faz tão pouco tempo!
Nossos alunos não deveriam
carregar mochilas imensas, cheias de livros e cadernos que cabem tranquilamente
em um smartphone ou num mini tablet. Eles não precisam mais carregar agendas,
relógios, calculadoras, dicionários ou mesmo lápis. Tudo isso já pode ser
“embutido” nos aparelhos atuais que, ainda que nos pareçam modernos, daqui a
uma década se parecerão com o velho telefone celular “do tipo tijolão”, aquele
que tínhamos a justos dez anos atrás e que só servia para informar que não
havia sinal analógico disponível na área onde estávamos. Você se lembra disso?
Já éramos modernos naquele tempo, não?
Nossos alunos não precisam de um
professor de história que saiba de cor datas e nomes de personagens históricos
e que ache o máximo da didática contemporânea copiar textos na lousa para
depois formular questões de memorização. Esse professor é absolutamente
dispensável, não serve mais. É mais barato para a sociedade distribuir aos
alunos tablets que podem transportar toda essa informação em pouco espaço e com
pronta disponibilidade (e que vai para casa com o aluno!) do que pagar um
cérebro tosco para armazenar apenas uma parte disso tudo e, ainda assim, com
pouca disponibilidade e quase nenhuma mobilidade.
O mesmo vale para os professores
de qualquer outra disciplina, com exceção justa e devida aos professores
alfabetizadores, que têm ainda a grande tarefa de levar aos pequenos as
primeiras letras. Mas, mesmo esses já podem e devem contar com recursos menos
miseráveis do que uma lousa com giz e apagador, uma apostila aleijada e
estática e um caderno amarelado que se tornará lixo no final do ano. Os
pequenos podem aprender a ler ouvindo e lendo simultaneamente as palavras, as estórias,
a voz gravada do seu próprio professor. Podem aprender a escrever com um
corretor ortográfico (e em breve um corretor caligráfico!) que lhes aponte em
tempo real onde estão errando ou acertando. Eles podem fazer coisas incríveis
com esses “brinquedinhos inteligentes” que queremos (mas não podemos) proibir
que usem.
Isso não quer dizer que não
precisaremos de professores daqui a dez ou vinte anos (talvez para sempre!),
mas sim que já podemos dispensar muitos dos que temos agora, pois nem mesmo
nesse tempo do aqui e agora eles são imprescindíveis. Isso quer dizer que o
professor do futuro terá que saber o que
ensinar, como ensinar e para quê ensinar: coisas que poucos professores
“copistas e enciclopedistas” sabem responder hoje em dia.
Tudo isso não requer apenas “inovação”
na área de Educação. Isso tudo exige uma “desconstrução” do que ainda teimamos
em chamar de Educação, mas que na verdade não passa de um grande desfavor prestado
à próxima geração. A escola precisa ser reinventada, com uma nova concepção de
currículo, novos paradigmas metodológicos, uma nova didática; uma nova
estrutura organizacional e logística que derrube suas paredes, flexibilize
horários e atividades pedagógicas, individualize o ensino e extinga dele, de uma
vez por todas, seu caráter fabril, autoritário e opressor. Isso não será o
resultado do trabalho solitário de um único, ou mesmo de vários, professores.
Isso é um trabalho conjunto de toda a sociedade.
Há muito mais para ser pensado,
criado e destruído do que nossa capacidade de compreender as mudanças em nosso
próprio entorno. Já acabou a era dos gênios solitários, das teorias de um
profeta só. Estamos na era do conhecimento construído socialmente, fruto de uma
inteligência que extrapola nossos cérebros individuais. Estamos na era da
mobilidade, das redes, da construção coletiva. E é sob essa ótica que
precisamos começar a enxergar uma nova escola.
Nossa geração é um tanto covarde,
submissa, conformista, consumista, apática e servil. Fomos educados, nesse
mesmo modelo de escola que ainda temos, para sermos assim: “bundões”. Mas, quem
sabe consigamos salvar as próximas gerações (temos que acreditar que podemos!) e,
talvez, em um futuro distante, arqueólogos descubram em nós algum valor que nós
mesmos não somos capazes de acreditar que possuímos.
Sobre o autor: José Carlos Antonio, @profjc , físico, professor, autor de material didático de Física para o Ensino Médio e cursinhos, autor de material didático de Matemática para o Ensino Fundamental, autor de material didático para formação de professores (EAD), formador do Cenpec e do Educarede, consultor de EAD e TI, trabalha com o uso pedagógico das TICs há cerca de duas décadas e participou de “n” projetos nessa área ao longo desses anos. Twitter: @profjc ; Facebook: ProfiJC ; Blog: http://professordigital.wordpress.com ; Email: profjc@gmail.com
3 comentários:
Oi Robson e JC!
Como sempre os textos do JC são excelentes. Essa visão ampla da realidade é própria de quem enxerga além do seu tempo. E como diz o JC, a nova escola precisa entrar nessa era da aprendizagem colaborativa. A escola é o reflexo da sociedade e é dessa forma que as pessoas vivem agora, em rede. Parabéns pelo texto. Não poderia ser escolhido melhor autor para abrir o projeto. Penso que o grande desafio dos educadores é conseguir fazer com que os seus educandos , em meio a tanta informação, não se perca na superficialidade e consigam refletir e construir conhecimento significativo. Um abração!
Marli, estou aguardando ansioso o seu texto. Também adoro o seu trabalho. Robson, publique logo!
Abraço!
JC, eu ainda não escrevi. Com a doença e morte de minha mãe fiquei sem palavras. Logo envio! Abraço!
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