28 de set. de 2012

O que é inovação na educação? Onde está a inovação se tudo que teorizamos tem mais de 50 anos

Cybele Meyer


Antes de falar sobre o que é inovação na educação se faz importante falar sobre o significado da palavra “inovar” que, ao contrário do que muita gente acredita, não significa utilizar recursos novos, mas sim, utilizar recursos, mesmo que habituais, de forma inovadora. Podemos também dizer que “inovar” é “renovar”, ou seja, tornar novo ou como se novo fosse.

Educação inovadora é aquela que conta com escolas inovadoras que por sua vez contam com professores inovadores gerando alunos inovadores.

Professor inovador é aquele que faz a diferença na forma como conduz sua aula. Para isso não é preciso fórmula ou muito menos recursos novos, mas criatividade, ousadia, seriedade, comprometimento e responsabilidade.

Professor inovador não é aquele que é previsível, mas sim aquele que surpreende, que é capaz de estimular interações fazendo com que seu aluno reflita e chegue ao resultado pretendido. Sabe que o raciocínio é a estrada que conduz à aprendizagem. Se em um determinado momento o aluno está ficando cansado e perdendo a concentração é a hora de surpreender. Pede então para que todos se levantem, que batam palmas e estalem os dedos, que pulem no mesmo lugar, que girem 360º e que riam muito. Na sequência retoma a ordem e a aula.

Professor inovador não fala sempre no mesmo tom entediando seu aluno, mas joga com os diferentes tons e timbres de voz para chamar a atenção do aluno enfatizando os tópicos importantes. Não fica parado na frente da sala de aula, mas anda por entre os alunos interagindo e promovendo interação. É versátil. Quanto mais versátil for melhor será a sua aula e, consequentemente, maior será a possibilidade de atingir cognitivamente seu aluno, afinal ele é o responsável por indicar os caminhos que levam ao conhecimento e ao desenvolvimento. Esta é uma relação que atua como um facilitador no processo cognitivo e na superação das dificuldades.

Professor inovador é aquele que tem entendimento de que dependendo da relação que estabelece com seu aluno pode ou não facilitar o processo de aprendizagem. Há um interagir entre professor-matéria-aluno resultando num processo cognitivo satisfatório. A harmonia existente nesse triângulo propicia a não supervalorização das partes, facilitando, então, a aprendizagem. O aluno para aprender usa a sua inteligência, e para isso precisa conhecer, refletir, resolver situações-problema e ser instigado. O professor ao se apropriar desses verbos, abre um novo canal de comunicação com seu aluno, pois falam a mesma linguagem.

Professor inovador é aquele que mantém este canal aberto para poder estimular situações de interação e de envolvimento, pois o lugar que ele ocupa não é apenas daquele do que ensina, mas também daquele que conduz ao saber

Professor inovador atenta para outro ponto importante: trata cada aluno como sendo único, como o é. Isso parece óbvio, mas não é. Vivemos em uma época de massificação, em que o “individual” não existe. Somos uma grande massa e tudo é voltado para atingir essa massa. Enfim, a individualidade está em segundo plano e o professor que se conhece a si mesmo e ao outro age diferente e faz a diferença.

Professor inovador não idealiza que seu aluno caminhe com a multidão, mas que saiba por onde está caminhando e aonde quer chegar. É preparado para a vida. É estimulado a ser inovador, a refletir e formar opinião, a ser autônomo em sua aprendizagem, enfim a ser empreendedor. Trabalha valores morais, exercício da cidadania, ética e mostra que ninguém é igual a ninguém, logo ninguém é superior ou inferior a ninguém, simplesmente é diferente.


Professor inovador forma seu aluno para que se sinta apto a construir novos paradigmas para conviver em sociedade. É por esta razão que os conteúdos transmitidos pelo professor devem estar ligados à vida do aluno, com interação e dinamismo, de forma que as pesquisas e os debates façam parte do cotidiano, propiciando uma visão holística e exercitando o ato de pensar que servirá de alavanca para se projetar e promover mudanças na comunidade em que ele está inserido.

De tudo que foi exposto acima se pode perceber que em nenhum momento foi abordada alguma ação ou recurso novo, muito pelo contrário, tudo que foi dito é passível de aplicação em qualquer escola sem o investimento de nenhum recurso que não o de um professor inovador.

