16 de Junho de 2008
Carlos José de Almeida Pereira*
Quando o assunto é software livre versus software proprietário, por vezes o debate toma o rumo das diferenças técnicas entre eles (“quem é melhor?”) ou da questão monetária (“é grátis!”). Penso que, quando a discussão toma um desses rumos, se perde o que deveria ser o foco principal: a questão da liberdade e a imensa ampliação de aquisição de conhecimentos que ela possibilita. O objetivo deste texto é refletir sobre o papel do software livre em um ambiente educacional. Nesse contexto, o mais importante são os valores fundamentais desta filosofia: liberdade de conhecimento, liberdade de uso, colaboração e compartilhamento.
O objetivo principal da universidade não é a formação de um simples profissional “apertador de botões”, que só sabe trabalhar com um software específico, produzido por uma única empresa (a rigor, isso não se chama “profissional”; isso se chama “cliente”!). O objetivo principal da universidade é, antes de tudo, a formação do cidadão crítico, consciente, capaz de pensar por si próprio; de forma complementar, busca-se a formação de um profissional completo, que realmente domine os conhecimentos da sua profissão.
Quando uma disciplina usa software proprietário como base de suas atividades, é simplesmente isso: um “uso”, uma “ferramenta”. O aluno aprende e exercita os conceitos através dessa ferramenta, e é só. Alternativamente, se a disciplina baseia suas atividades em um software livre, um novo leque de oportunidades se abre para enriquecer a experiência dos alunos: pode-se ter acesso à versão completa do software, a mesma que está sendo utilizada “pra valer” ao redor do mundo, e não a uma simples versão educacional, trial, ou, o que é pior, pirata; pode-se ter acesso a vários softwares diferentes, para estudar e comparar suas vantagens/desvantagens; pode-se ter acesso a uma quantidade enorme de material de referência, disponível gratuitamente na internet; pode-se confiar que esse material contém informações completas, já que não há segredos disponibilizados apenas pela empresa proprietária do software, em materiais de referência também proprietários e vendidos a preço de ouro. Para os mais curiosos, existe a possibilidade de estudar a própria implementação (código-fonte) do software — o que significa não apenas aprender a configurar e usar um certo recurso, mas sim a implementá-lo na prática.
Acima de tudo, há a possibilidade de colaboração, de participação direta dos alunos no desenvolvimento do software, por meio da criação de novos materiais de referência, utilizando e registrando defeitos ou até os consertando. Em resumo, isso tudo significa verdadeiro acesso ao conhecimento. Concluo, portanto, que a adoção do software livre é fundamental para se conseguir uma verdadeira ação educativa, com acesso irrestrito ao conhecimento. Nesse sentido, é necessária uma parceria entre professores e alunos com o objetivo de operacionalizar cada vez mais a adoção do software livre nas diversas disciplinas dos cursos de Ciências da Computação e até mesmo de outros cursos.
Precisamos tomar uma decisão importante: queremos virar cidadãos críticos e profissionais completos, verdadeiros “cientistas da computação”, ou nos contentaremos apenas com a função de “clientes”, meros “apertadores de botões”? A escolha é nossa!
* Professor da Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus (BA). http://starfightercarlao.blogspot.com
Fonte: http://www.arede.inf.br/index.php?option=com_content&task=view&id=1494&Itemid=465
Um comentário:
Concordo com suas colocações e acredito que o ser humano deve estar em constante busca de aperfeiçoamento.
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