12 de abr. de 2012

Educação + Tecnologia. Que resultados podemos esperar?


Tradução livre: "Ok Classe, rolem a tela até a página 63"
O governo de São Paulo anunciou que transformará 40% da carga horária de suas escolas em conteúdos digitais, com apoio de lousas digitais e computadores.
A informação é da reportagem de Fábio Takahashi publicada na edição da última quinta-feira (05/04) da Folha de São Paulo. Reproduzimos a seguir a reportagem e deixamos a questão presente no título desta postagem para estimular o debate:Educação + Tecnologia. Que resultados podemos esperar?
 40% das aulas na rede pública serão digitais
Estado de SP vai investir R$ 5,5 bi em dez anos para empresa instalar equipamentos, treinar docentes e criar conteúdos.
Presidente do sindicato dos professores diz ver com preocupação ‘invasão’ de empresa no conteúdo das aulas.
FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
O governo de São Paulo decidiu que uma empresa será a responsável por instalar equipamentos de tecnologia nas escolas, treinar professores para as atividades e até desenvolver conteúdos digitais para as aulas.
Segundo as regras anunciadas ontem pela gestão Geraldo Alckmin (PSDB), 40% das aulas passarão a ser dadas com esses conteúdos.
Haverá, por exemplo, vídeos de cinco minutos para a explicação de conceitos e jogos para fixação de conteúdo.
O projeto abrange todas as disciplinas dos colégios estaduais de 5º ao 9º ano dos ensinos fundamental e médio.
O investimento previsto pelo governo é de R$ 5,5 bilhões, em dez anos. O valor é cinco vezes maior do que o reservado para este ano para reformas nas escolas.
A empresa ainda será escolhida. Segundo a Secretaria da Educação, o governo vai analisar critérios técnicos.
A pasta prevê que em 2013 comece a instalação de lousas digitais (sensíveis ao toque e conectadas à internet). Depois, serão distribuídos “dispositivos móveis” (como notebooks ou tablets).
Com a utilização de conteúdos digitais, hoje escassos na rede, o governo visa melhorar seu ensino -que apresentou pouca melhora no ensino fundamental e recuo no ensino médio, segundo o Idesp (avaliação do Estado).
Os conteúdos deverão seguir o currículo da rede, disse a Secretaria da Educação.
Pesquisas nacionais e internacionais que abordaram o uso de tecnologia na educação não detectaram melhora no rendimento dos alunos.
Uma das hipóteses é a de que o conteúdo e a formação dos professores eram inadequados -por isso, o aluno se distraía com a tecnologia.
De acordo com o governo, o projeto vai melhorar o interesse dos alunos e a qualidade das aulas.
A decisão ocorre em meio a uma crise. Nos últimos meses, o governo chegou a chamar até docentes reprovados no teste de admissão.
Presidente da Apeoesp (sindicato docente), Maria Izabel Noronha diz ser favorável à incorporação da tecnologia nas escolas.
Porém, ela critica o fato de uma empresa ser responsáveis pelos conteúdos. “É uma invasão”, disse.
A presidente do sindicato também crítica a política do governo. “Não tem recursos para nossa valorização, mas tem para essa parceria privada? Parece até que querem cobrir a falta de professores com esses conteúdos.”
A Secretaria da Educação diz que terá de aprovar os conteúdos e que já há política de valorização aos docentes.
 Para educadores, tecnologia deve ser usada com cautela
Pesquisador diz que o primordial é investir na formação dos professores.
Professora da Unicamp afirma que ideia é ‘privatista’ porque as empresas cuidariam do conteúdo digital na sala.
DE SÃO PAULO
Pesquisadores consultados pela reportagem afirmaram ser favoráveis à introdução de tecnologia nas escolas estaduais. Disseram, porém, que o projeto do governo tem problemas.
“Muita gente diz que a escola mantém práticas defasadas. O projeto pode ser interessante, até porque os índices de qualidade estão ruins”, disse a professora do curso de pedagogia Angela Soligo, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Por outro lado, ela vê como problema o fato de empresas criarem conteúdos para as aulas. Ele disse que há o risco de a iniciativa privada passar suas ideias e conceitos aos estudantes. “Mesmo que sutil, é privatização de uma obrigação do Estado.”
Ela criticou também a fixação de um percentual destinado aos conteúdos digitais. “O professor deve ter liberdade. As turmas são diferentes.”
Ex-representante da Unesco (braço de educação da ONU) no Brasil, Jorge Werthein, disse que “os alunos estão familiarizados com as tecnologias, o que pode aumentar o interesse nas aulas”.
Ele destaca, porém, “que todas as pesquisas mostram que há dificuldade em converter essa política em qualidade de ensino”.
CAPACITAÇÃO
Para ele, a experiência de países com bons desempenhos mostra que o primordial é investir na formação dos professores.
“Não é rejeitar as tecnologias. Deveria haver uma interação melhor entre o que as redes de ensino querem e o que as faculdades oferecem aos seus estudantes”, afirma.
Em reposta às críticas, a Secretaria de Estado da Educação afirmou que os conteúdos digitais seguirão seu currículo e que deverão ser aprovados pela própria pasta.
Disse ainda que os professores não perdem autonomia com o projeto e que um dos seus pilares é justamente a formação de docentes.
PROPOSTA
A ideia do projeto apresentado pelo governo, chamado Aula Interativa, foi proposta pela Dell Computadores.
A companhia fez uma manifestação de interesse da iniciativa privada, mecanismo previsto na legislação das PPPs (Parcerias Público-Privadas).
Nesse dispositivo, cabe ao poder público avaliar a pertinência da proposta -que, neste caso, foi aprovada.
Agora, caberá ao Estado definir qual empresa efetivamente implementará o projeto. (FÁBIO TAKAHASHI)

Um comentário:

Prof. Michel Goulart disse...

Apesar da notícia parecer interessante - no caso, 40% das aulas da rede pública serão digitais - temos que ter um pezinho no bom senso e questionar algumas práticas pedagógicas.

Afinal, de nada adianta o uso de novas mídias digitais reproduzindo velhas práticas pedagógicas, como mostra o desenho de capa.

Concordo com a importância da formação de professores e acho que os conteúdos digitais não deveriam ser produzidos por empresas, mas em plataformas colaborativas e open sourc, envolvendo os próprios professores.