Ter um professor inovador é o que faz a escola se tornar inovadora. O gestor deve propiciar um ambiente aberto à inovação desengessando conceitos e teorias vigentes por mais de 50 anos. Ao ambiente aberto está incluído, entre tantos, o uso das tecnologias digitais de informação e comunicação, porém somente ter estes aparelhos no ambiente escolar não faz com que a educação seja inovadora. Ao ter um professor inovador, com certeza, o uso destes recursos será inovador e os alunos se sentirão motivados e instigados a aprender tornando a aprendizagem um resultado eficaz e promissor.

Assim sendo é possível afirmar que a educação inovadora está ao alcance de todos nós, basta termos um novo olhar, ou seja, um olhar inovador.

Sobre a autora: Cybele Meyer – Educadora, especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional, Docência do Ensino Superior, Especialista em Tutoria e Educação Digital, Artista Plástica e Advogada. Autora dos livros “Inteligências na Prática Educativa”, “Menina Flor”, “Práticas para Lecionar” e o e-Book “O Diário de Juliana” É editora do blog Educa Já! ; Facebook: cybelemeyer ; Twitter: @cybelemeyer ; Email: cybelemeyer@yahoo.com.br

25 de set. de 2012

Tablets para todos conseguirão mudar a escola?


Muitos correm atrás de receitas milagrosas para mudar a educação. Se fossem simples, já as teríamos encontrado há muito tempo. Educar é, simultaneamente, fácil e difícil, simples e complexo. Os princípios fundamentais são sempre os mesmos: Saber acolher, motivar, mostrar valores, colocar limites, gerenciar atividades desafiadoras de aprendizagem. Só que as tecnologias móveis, que chegam às mãos de alunos e professores, trazem desafios imensos de como organizar esses processos de forma interessante, atraente e eficiente dentro e fora da sala de aula, aproveitando o melhor de cada ambiente, presencial e o digital.

Algumas questões que serão cada vez mais debatidas a partir de agora são: Por que tudo tem que acontecer dentro da sala de aula, em horários e ritmos predeterminados? Como ensinar numa sala onde os alunos acessam qualquer informação ao vivo? O que fazer nos ambientes digitais e nos presenciais? Como organizar um currículo inovador com alunos que possuem redes informais de aprendizagem e de comunicação tão interessantes?

Algumas ilusões de mudança

Há uma expectativa crescente de que agora a escola mudará rapidamente. Já vimos esse filme muitas vezes. Quando participei no começo dos noventa do projeto Escola do Futuro da USP, imaginava que a estas alturas do século XXI já teríamos escolas muito diferentes, currículos inovadores, flexibilidade em organizar os percursos de cada um. Mas constatamos que as mudanças foram, em geral, mais periféricas do que profundas.

Outra ilusão é a de que entregar tablets e netbooks para professores e alunos provocará uma grande revolução. Gostaria que fosse assim. Sem dúvida é um avanço promissor. Mas se depositarmos muita esperança nessas políticas quantitativas, poderemos frustrar-nos rapidamente. As tecnologias trazem muitas possibilidades, mas, sem ações de formação sólidas, constantes e significativas, boa parte dos professores tende, após a empolgação inicial, a um uso mais básico, conservador - repositório de informações, publicação de materiais - enquanto os alunos podem seguir utilizando-as para inúmeras formas e redes de entretenimento,como jogos, vídeos e conversas online.

Desafios que os tablets trazem

A chegada das tecnologias móveis à sala de aula traz tensões, novas possibilidades e grandes desafios. As próprias palavras “tecnologias móveis” mostram a contradição de utilizá-las em um espaço fixo como a sala de aula: elas são feitas para movimentar-se, para levá-las para qualquer lugar, utilizá-las a qualquer hora e de muitas formas.

Como conciliar mobilidade e espaços e tempos previsíveis? Por que precisamos estar sempre juntos para aprender? A escola precisa entender que uma parte cada vez maior da aprendizagem pode ser feita sem estarmos na sala de aula e sem a supervisão direta do professor. Isso assusta, mas é um processo inevitável. Em lugar de ir contra, por que não experimentamos modelos mais flexíveis? Por que obrigar os alunos a ir todos os dias repetir os mesmos rituais nos mesmos lugares? Não faz mais sentido. A organização industrial da escola em salas, turmas e horários é conveniente para todos – pais, gestores, professores, governantes – menos para os mais diretamente interessados, os alunos. Ter todos os alunos dentro de um espaço previsível todos os dias dá segurança, tranqüilidade para os adultos – os filhos estão protegidos, os pais podem se dedicar aos seus trabalhos, os professores e funcionários se organizam em horários fixos.

A escola não muda por inércia e por conveniência.

