23 de out. de 2007

TV digital: especialistas falam das vantagens, e não recomendam pressa

RIO - Há poucos dias os brasileiros começaram a assistir comerciais de TV que anunciam o início oficial das transmissões de TV digital no Brasil, marcado para o dia 2 de dezembro. A ação fez aumentar o volume de telespectadores que perguntam se "tudo vai mudar agora" e se "é preciso trocar de aparelho de televisão nos próximos meses", questionamentos que geram imediatamente uma única resposta para a grande maioria da audiência de TV: por enquanto, não.

Divulgação / Imagem exibe recursos de testes com o padrão de TV digital. Percebe a diferença?

- A maioria dos telespectadores não deve se preocupar de imediato porque o sinal da TV digital só começa em São Paulo e mesmo assim, para receber este sinal será preciso adquirir um conversor (set top box), um decodificador parecido com aqueles aparelhos de TV a cabo e satélite, mas que ainda não está à venda. As emissoras serão obrigadas a operar simultaneamente o (espectro) digital e manter o analógico pelo menos até 2016 - tranqüiliza Alexandre Hashimoto, consultor de telecomunicações e coordenador do curso de Sistemas de Informação das Faculdades Integradas Rio Branco.

Trocando em miúdos: a partir de 2 dezembro apenas a cidade de São Paulo terá disponível o sinal de TV digital aberta, mas para capta-lo os consumidores que têm televisores antigos (padrão de imagem 480 linhas) ou novos (plasma e LCD) deverão adquirir um conversor (set top box) ou uma antena UHF, aparelhos cujo custo ainda não está definido mas que são esperados nas lojas de eletroeletrônicos até o fim deste ano.

Hoje, os televisores decodificam internamente o sinal que chega pela antena da TV, mas as transmissões digitais de TV aberta só serão captadas pelos televisores - novos ou antigos - com a ajuda do decodificador (mesmo os modelos HDTV, SDTV ou full HD). Um total de sete empresas - LG Electronics, Panasonic, Philips, Samsung, Semp Toshiba, Sony e Tectoy - afirmam que vão comercializar conversores e televisores integrados, mas não definiram data nem custos. Por diversas vezes este ano, o ministro das Comunicações Helio Costa afirmou que espera que estes equipamentos cheguem ao consumidor por cerca de R$ 200, mas fabricantes classificam como inviáveis modelos com preços abaixo de R$ 450.

" Preços dos conversores e níveis de interatividade da TV digital são questões ainda sem resposta "

Algumas emissoras, como a Rede Globo, SBT, Band e Record, já enviam para todos os brasileiros programas gerados com qualidade digital - como as novelas "Dance Dance Dance" (Band) e "Duas Caras" (Globo) -, mas isso é apenas produção em qualidade digital e não "TV digital". Como lembra o presidente da Associação Brasileira das Emissoras de Radio e Televisão (Abert), Daniel Slaviero, uma vez equipados com o aparelho conversor, os telespectadores serão capazes de desfrutar, de fato, da TV digital, que envolve receber na tela do televisor as informações do programa preferido, "clicar" nestes dados, "navegar" no menu da programação e personalizar a forma como este conteúdo será exibido, como já acontece com serviços de TV fechada (a cabo ou via satélite).

Além de perceber "uma qualidade de imagem até duas vezes e meia melhor do que a televisão atual" - que passa do padrão de 480 linhas em tela para 1.080 linhas - o telespectador terá ainda os benefícios da interatividade e da portabilidade, recursos que vão variar de acordo com o conteúdo oferecido por cada emissora e da disponibilidade de equipamentos eletrônicos portáteis no mercado.

- A TV digital vai permitir que o usuário receba o sinal de TV em um celular, em tevês móveis e até mesmo dentro do carro, mas é claro que primeiro teremos que ter equipamentos compatíveis com isso. E o outro principal atributo é a interatividade. Inicialmente o que teremos são informações extras sobre o programa ou a novela na tela da TV, como uma grade de programação, mais detalhes sobre aquele capítulo ou sobre o anterior, e ainda as principais notícias do dia acessíveis na tela da TV, com um clique do controle, como acontece no computador - afirmou.


Arquivo Reuters / Apesar de muito desejados, televisores de alta definição totalmente preparados para receber sinais de TV digital ainda não estão à venda (arquivo Reuters)

Cada emissora vai definir o grau de conteúdo e de interatividade com o telespectador, mas em São Paulo todas as transmissoras e retransmissoras estão preparadas, garante o presidente da Abert, que conta com mais de 320 empresas afiliadas. De acordo com o cronograma do Ministério das Comunicações e da Anatel, a partir de janeiro de 2008 emissoras das cidades do Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte podem iniciar testes com sinais de TV aberta digital, com previsão de início em definitivo até julho de 2008. Nas demais capitais, só há previsão de início das operações de TV digital em dezembro do ano que vem, sendo que o cronograma total de implantação das transmissões digitais em TV aberta no Brasil está previsto para durar 10 anos.

Para Hashimoto, o longo tempo de migração do sistema analógico para o digital, a demora na agenda de chegada às outras capitais e a indefinição sobre os custos dos aparelhos conversores são motivos suficientes para desanimar qualquer "apressadinho".

- Não recomendo que o consumidor tenha pressa. Basta perguntar: será que vale a pena correr para assistir dois ou três programas com qualidade digital e gastar R$ 300, R$ 400 em um aparelho e R$ 2 mil em um televisor novo? As principais vantagens as TVs a cabo e satélite já oferecem uma noção. Por isso não acho que haverá corrida. Melhor é ter paciência, esperar o padrão se estabelecer e serem incorporados outros recursos de TV digital, além apenas da imagem em alta definição - recomenda Hashimoto.

Em comunicado, o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Lourival Kiçula, apontou que migração para os aparelhos digitais será um processo de longo prazo e que "o grande interesse do consumidor brasileiro pelas inovações poderá acelerar esse processo".

- O aumento gradual da demanda por conversores e televisores integrados permitirá ampliar a escala de produção e reduzir os preços, assim como ocorreu com outras novas tecnologias, como telefone celular, DVDs, MP3 Players, e muitos outros produtos, que hoje são sucesso de consumo - afirmou.

Publicada em 22/10/2007 às 08h05mAgnes Dantas, O Globo Online

Fonte: http://oglobo.globo.com/tecnologia/mat/2007/10/22/315123110.asp

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