Quero começar esse texto com um parágrafo interessantíssimo:
“Não seria preciso maior indagação para se chegar a este resultado: “nossos moços lêem pouco e escolhem mal as obras que lêem”. (…) E as causas de tal defeito educativo podem ser apontadas por todos, também, sem grande esforço. Procurando evitar o verbalismo, custasse o que custasse, nossas escolas primárias tocaram o extremo oposto: condenaram o livro, sem remédio, com o que deixaram de inculcar o hábito necessário da leitura. Disse escolas primárias; poderia dizer também secundárias, onde o mal é o mesmo. Isso explicará, em parte, porque os nossos estudantes lêem tão pouco (…). Mas não explicará porque o pouco que se lê seja de medíocre qualidade.”
Esse parágrafo parece ter sido extraído de alguma publicação recente, mas foi escrito por Lourenço Filho, educador e pesquisador do início do século passado, em um artigo publicado na revista Educação em 1927. Deparei-me com esse texto há alguns semestres, quando fazia uma pesquisa sobre a tendência pedagógica chamada Escola Nova, muito influente nos anos 1920 e 1930 aqui no Brasil. Lourenço Filho foi um dos introdutores do pensamento escolanovista em nosso país, mas o que me chamou a atenção neste parágrafo foi a atualidade da crítica de Lourenço Filho.
Se ainda estivesse vivo nesses nossos tempos de internet, talvez ele se admirasse não apenas com as bobagens que o brasileiro médio lê (não apenas os jovens), mas também com as bobagens que escrevem em seus blogs, orkuts e twitters. A grande maioria do conteúdo que é publicado na “blogosfera, orkutsfera e twittersfera” é de uma irrelevância acachapante. Conteúdo irrelevante do ponto de vista científico, político e artístico. De toda forma, é preferível esse mar de bobagens escritas todos os dias do que voltarmos ao monopólio da palavra que vigorava na Era Pré-Internet.
A crítica de Lourenço Filho também é atual no que diz respeito à omissão da escola no estímulo à leitura. Aliás, as nossas escolas nem conseguem alfabetizar, quem dirá estimular a leitura? É como querer estimular uma pessoa sem os membros inferiores a pedalar.
O hábito da leitura é essencial para a competência da escrita. E mais, o hábito da leitura é essencial para o desenvolvimento da capacidade de separar o que vale a pena ser lido e o que é irrelevante, superficial ou enviesado para além do aceitável.
E como o saudável hábito de ler é algo que deverá nos acompanhar pelo resto da existência de nossa espécie, as tecnologias ligadas à leitura também acabam por se reinventar de tempos em tempos com o objetivo de trazer maior conforto e praticidade ao leitor. Foi assim com os tabletes de argila que deram lugar aos rolos de papiro, que deram lugar aos livros de papel que, hoje, competem com os meios digitais.
Confesso que migrar do livro de papel para os e-books foi uma tarefa difícil. Fomos educados utilizando a tecnologia dos livros, então adotar uma nova tecnologia para a leitura sempre pede um tempo de adaptação. Ficar sentada na frente do computador para ler era muito desconfortável, sem falar naquelas telas de CRT que parecem um farol ligado em frente ao rosto. Com o advento das telas de cristal líquido, a fadiga visual diminuiu, e quando tomei vergonha e comprei um notebook, o desconforto de ter que ficar sentada em frete ao PC também desapareceu. Hoje, eu gosto de ler no computador portátil tanto quanto gosto de ler em livros. É uma delícia poder deitar no sofá ou na cama e ler e-books, artigos, colunas, posts… é tudo muito confortável, prático e praticamente de graça, pois só pago a energia e a mensalidade da internet. Mas já existem outros aparelhos que, ao contrário do computador portátil, estão sendo desenvolvidos exclusivamente para a leitura e prometem muito mais conforto e praticidade. A mais badalada dessas novas geringonças é o Kindle da Amazon, embora a Sony também tenha lançado um concorrente de peso, o Reader.
Esses leitores de livros eletrônicos são muito leves, finos e tem as altura e largura de um livro de tamanho médio ou, no máximo, de uma revista. A tecnologia de suas telas simula com perfeição a aparência de um livro de papel, graças à chamada “tinta eletrônica”. Eu ainda não tive a oportunidade de ver um desses aparelhos pessoalmente, mas quem já viu garante que é muito semelhante a um livro. As telas não emitem luz, então a maioria desses leitores digitais só pode ser utilizada em lugares bem iluminados, como se fosse um livro de verdade. Mas o Reader, da Sony, vem com um sistema de iluminação embutido (como o dos celulares) que permite ao usuário ler em ambientes com pouca luz ou mesmo no escuro. Outras funcionalidades desses aparelhinhos são as baterias de longa duração (dias sem precisar recarregar), a leitura (em voz eletrônica) dos textos, capacidade de armazenar audiobooks e até música em mp3. Você ainda pode fazer anotações nas páginas do livro eletrônico usando o teclado virtual e imprimir tudo (inclusive suas notas) através do PC.