Poderíamos ensinar e aprender somente indo dois ou três dias por semana a uma escola e continuar aprendendo através das inúmeras possibilidades dos ambientes online. E o que faríamos com os filhos no restante do tempo? E como orientar todo o processo de aprendizagem a distância? Como transformar isso em horas aula no currículo? Como gerenciar –econômica e didaticamente – esses horários virtuais? Por isso a orientação no mundo permanece no sentido contrário: aumenta-se o número de horas que os alunos permanecem na escola (tempo integral) e continua-se colocando como modelo de educação o os países nórdicos, que valorizam muito mais o professor (importantíssimo) e resolvem tudo na sala de aula com poucas tecnologias (aqui está um dos desafios da mudança).

Viveremos nestes próximos anos um rico processo de aprendizagem na sala de aula focando mais a pesquisa em tempo real, as atividades individuais e grupais online, mudando lentamente as metodologias de transmissão para as da aprendizagem colaborativa e personalizada. Aos poucos perceberemos que não faz sentido confinar os alunos na sala de aula para aprender. Podemos organizar uma parte importante do currículo no ambiente digital e combiná-lo com as atividades em sala de aula de forma que o projeto pedagógico de cada curso integre o presencial e o digital como componentes curriculares indissociáveis. O digital não será um acessório complementar, mas um espaço de aprendizagem tão importante como o da sala de aula. Evitaremos a esquizofrenia atual de manter o mesmo número de aulas presenciais de sempre e ainda pedir para professores e alunos que utilizem o ambiente digital como repositório de materiais, espaço de debate e de publicação.

Com o tempo fará sentido para a maioria repensar os horários, os espaços e as formas de organizar os processos de ensino e aprendizagem. É uma questão de amadurecimento e de profundo intercâmbio de experiências para construir propostas mais arrojadas, testadas e aceitas. Demorará mais do que gostaríamos, mas a chegada das tecnologias móveis à sala de aula é como um cavalo de Tróia.

 Em curto prazo parece que pouco vai mudar; mas em médio prazo nos obrigará a reorganizar o tempo, o espaço e a forma de ensinar e aprender.

Os desafios a nossa frente são fascinantes.

Texto disponível no meu site www.eca.usp.br/prof/moran/tablet.pdf

Sobre o autor: José Manuel Moran, Professor de Comunicação na USP(aposentado). Diretor do Centro de Educação a Distância da Universidade Anhanguera-Uniderp e pesquisador de mudanças na educação presencial e a distância. Meu foco é tornar a escola e a universidade mais inovadoras, empreendedoras e acolhedoras, focando mais a pesquisa, a inter-aprendizagem, os valores humanos e as tecnologias digitais ; Facebook: jmmoran10 ; E-mail: moran10@gmail.com ; blog: http://moran10.blogspot.com.br/   ; Site Oficial: http://www.eca.usp.br/prof/moran  

21 de set. de 2012

Sistemas e Softwares para Educação Livre

Jenny Horta


O uso das novas tecnologias em Educação já se transformou em “figurinha carimbada” em todos os meios educacionais, o que é muito bom para a evolução da educação brasileira e principalmente para nossos alunos da chamada “Geração Y”, tão entediados com as práticas centenárias que encontram no dia a dia escolar.

No entanto, diante de uma caótica situação educacional no Brasil, iniciativas como o Projeto UCA , recentemente analisada pelo Prof. Nelson Pretto neste artigo ficam estagnadas após um grande marketing inicial e todo projeto importante de uso das tecnologias se resume em tímidas iniciativas de pequenas prefeituras, ONGs ou raras escolas. Porém, como nos lembra Freire (1999):

“...Ensinar exige reconhecer que a educação é ideológica . Saber igualmente fundamental à prática educativa do professor ou da professora é o que diz respeito à força, às vezes maior do que pensamos, da ideologia. E o que nos adverte de suas manhas, das armadilhas em que nos faz cair. É que a ideologia tem que ver diretamente com a ocultação da verdade dos fatos, com o uso da linguagem para penumbrar ou opacizar a realidade ao mesmo tempo em que nos torna “míopes”. ”

Ao mesmo tempo, cabe a nós, em cada sala de aula, iniciar o nosso próprio projeto de mudança a começar pelo entendimento de que usar a tecnologia não significa aceitá-la de forma acrítica e com total rendição a modismos e ausência de critérios. Preparar-se a analisar as formas de uso dos sistemas e softwares, avaliar comprometimentos e implicações econômicas e sociais de nossa prática diária na escola é essencial para contribuir para a formação integral de nossos alunos.

Qualquer educador, seja ele de instituições públicas ou privadas, possui o compromisso moral e social de analisar criticamente suas escolhas, e quaisquer que sejam estas escolhas, de compartilha-lhas com seus educandos.

