Tradução livre: "Ok Classe, rolem a tela até a página 63"O governo de São Paulo anunciou que transformará 40% da carga horária de suas escolas em conteúdos digitais, com apoio de lousas digitais e computadores.A informação é da reportagem de Fábio Takahashi publicada na edição da última quinta-feira (05/04) da Folha de São Paulo. Reproduzimos a seguir a reportagem e deixamos a questão presente no título desta postagem para estimular o debate:Educação + Tecnologia. Que resultados podemos esperar?
40% das aulas na rede pública serão digitais
Estado de SP vai investir R$ 5,5 bi em dez anos para empresa instalar equipamentos, treinar docentes e criar conteúdos.
Presidente do sindicato dos professores diz ver com preocupação ‘invasão’ de empresa no conteúdo das aulas.
Presidente do sindicato dos professores diz ver com preocupação ‘invasão’ de empresa no conteúdo das aulas.
FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
O governo de São Paulo decidiu que uma empresa será a responsável por instalar equipamentos de tecnologia nas escolas, treinar professores para as atividades e até desenvolver conteúdos digitais para as aulas.
Segundo as regras anunciadas ontem pela gestão Geraldo Alckmin (PSDB), 40% das aulas passarão a ser dadas com esses conteúdos.
Haverá, por exemplo, vídeos de cinco minutos para a explicação de conceitos e jogos para fixação de conteúdo.
O projeto abrange todas as disciplinas dos colégios estaduais de 5º ao 9º ano dos ensinos fundamental e médio.
O investimento previsto pelo governo é de R$ 5,5 bilhões, em dez anos. O valor é cinco vezes maior do que o reservado para este ano para reformas nas escolas.
A empresa ainda será escolhida. Segundo a Secretaria da Educação, o governo vai analisar critérios técnicos.
A pasta prevê que em 2013 comece a instalação de lousas digitais (sensíveis ao toque e conectadas à internet). Depois, serão distribuídos “dispositivos móveis” (como notebooks ou tablets).
Com a utilização de conteúdos digitais, hoje escassos na rede, o governo visa melhorar seu ensino -que apresentou pouca melhora no ensino fundamental e recuo no ensino médio, segundo o Idesp (avaliação do Estado).
Os conteúdos deverão seguir o currículo da rede, disse a Secretaria da Educação.
Pesquisas nacionais e internacionais que abordaram o uso de tecnologia na educação não detectaram melhora no rendimento dos alunos.
Uma das hipóteses é a de que o conteúdo e a formação dos professores eram inadequados -por isso, o aluno se distraía com a tecnologia.
De acordo com o governo, o projeto vai melhorar o interesse dos alunos e a qualidade das aulas.
A decisão ocorre em meio a uma crise. Nos últimos meses, o governo chegou a chamar até docentes reprovados no teste de admissão.
Presidente da Apeoesp (sindicato docente), Maria Izabel Noronha diz ser favorável à incorporação da tecnologia nas escolas.
Porém, ela critica o fato de uma empresa ser responsáveis pelos conteúdos. “É uma invasão”, disse.
A presidente do sindicato também crítica a política do governo. “Não tem recursos para nossa valorização, mas tem para essa parceria privada? Parece até que querem cobrir a falta de professores com esses conteúdos.”
A Secretaria da Educação diz que terá de aprovar os conteúdos e que já há política de valorização aos docentes.
Para educadores, tecnologia deve ser usada com cautela
Pesquisador diz que o primordial é investir na formação dos professores.
Professora da Unicamp afirma que ideia é ‘privatista’ porque as empresas cuidariam do conteúdo digital na sala.
Professora da Unicamp afirma que ideia é ‘privatista’ porque as empresas cuidariam do conteúdo digital na sala.
DE SÃO PAULO
Pesquisadores consultados pela reportagem afirmaram ser favoráveis à introdução de tecnologia nas escolas estaduais. Disseram, porém, que o projeto do governo tem problemas.
“Muita gente diz que a escola mantém práticas defasadas. O projeto pode ser interessante, até porque os índices de qualidade estão ruins”, disse a professora do curso de pedagogia Angela Soligo, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Por outro lado, ela vê como problema o fato de empresas criarem conteúdos para as aulas. Ele disse que há o risco de a iniciativa privada passar suas ideias e conceitos aos estudantes. “Mesmo que sutil, é privatização de uma obrigação do Estado.”
Ela criticou também a fixação de um percentual destinado aos conteúdos digitais. “O professor deve ter liberdade. As turmas são diferentes.”
Ex-representante da Unesco (braço de educação da ONU) no Brasil, Jorge Werthein, disse que “os alunos estão familiarizados com as tecnologias, o que pode aumentar o interesse nas aulas”.
Ele destaca, porém, “que todas as pesquisas mostram que há dificuldade em converter essa política em qualidade de ensino”.
CAPACITAÇÃO
Para ele, a experiência de países com bons desempenhos mostra que o primordial é investir na formação dos professores.
“Não é rejeitar as tecnologias. Deveria haver uma interação melhor entre o que as redes de ensino querem e o que as faculdades oferecem aos seus estudantes”, afirma.
Em reposta às críticas, a Secretaria de Estado da Educação afirmou que os conteúdos digitais seguirão seu currículo e que deverão ser aprovados pela própria pasta.
Disse ainda que os professores não perdem autonomia com o projeto e que um dos seus pilares é justamente a formação de docentes.
PROPOSTA
A ideia do projeto apresentado pelo governo, chamado Aula Interativa, foi proposta pela Dell Computadores.
A companhia fez uma manifestação de interesse da iniciativa privada, mecanismo previsto na legislação das PPPs (Parcerias Público-Privadas).
Nesse dispositivo, cabe ao poder público avaliar a pertinência da proposta -que, neste caso, foi aprovada.
Agora, caberá ao Estado definir qual empresa efetivamente implementará o projeto. (FÁBIO TAKAHASHI)
Fontes:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/35382-40-das-aulas-na-rede-publica-serao-digitais.shtml (disponível para assinantes)
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/35388-para-educadores-tecnologia-deve-ser-usada-com-cautela.shtml (disponível para assinantes)
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/35382-40-das-aulas-na-rede-publica-serao-digitais.shtml (disponível para assinantes)
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/35388-para-educadores-tecnologia-deve-ser-usada-com-cautela.shtml (disponível para assinantes)
Um comentário:
Apesar da notícia parecer interessante - no caso, 40% das aulas da rede pública serão digitais - temos que ter um pezinho no bom senso e questionar algumas práticas pedagógicas.
Afinal, de nada adianta o uso de novas mídias digitais reproduzindo velhas práticas pedagógicas, como mostra o desenho de capa.
Concordo com a importância da formação de professores e acho que os conteúdos digitais não deveriam ser produzidos por empresas, mas em plataformas colaborativas e open sourc, envolvendo os próprios professores.
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