28 de mar. de 2008

Antes do computador, falta energia elétrica e estrutura nas escolas públicas


São Paulo – De acordo com dados do MEC, 18 mil escolas não têm luz, um sintoma dos muitos problemas a serem resolvidos antes da chegada do computador.

Por Guilherme Felitti, repórter do IDG Now!
Publicada em 03 de maio de 2007 às 07h00

Antes de pensar em colocar um computador dentro da sala de aula, o Governo Federal tem uma tarefa muito mais básica pela frente.

Segundo dados do Ministério da Educação, nada menos que 18 mil escolas brasileiras não têm luz, o que inviabiliza a instalação de máquinas mesmo se houver verba para tal.

Esse é um dos sintomas a serem combatidos pelos governos federal, estadual e municipal na jornada de levar computadores a para as cerca de 60 mil escolas públicas brasileiras que ainda não têm computadores.

Mais que isto: problemas de segurança e de logística ainda dificultam que alunos aproveitem as tecnologias, mesmo elas já estejam dentro dos colégios.

Acompanhe o caso da Escola Estadual Rômulo Pero, no bairro do Chora Menino, periferia de São Paulo. As ameaças de roubo forçam diretores de colégios a trancar laboratórios de informática, originalmente para alunos, e utilizá-los apenas para proveito próprio, conta Isaura Thomaz, diretora da escola.

Além de doar 12 computadores que compõem o laboratório de informática (o governo estadual doou mais 3) da Rômulo Pero, a Intel, que financia o projeto, custeou uma nova instalação elétrica no recinto e ofertou equipamentos de rede, que mesmo empresas de médio porte não têm.

Esta mesma falta de estrutura nos colégios teve impacto direto nos projetos desenvolvidos pela Intel no Brasil dentro do setor pedagógico, afirma Rose Salvini, gerente de educação da companhia.

Nas escolas estaduais Rômulo Pêro e Armando Gaban, em São Paulo, a empresa ofereceu capacitação para professores e doou equipamentos para a formação de laboratórios de informática.

Na segunda, a instalação de um servidor com chip de núcleo duplo fez com que a rede elétrica não suportasse o consumo de energia, o que levou a Intel a fazer um trabalho junto à prefeitura de São Paulo.

Ainda assim, o ambiente ainda não é ideal, confidencia Isaura Thomaz: por usar uma sala de aula adaptada, o laboratório sofre de problemas de ventilação, tornando aulas desconfortáveis para alunos e perigosas para o maquinário pelo calor excessivo.

Essa é a realidade da maioria dos colégios públicos brasileiros, mesmo entre aqueles que já tem um computador.
“Ganhamos PCs há dois anos apenas para computação, mas os professores ainda não foram capacitados e até agora não há internet na escola”, afirma Maria Helena Usberti, professora do ensino fundamental do colégio Adiwalde de Oliveira Coelho, em Campinas. “A intenção foi boa, mas daqui a pouco os micros estarão obsoletos e as crianças têm pouquíssimo contato”.

A insatisfação com a capacitação oferecida pelos professores também é latente no discurso de Luciana Ramalho, professora de artes da Escola Municipal Guiomar Cabral, em São Paulo.

“No ensino público, o professor precisa ser melhor orientado. Os colégios precisam se dar conta que a percepção dos alunos está a avançando a ponto de a criança ter uma espécie de controle remoto na cabeça: se ela não gostou da aula, muda o foco da atenção”.

Na esteira das reclamações feitas por professores, como Luciana e Maria Helena, a Positivo Informática, líder do mercado brasileiro de computadores, que começou sua trajetória neste mercado participando de licitações de PCs para o segmento de educação, teve que incorporar consultoria para preparar salas convencionais, que tinham problemas de estrutura, em ambientes de aprendizado.

“Na maioria dos casos, o PC é recebido na escola sem acesso à internet, sem conteúdo específico e sem preparo para professores”, afirma Elaine Guetter, diretora de operações da divisão de tecnologia educacional da Positivo.

A situação fica ainda pior nas escolas rurais, que, segundo Elaine, “têm deficiência sérias, como fatal de energia elétrica e de acesso à internet”.

Segurança
Mesmo quando há ajuda privada, existem dificuldades a serem ultrapassadas. Observe o exemplo da Intel, que testou o ClassMate, seu notebook educacional, em São Paulo.

Planejado originalmente para um colégio na região de Osasco, o teste teve que ser transferido para a Fundação Bradesco, em Osasco, organização mantida pelo banco homônimo para crianças carentes da região, por motivos de segurança.

Tanto a Intel como a OLPC realizaram testes em colégios pobres da Nigéria para observar a o comportamento das comunidades com crianças que levam um computador para casa. No Brasil, não se sabe como bairros pobres podem reagir a pequenos alunos carregando portáteis.

A Escola Estadual Rômulo Pero encontrou uma solução para evitar problemas com furto, invasões ou pichações: trazer a comunidade para conhecer o colégio e aproveitar sua limitada estrutura.

“O diretor anterior se indispunha com os alunos e não tinha contato com os pais, o que levou a seguidas invasões do colégio. Quando conscientizamos pais e comunidade, mostramos que a escola está aqui exclusivamente para servir a todos eles”, diz a diretora.

Abismo
Qual a diferença, em termos do uso de tecnologia, entre alunos de escolas públicas e privadas? Embora não revelem cifras, os educadores responsáveis pelas tecnologias educacionais em colégios como Dante Alighieri, Visconde de Porto Seguro e Bandeirantes, todas da elite paulistana, concordam que é enorme.

Os 2 mil alunos do Colégio Santa Cruz, outro da elite de São Paulo, que têm acesso a mais de 200 micros, terão melhor formação do que os 600 alunos do Rômulo Pero, que contam com apenas 15 máquinas?

“A dicotomia entre colégios ricos e pobres no Brasil é anterior à tecnologia. Não podemos achar que ela será vilã”, considera Valdenice Minatel, coordenadora de tecnologia educacional do Dante Alighieri. “Antes de não ter PC, o pior problema é a criança não entrar na escola”, emenda.

E verdade. De acordo com dados compilados pelo economista Naercio Menezes Filho, da Universidade de São Paulo, a partir de dados fornecidos pelo MEC, alunos que têm acesso a micros com internet não tiveram melhora significativa de nota em português e em matemática, se comparado aos que não usam o equipamento.

“Hoje a diferença ainda é grande mas em médio prazo todo mundo usará tecnologia”, afirma a professora Luciana Ramalho, da Escola Municipal Guiomar Cabral, citando o barateamento dos computadores e a proliferação de LAN Houses na periferia que dão acesso a adolescentes menos abastados.

“Até o ano passado, nossa escola ficava aquém em comparação às outras. A reformulação nos equiparou à média”, acredita Isaura Thomaz. “No mais, temos alunos de classe média baixa que já têm PCs em casa melhores que os do colégio”.

Não custa lembrar que, pedagogicamente, se não utilizados corretamente, computadores e notebooks ensinam bem menos que a velha combinação giz e lousa. “Se não houver capacitação, apenas teremos cadernos de luxo nas salas”, sintetiza Ramalho.

Fonte: http://idgnow.uol.com.br/mercado/2007/05/02/idgnoticia.2007-05-02.7060879957/

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