A escolha de recursos educacionais abertos, que proporcionem a cooperação e o compartilhamento integral da informação e produção de conhecimento, o uso de softwares livres, de desenvolvimento aberto e colaborativo, não são apenas uma alternativa economicamente mais viável. Tais softwares, sistemas e recursos proporcionam ao educador a autonomia necessária para adequá-los as suas necessidades e de seus alunos, facilitando seu uso pedagógico de acordo com os objetivos propostos.

Não se pode, em hipótese alguma, transformar o conhecimento compartilhado em mercadoria atrelada a licenças e limitações impostas por um mercado que visa controlar o acesso ao conhecimento. Isso é tão óbvio quanto o fato de que nenhum professor aceitaria uma intervenção em sua fala em sala de aula: “- Você pode falar sobre isso, mas só até esse ponto, ok?”

Partindo da premissa que só podemos escolher o que conhecemos, divulgar e compartilhar recursos, softwares e sistemas livres entre os educadores é essencial a todos os que acreditam numa educação de qualidade e efetivamente para todos.

“Quanto mais os processos de inteligência se desenvolvem – o que pressupõe obviamente, o questionamento de diversos poderes – , melhor é a apropriação, por indivíduos e grupos, das alterações técnicas e menores são os efeitos de exclusão ou de destruição humana resultantes da aceleração do movimento tecno-social. (Levy, 1999 p.29)

Utilizar sistemas, softwares e recursos educacionais abertos, livres e colaborativos é o primeiro passo para voltarmos a “pensar com nossas próprias cabeças”, e cabeças que pensam em conjunto em torno de um ideal de cidadania, como bem nos ilustra Raquel Sosa Elízaga:

“Pensar com a própria cabeça é o começo de olhar o mundo e ter a valentia de recusar a existência de um pensamento único, da falsa religião do mercado, do comércio da morte. Pensar com um pensamento crítico deve nos levar a saber que é possível transformar nossas cabeças e nosso horizonte, confiando que as soluções que propusermos serão certamente melhores do que as que nos obrigaram a aceitar. A liberdade terá seus custos e suas consequências, mas seus caminhos se iluminam com a felicidade que sentiremos por não termos de viver à sombra de nós mesmos. Estas formosas terras e nós, os seres humanos que nelas habitamos, merecemos dar um espaço à alegria e à esperança verdadeiras.”

Alguns blogs/endereços ativos do Projeto UCA pelo Brasil:
Sobre o autor: Jenny Horta, Professora Informática Educativa pelo SENAC/PA - Graduanda em Pedagogia UNIRIO/Cederj, Twitter/Identica: @nynyhorta ; Facebook: jennyhorta ; E-mail: jennyhorta@gmail.com ; blog: http://aprendizagemdigital.wordpress.com/

18 de set. de 2012

Games e Educação: Conexões possíveis...

Eguimara Selma Branco

Quando recebi o convite do Robson Freire para escrever algo para o projeto "O Caldeirão de Ideias Convida", fiquei pensando em algo que fosse interessante a trazer.

Veio-me a mente uma experiência que recentemente vivi na escola, na semana que antecede o início das aulas do segundo semestre (algo que aqui nas escolas do PR, chamamos de Semana Pedagógica).

Uma psicopedagoga foi chamada para palestrar aos professores e falar um pouco sobre o uso de recursos tecnológicos na educação. Do meu ponto de vista, a tragédia começou quando a profissional comentou sobre a influência dos games na vida dos jovens e sobre o controle que os pais deveriam ter na escolha dos games que os filhos jogam. A profissional citou o caso de um neto que teria matado a avó, por ela ter desligado seu aparelho de vídeo game.

Não sei o que me preocupou mais, se foi o que considero senso comum por parte da profissional, ou a aceitação do fato pela maioria dos presentes.

Pensei comigo, os videogames são parte absoluta de nossa vida... Estou sempre me distraindo com um ou outro.

Mas, será que um jogo violento, pode tornar uma pessoa violenta?

Fonte: Multimeios/SEED-PR Disponível em: http://goo.gl/i2lBd.
Penso que é justo pelo desconhecimento desse recurso que muitas pessoas têm uma leitura simplista dessa relação.

Para muitos o jogo é como brincar, pois preenche o vazio e traz satisfação de prazer. A professora Lynn Alves pesquisadora na área de Games na Educação, vai além e afirma que precisamos compreender os jogos como espaços de aprendizagem que devem ser explorados principalmente nos ambientes escolares, já que possibilitam a construção de conceitos vinculados a aspectos sociais, cognitivos, afetivos e culturais.

