10 de jul. de 2008

O que vamos ler e ver nos próximos anos

A evolução da internet vai revolucionar a produção gráfica

Ricardo Neves
www.ricardoneves.com.br.

Quando foi lançada a revista ÉPOCA, há dez anos, a internet ainda não ocupava um lugar tão importante no cotidiano das pessoas. A interconexão planetária de computadores mudou radicalmente a forma de circularmos informação e conhecimento. Isso era feito em publicações de papel, no rádio, na TV e no cinema. Agora, nos anos à frente, a grande novidade será a internet. Ela se tornará cada vez mais rápida e passará a ser acessada mais pelos celulares, que já somam mais de 3 bilhões de unidades.

Nessa nova etapa do nosso mundo digital da internet móvel, como as mídias tradicionais se transformarão?

O meio que vem sofrendo mais com a internet parecem ser os jornais. O modelo de negócio baseado em notícias fresquinhas no papel, com validade de 24 horas, requer a cada edição cotidiana uma floresta de papel e, para a distribuição, demanda uma formidável operação logística. Ele dá sinal de não ser mais sustentável num mundo em que noticiários on-line estão acessíveis a todos. A mudança explica por que os jornais definham em todo o mundo. O New York Times já não usa mais o velho slogan “todas as notícias que valem a pena imprimir”. Seus analistas de mercado sabem que o futuro será sua marca, que inspira credibilidade, e um portal na internet com as edições totalmente on-line. Os tradicionais jornais de qualidade resistem tentando ganhar tempo. Uma das táticas é chamada de “revistização”. É uma forma de tornar o jornal menos perecível, criando cadernos parecidos com revistas.

Por que eles fazem isso? Porque parece que as revistas resistem melhor à concorrência dos meios de comunicação que oferecem seus produtos em tempo real. Analistas de mercado suspeitam que as revistas deverão ter bons horizontes em termos de crescimento de mercado. As revistas mensais ou semanais, desde que tenham identidade, qualidade e um foco bem definido, continuarão sendo importantes como forma de aprofundar análises e oferecer entretenimento. Esse conteúdo, por enquanto, não parece casar com as telas dos celulares ou mesmo dos computadores.

"A idéia é produzir objetos que as pessoas tenham
vontade de guardar em casa, para reler e consultar"

Os livros têm pontos fortes, como as revistas. Por isso, espera-se que o mercado editorial deva crescer. Mas seu formato vai se adaptar à concorrência digital. Deve aumentar a demanda por produtos em que textos e figuras tenham mais permanência. A idéia é criar um objeto que as pessoas tenham vontade de guardar em casa, para consultar ou reler. O livro vai ganhar mais charme. Passará a ser visto como suvenir por excelência do conhecimento humano. Por isso, a produção gráfica deverá se tornar mais caprichada, buscando design mais arrojado. As editoras deverão explorar a oportunidade de fazer maiores volumes, com menor preço. Passarão a personalizar edições com diferentes opções de formato, acabamento gráfico, capa, textura e ilustrações.

O rádio minguou, mas aprendeu a resistir em papel coadjuvante desde que a TV apareceu. O rádio é um companheiro de momentos em que nossa atenção é compartilhada, quando estamos dirigindo ou realizando atividades manuais. Além disso, o rádio já descobriu como dar mais perenidade à parte nobre de sua programação, ao explorar a convergência com a internet. É só ver como a programação de várias emissoras ganhou uma forma de escoar muito criativa pela internet. Agora, programas interessantes de rádio ficam nos sites, prontos para ser ouvidos na hora mais conveniente. O internauta pode até colecionar ou retransmitir os programas aos amigos.

Já o cinema vai para dentro da internet. Para a casa da gente. Salas de cinema vão se tornar mais raras. As que restarem serão capazes de oferecer algo a mais. Serão como as salas dos planetários, repletas de efeitos especiais de luz e som.

E a TV, que se tornou a mais popular e influente das mídias, deve passar por transformações com a internet. Nos países onde quase todo mundo tem acesso à internet, as emissoras vêm perdendo público juvenil para o computador. Os jovens, aparentemente, não apreciam tanto a grade de programação, com comerciais. Acostumaram-se com a interatividade que vigora na internet. Agora, as transmissões da TV digital abrem a possibilidade de as emissoras se reiventarem. Podem oferecer mais conteúdo, com uma qualidade quase de cinema, sem ímpar na tela do computador. Também podem explorar uma relação interativa com o espectador. Nessa disputa saudável, ganharemos mais opções de informação, entretenimento e conhecimento.

Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/1,,EMI4907-15230,00.html

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