Professores com menor formação e remuneração estão despreparados para promover quem mais precisa da Educação, que é o aluno do ensino público.
Em muitos aspectos de nossa vida social e econômica, a desigualdade, mais do que um problema crônico, parece ser um programa histórico. O orçamento nacional, por exemplo, é um permanente concentrador de riquezas, pois usa recursos subtraídos de investimentos sociais para pagar a dívida pública e remunerar aplicações financeiras. A Educação vive semelhante círculo vicioso, regido pela lógica de mercado, que amplia continuamente as disparidades.
A profissão de professoras e professores, sua formação e sua condição de trabalho deveriam ser estratégicas, se quisermos romper esse ciclo de desigualdade crescente: quem tem melhor condição social obtém Educação com mais qualidade e quem recebe essa Educação boa avança socialmente.
A seleção socioeconômica no acesso às carreiras mais competitivas nas universidades públicas reflete um dos sentidos dessa desigualdade, pois escolas privadas de elite provêem melhor formação que a média das públicas. Reequilibrar essa disparidade implica aperfeiçoar as escolas e as oportunidades de acesso à cultura e para tanto é essencial dar boa formação aos educadores.
Isso, no entanto, colide com o outro sentido da desigualdade, como é fácil demonstrar.
O desprestígio e a expectativa de baixa remuneração do trabalho de professor fazem com que os cursos de Pedagogia e as licenciaturas estejam, de acordo com dados oficiais, entre os menos disputados, o que contribui para uma inversão na seleção de entrada.
“A profissão de professor é estratégica para romper o círculo de desigualdade crescente ”
Os dados também mostram que isso resulta em cursos mais fracos nas instituições privadas e em altas taxas de abandono nas públicas, reduzindo assim o número dos que recebem boa qualificação teórica e prática.
Acompanho o trabalho magnífico feito na rede pública por professoras e professores e defendo que, por sua qualificação e dedicação, eles deveriam ser contratados como tutores na formação prática de novos colegas. No entanto, nessa lógica perversa, eles não são reconhecidos nem pagos por seu empenho ou excelência, já que são “funcionários públicos como os demais”. Assim, muitos dos que têm melhor qualificação cultural e técnico-pedagógica acabam atraídos pelas escolas particulares (que já atendem a alunos de melhor condição econômica e oferecem um ensino um pouco mais qualificado). O círculo mais uma vez se fecha. Que fazer, então?
No curto prazo, é preciso reforçar propostas de aperfeiçoamento da formação docente, baseadas no apoio direto ao trabalho feito nas salas de aula e complementadas com oportunidades de mais vida cultural para alunos e professores.
As redes públicas de ensino, até por serem grandes, podem pôr em prática essas propostas com baixo custo unitário. Mas essas são ações compensatórias, que não substituem um programa que foque a formação e as condições de trabalho.
É preciso tornar a formação de professores mais atraente e eficaz, disponibilizando bolsas de estudos vinculadas ao desempenho e subsidiando centros que, associados a escolas fundamentais e médias, se disponham a formar uma vanguarda de profissionais. Ao mesmo tempo, é essencial difundir uma nova lógica de reconhecimento do trabalho docente, especialmente dos que ensinam nas condições sociais mais carentes, por meio de avaliação dos alunos no início e no fim do ano, premiando e promovendo os responsáveis pela evolução dos que mais precisam da escola.
Por Luiz Carlos de Menezes
Físico e educador da Universidade de São Paulo, acredita que aperfeiçoar e valorizar a profissão docente é uma das tarefas mais urgentes em nosso país
Email: pensenisso@abril.com.br
Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/pdf/0205/pense_nisso.pdf
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