Ou seja, os games são conteúdos que atuam na Zona de Desenvolvimento Proximal dos sujeitos, de forma lúdica, criativa, prazerosa e atrativa.

Observando os infográficos a seguir, identificamos algumas vantagens para os usuários de games:


Segundo Lynn Alves, para que um sujeito se torne violento, é preciso entrar em evidência estruturas psíquicas, pois a violência é um fenômeno extremamente complexo que envolve outras esferas. É fundamental analisar o fenômeno da violência mediante os aspectos sociais, econômicos, culturais, afetivos, etc. E nesse caso, a influência não se limita ao game, mas a outros recursos que também podem potencializar a violência, como a TV, um filme, uma música e afins.

Assim, compactuo com a pesquisadora ao defender que a violência é inata, pois, “somos todos potencialmente violentos, cabendo à cultura o papel de nos controlar” (ALVES, 2003, p.194). E nesse caso, o que se percebe é que os games “tem uma ação terapêutica, na medida em que o jogador pode extravasar as suas energias e emoções reprimidas, desviando, assim, estes sentimentos do seu semelhante. Desta forma, o sujeito libera o stress através da participação vicária” (idem).

Ao contrário do que se afirma, a violência apresentada nos games pode favorecer como um efeito terapêutico para canalizar seus medos, desejos e frustrações. Na vida dos personagens que permeiam o universo dos games, os jogadores se identificam, ora com o vencedor, ora com o perdedor das batalhas, pois vivenciam as duas situações, aprendendo a conviver com esses extremos. Assim, “a violência passa a ser considerada de forma construtiva, como motor propulsor do desenvolvimento desses indivíduos” (idem).

Fica aqui a reflexão: “Quando as pessoas aprendem a jogar games estão aprendendo um letramento novo...” (James Paul Gee, 2003).

Para saber mais:
Entrevista da Web Rádio da SEED/PR, com a pesquisadora Lynn Alves e com o professor Michel Goulart sobre:
Uso de Games na Educação - Parte 01 (http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/debaser/singlefile.php?id=23601)
Uso de Games na Educação - Parte 02
(http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/debaser/singlefile.php?id=23602)
O assunto é Games. Disponível em: http://www.alunos.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=414, acesso em 04 de agosto de 2012.
ALVES, Lynn. (2003) Game over: jogos eletrônicos e violência. Disponível em: http://www.lynn.pro.br/pdf/teseparte1.pdf, acesso em 03 de agosto de 2012.
OLIVEIRA, Ricardo. Jogos violentos geram jogadores violentos? Disponível em: http://www.insite.pro.br/2010/Maio/viiolencia_games_ricardo.pdf, acesso em 03 de agosto de 2012.

Sobre o autor: Eguimara Selma Branco, Mora em Curitiba/PR. É professora, pesquisadora, leitora, blogueira, amante de hqs e tirinhas, rock'n roll e torcedora do furacão... Licenciada em Matemática pela UNICENTRO e Mestre em Educação Matemática pela Universidade Federal do Paraná, pesquisadora na área de Educação e Educação Matemática com ênfase em Educação a Distância, Formação de Professores e Tecnologias na Educação. Atualmente trabalha na Coordenação de Multimeios da Diretoria de Tecnologias da SEED/PR.

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14 de set. de 2012

Quem salva a educação? A tecnologia! O professor! Ou os dois juntos?


Cena 1: Sala de aula sem as TICs: Sala de aula com professor em aula expositiva, alguns observam o professor, uns dormem sobre a carteira escolar, outros jogam pelo celular e um atira uma bolinha de papel sobre o colega .

Cena 2: As TICs na escola: Sala de aula com professor em aula expositiva com seu laptop, alguns observam o professor, uns dormem sobre a carteira escolar, outros jogam pelo celular e um atira uma bolinha de papel sobre o colega.

A Tecnologia chegou à escola. Mas a educação mudou?

Quando recebi o convite do Robson para escrever no espaço “Caldeirão de Ideias Convida”, pensei na oportunidade de dividir algumas questões relacionadas à formação do professor e a apropriação de tecnologias. Usarei aqui o termo Tecnologias da Informação e Comunicação ou TIC por entender que esse resume em muitos aspectos as ferramentas tecnológicas que mais são usadas na educação hoje.

Por trabalhar com educação e fazer parte dos chamados imigrantes digitais, geração que migrou das ferramentas analógicas para as digitais, eu me perguntava se um dos caminhos para salvar a educação pública seria o uso maciço das TIC na escolas. No entanto, conclusão a que cheguei foi a de que mesmo com os avanços na tecnologia e a entrada das mesmas nas escolas, essa pergunta está muito longe de ser respondida.