A Amazon fez um convênio com grandes editoras, seis universidades e alguns jornais, como o The New York Times, para que o Kindle permita acesso wireless a uma infinidade de conteúdos, parte deles gratuito, parte pago, como a assinatura do jornal citado. O bom e velho PDF também é suportado, mas acessar conteúdo via internet sem fio é só para quem mora nos EUA, por enquanto.
Já a Sony, uniu-se à Google e oferece acesso a mais de cinco mil livros de domínio público, tanto pelo Reader quanto pelo computador pessoal, desde que seja instalado no PC o software da Sony que vem com o Reader.
O governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, já comunicou um plano para substituir todos os livros das escolas de ensino médio por versões digitais que serão lidas pelos alunos em notebooks, desktops e nesses leitores de livros eletrônicos. Isso representa uma economia enorme para o governo. Imaginem quanto dinheiro poderia ser economizado todos os anos, no Brasil, se todos os livros didáticos das nossas escolas públicas fossem digitalizados. E que maravilha seria se todo o acervo de livros da UFPE fosse digitalizado e os alunos não precisassem mais tirar xerox e brigar à tapa por exemplares nas bibliotecas. Cenário fantasioso? Hoje, certamente. Mas talvez não o seja em um futuro próximo.
Na minha visão, e pela minha experiência como estudante e como designer instrucional, esses leitores de livros eletrônicos precisam ainda evoluir um pouquinho para que se tornem de fato uma opção 100% melhor que os livros de papel e o notebook. Pelo menos três funcionalidades precisam ser acrescentadas:
- Telas coloridas - atualmente as telas são monocromáticas, deixando a desejar quando se quer ler uma revista ou um livro com imagens em cores.
- Suporte a PDF’s multimídia - hoje, os PDF’s suportam aplicações interativas em Adobe Flash embutidas, vídeo e até manipulação de objetos em 3D. Para quem trabalha com produção de objetos de aprendizagem (material didático multimídia) os novos PDF’s são tudo!
- Pelo menos mais duas telas retráteis - a tela única dos aparelhos só permite visualizar uma publicação de cada vez, mas quem freqüenta biblioteca sabe que não é raro ficarmos com três ou mais livros abertos ao mesmo tempo quando estudamos ou redigimos um texto. Se esses leitores eletrônicos oferecessem mais duas telas retráteis, seria possível consultar três publicações simultaneamente, facilitando o estudo.
Amanda Costa é designer instrucional e graduanda em Pedagogia pela UFPE
Fonte: postado em http://eimidia.com/blog/?p=48
5 comentários:
oi gostei do blog o meu nome e luana sou da escola barao de cerro largo gosto eu moro no RS.
adorei este bogle escola barão
de cerro largo o meu nome é plabo e do meu amigo é vitor
oi como vais o meu nome é Maria Gabriele eu sou do colegio Barao de Cerro Largo eu estou visitando o blog eu estou gostando muito mesmo ©2009 - Privacidade
Oi, Robson
Se no século passado já era difícil fazer a moçadinha ler, agora então, com as NT´s está quase que impossível. Sem querer apontar vilões, mas quando a sociedade impõe que sejamos o mais breves possível ao passar uma informação, ao impôr que tudo o que não tem atrativo visual sensual é chato e "coisa de nerd" e que na vida o que importa mesmo não são os livros e o conhecimento adquiro mas o tanto que você conseguiu arrecadar de um golpe ou de uma falcatrua política qualquer, realmente não há estímulo para convecer a aluno algum.
Propagandinhas piegas do Governo pela Valorização do Professor, podem passar a idéia de que somos muito intelectualizados e leitores assíduos - mas qual! muitos de nós não pega sério num livro desde que saiu da licenciatura.
As tecnologias que propõem melhorar a leitura, as propostas (politicagem...) de laptops nas salas de aula, com e-books e conexões wireless, muitas vezes atrapalham mais do que ajudam. Vejo pelos meus exemplos caseiros: alt a, alt c e alt v - e nada no cérebro. Os livros de papel ainda são importantes, essencialmente no aprendizado da educação básica, pois lamentavelmente, caro colega, nenhum de nossos educandos tem a menor resposabilidade na condução de seu próprio processo de aprendizagem. É tentador demais se sentar na frente de um PC, notebook ou laptop e não dar nem uma fuxicadinha no perfil do amigo no horário que está lendo ou realizando algum trabalho.
Desculpe o desabafo, colega, seu blog é excelente e dinâmico como sempre! está de parabéns!! Nesses tempos de NT´s desejaria ter por aqui de novo para nos orientar um Paulo Freire, um Piaget, um Lourenço Filho, mas acho que a bola foi passada para nós - faremos o melhor possível!!!
Abraços fraternos
Semíramis Alencar
Legal !
cessa o nosso blog!
Abrç !
www.radardagalera.tk
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