Alguns pesquisadores entendem que a aplicação das TIC na educação coloca a escola em sintonia com o momento histórico da sociedade, por outro lado alguns estudiosos chamam a atenção para o fato de que a chegada das TICs na escola atendem principalmente as necessidades de formação rápida de mão de obra atendendo, com isso, interesses puramente capitalistas.

Estando a serviço do capital ou do desenvolvimento natural da sociedade, não podemos negar a sua existência. O mundo está em constante mudança e, querendo ou não, tecnologias das mais variadas estão chegando à escola. Já não é possível ignorar esse fato e por isso vemos, nos sistemas de ensino, políticas públicas de difusão de TICs. Entretanto, entendemos que antes qualquer medida envolvendo a adoção de TICs na educação deve-se investir na formação do professor .

Historicamente vemos que as políticas públicas adotaram uma postura de imposição verticalizada para o uso das TICs nas escolas. Esse modelo gerou muita resistência por parte dos professores, que vistos como necessitados de formação passaram por “capacitações”, “reciclagens”, “atualizações” , entre outras tantas denominações para cursos instrucionais.

No entanto, esses processos não consideravam, como parte fundamental da inserção das tecnologias o próprio professor e seus saberes. Entendemos que na construção de um projeto democrático para e com o uso de tecnologias na escola, os saberes docentes devem ter um papel primordial. Como lembra Tardif (2002),

(...) o saber não é uma coisa que flutua no espaço: o saber dos professores é o saber deles e está relacionado com a pessoa e a identidade deles, com a sua experiência de vida e com a sua história profissional, com as suas relações com os alunos em sala de aula e com os outros atores escolares na escola, etc. Por isso é necessário estudá-lo relacionando-os com esses elementos constitutivos do trabalho docente.

Aliado ao que consideramos acima temos ainda um outro obstáculo: a chamada cultura escolar. Hábitos antigos, enraizados por anos, que centralizam o saber na figura do professor e o processo de aprendizagem reproduzindo o sistema “bancário” ou seja o aluno recebe do professor depósitos de conhecimento. As transformações por que passa o mundo, evidenciam outro paradigma para esse professor, tirando-o do centro e colocando-o em um novo “lugar”, lugar esse que será dividido com várias fontes de informação mas que, por outro lado aumentam ainda mais a importância desse profissional se considerarmos seu papel como mediador do ensino e aprendizagem.

Entender como pensa e como age o jovem hoje é parte importante da tarefa do professor.


Uma cena bem comum nas escolas são alunos usando celulares e tablets em sala de aula. Geralmente esses alunos estão jogando. Segundo Jane McGonigal, especialista à frente do Game For Change, se a humanidade gastasse 21 bilhões de horas jogando, poderia encontrar muitas soluções para diversos problemas do mundo. Para a autoral, através do jogo podemos desenvolver competências que ajudariam a transformar o mundo. As TIC tiraram do professor a “posse das informações”. Os livros e enciclopédias de papel davam conta das certezas. Já com os Blogs e as Redes Sociais, a informação está disposta 24horas por dia. A autoria aparece de maneira anárquica pela internet. A volatilidade das informações compartilhadas colocou um desafio ao professor. Como pensar em Rede? Como compartilhar ou mediar esse mundo? Uma pista foi dada pelo mestre Paulo Freire:

“A educação autêntica, repitamos não se faz de A para B, de A sobre B, mas de A com B, mediatizados pelo mundo”. (Paulo freire-Pedagogia do Oprimido).

A transformação de hábitos é, na verdade, um dos grandes desafios em todas as áreas da atividade humana, seja no mundo escolar ou no mundo do trabalho. Todos nós em um determinado momento das nossas vidas já enfrentamos algum desafio que exigiam uma transformação de hábitos. Valorizar o saber docente, a aprendizagem colaborativa em redes e colocar o professor como autor de materiais digitais são caminhos possíveis que oferecem potencialidades para entender o novo momento na educação com as tecnologias na escola.

Não sei se a tecnologia vai salvar a educação, porém o binômio professor e tecnologia é exigência para construir um modelo democrático. Acreditamos na potencialidades das TIC no sentido de romper o espaço- tempo e que a melhoria da educação pública é possível e se apresenta como capaz de tornar a nossa sociedade pautada na solidariedade humana.

Como fazer isso?

Pensando colaborativamente, considerando o saber do professor buscando conhecer melhor como pensam esses profissionais e como eles podem contribuir para construção de um modelo que dê conta das demandas do mundo atual.


Bibliografia recomendada:

Tardif, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
Freire, P. Pedagogia do oprimido, 17ª. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra,. 1987.
Velasquez,F. Vamos mudar o mundo? Como? Jogando! In: EducaçãoNota10 http://www.educacao10.syncmobile.com.br/?p=442#comments . Acessado em 25/07/2012. http://www.ted.com/speakers/jane_mcgonigal.html, Acessado em 30/072012

Sobre o autor: Francisco Velásquez, Coordenador de Novas Tecnologias Educacionais, Mestrando do NUTES-UFRJ, Professor de História da SEEDUC ,SME RJ, Educopédia e Escol@24horas.
Twitter: @professorcronus ; Facebook: FranciscoPedroVelasquez ; E-mail: franciscopedro@gmail.com

11 de set. de 2012

Autocontrole


Pedro Demo (2012)

Refiro-me ao texto de Baumeister (2011) sobre “poder da vontade” ou “força de vontade”, como “a maior força humana”, um tema pouco encontrado na literatura, porque, aparentemente, parece um pouco esotérico. Este texto, no entanto, traz resultados interessantes e surpreendentes de pesquisa, com enorme utilidade para a sala de aula, onde estamos já fartos de desmotivação dos estudantes, excessos de liberdade, agressões a colegas e professores, quase um “vale-tudo”. Estaria faltando “força de vontade” em nossos jovens (ou também em nós mesmos)? Baumeister se dispôs a discutir este desafio, usando o que haveria de mais atualizado na pesquisa, embora em termos suficientemente cautelosos para manter o tema como “discutível”, não como receita finalizada. Mesmo assim, como é uso nos Estados Unidos, o texto termina com algumas “dicas” para aprimorar o autocontrole, talvez porque o autor espere poder aumentar o tom de utilidade prática de sua discussão. O risco de “moralismo” salta aos olhos, porque autocontrole cheira a disciplinamento comportamental imposto de fora para dentro e de cima para baixo, como foi comum em outros tempos “pedagógicos” movidos pelo autoritarismo ou pelo argumento de autoridade. Hoje sabemos que a motivação mais efetiva é a automotivação, como consta enfaticamente em Pink (2009), quando discute o que chama de Homo economicus maturus (homem econômico maduro): aquele que, ao invés de seguir impulsos individualistas irrefreáveis, é capaz de os controlar, tanto para seu próprio bem, quanto para o bem comum. Pessoa adequadamente motivada só pode ser pessoa automotivada, do que segue que controle eficaz só pode ser autocontrole.

A obra de Baumeister interessou-me porque pode ser apoio pertinente para a discussão eterna e hoje candente em todo o mundo sobre “indisciplina” na escola. Não creio que vamos solucionar questão tão complexa, mas podemos iluminar cientificamente de modos promissores. Interessa-me ainda discutir até que ponto “força de vontade” seria virtude a ser cultivada em termos educacionais, se, ao final, é virtude ou adestramento (mesmo que seja autoadestramento, como é tão comum em pessoas religiosas rigidamente disciplinadas). Muitos de nós estamos inquietos com os excessos de liberdade da nova geração, incapaz de se controlar, aguardar para depois, renunciar..., um problema que poderia, ademais, estar sendo agravado pela velocidade digital: queremos tudo just in time..., na hora, imediatamente (Carr, 2010). Ao mesmo tempo, não temos qualquer gana de retornar ao autoritarismo pedagógico, também inaceitável.


I. RETORNO DO TEMA DA FORÇA DE VONTADE


Baumeister inicia seu texto, discutindo o que seria “sucesso” (a exemplo de uma família feliz, bons amigos, carreira satisfatória, saúde robusta, segurança financeira, liberdade para buscar as próprias paixões), em geral debulhado numa série de qualidades. Quando os psicólogos isolam as qualidades pessoais que predizem “resultados positivos” na vida, consistentemente encontram dois traços: inteligência a autocontrole. Vou deixar de lado aqui o possível questionamento metodológico do método de pesquisa que se imagina capaz de “isolar” tais dinâmicas, embora seja pretensão comum entre empiristas (Demo, 2011). De todos os modos, o realce para essas duas “virtudes” da inteligência e do autocontrole é notável. Baumeister anota que, enquanto os pesquisadores ainda não encontraram como permanentemente aumentar a inteligência, já descobriram ou, pelo menos, redescobriram, como aprimorar o autocontrole (2011:58).  

Quando perguntamos às pessoas quais seriam suas maiores forças, tendem a apontar para honestidade, gentileza, humor, criatividade, bravura e outras mais, até mesmo modéstia. Autocontrole dificilmente aparece. Por isso mesmo, os pesquisadores não se dedicaram mais enfaticamente a este tema, mesmo tendo já analisado mais de um milhão de pessoas pelo mundo afora. Das duas dúzias de “forças de caráter” listadas no questionário, autocontrole tendeu sempre a constar entre as últimas. Contudo – eis o paradoxo surpreendente – quando perguntadas sobre suas falhas, o falta de autocontrole sempre esteve no topo da lista. Assim, se não aparece como virtude fundamental no lado positivo, é decisiva no lado negativo. Ademais, a pesquisa sempre desvelou que a presença de desejos desencontrados nas pessoas é algo normal. “Por volta de metade do tempo, as pessoas estavam sentindo algum desejo no momento em que soavam os sinalizadores, sendo que um quarto disse ter sentido um desejo nos últimos cinco minutos[1]. Muitos dos desejos eram desejos aos quais as pessoas tentavam resistir. Os pesquisadores concluíram que as pessoas gastam cerca de um quarto de suas horas despertas resistindo a desejos – pelo menos quatro horas por dia. Posto de outro modo, se topar com quatro pessoas a cada momento do dia, uma delas estaria usando força de vontade para resistir a um desejo. E isto sequer incluía tosas as instâncias nas quais força de vontade é exercida, porque as pessoas a usam para outras coisas, também, como tomar decisões” (Baumeister, 2011:93). Esta temática do desejo sempre foi preocupação importante na vida das pessoas, em especial com respeito ao desafio da felicidade, ainda que parcimoniosamente estudada: ao contrário do que se poderia esperar, ser feliz não é ter tudo o que se pretende, mas ter o que cabe, também porque, ao final, não é questão de ter materialmente (Demo, 2001a); saber renunciar em geral é referência fundamental de pessoas felizes. Por isso mesmo, muitas propostas de felicidades implicam dominar ou domar os desejos, em especial orientais (desafio do nirvana: esvaziar a pessoas de seus desejos): vendo o descontrole dos desejos como fonte principal da infelicidade, urge colocar ordem neles, sobretudo acabar com eles. Daí surgiu a figura notável do “renunciador” (tipo de monge indiano e de outras religiões orientais) que fizeram da renúncia radical (sair da convivência comum e afastar-se para viver uma vida de extrema renúncia) (Bellah, 2011) seu lema de vida em nome da felicidade.

Temos aqui um tipo certamente insolúvel de discussão, porque ao fundo decidem pendores ideológicos e culturais arraigados e que, enfaticamente, se postam contra expectativas ocidentais de felicidade muito presas aos bens materiais e a prazeres imediatos. Para a nova geração, saber renunciar pode parecer imposição detestável, porque “não ter” lhes parece uma privação insuportável. Não percebem que a questão mais profunda é “não ser”, algo que muitas culturais perceberam e valorizaram enormemente, em especial religiões. Viver no convento/mosteiro cristão para sempre ou afastar-se do convívio comum para viver nas periferias (em mosteiros ou não), na privação material e sem sexo, dificilmente seria “ideal de vida” para o ocidental típico. No bojo da cultura consumista, a economia faz de tudo para atrair a pessoas para o consumo, garantindo que felicidade é isso, apenas isso. Moderar-se, controlar-se, renunciar soam como conselhos impróprios e de gente antiquada, de uma velha guarda que coloca disciplina acima da satisfação pessoal. Com respeito aos jovens, é comum que pais façam de tudo para satisfazer ao que os filhos querem, em parte por pieguice e à revelia do que dizem educadores (Tiba, 2007; 2007a), em parte porque se imagina que educar, hoje, implica ter os filhos com suas necessidades e desejos satisfeitos. Privá-los do que desejam pareceria uma intervenção violenta. Educadores, em geral, não seguem isso, porque apontam para os riscos de crianças que crescem sem limites: experiências educacionais que tentaram montar ambientes nos quais os estudantes fazem o que querem, sem normas e disciplinas, nunca deram certo, tendo como exemplo Summer Hill (2012). Não seria difícil mostrar o contrário: ambientes ditatoriais também são intrinsecamente deseducativos (Illich, 1971). Provavelmente, precisamos de um meio termo.  

Para Baumeister, esta volta do tema da vontade em psicologia retoma a percepção de que teorias brilhantes são baratas. Em geral espera-se por achados retumbantes de algum gênio, ainda que ter ideias brilhantes não seja desafio maior. Todo mundo tem uma teoria de algibeira para o que e como fazemos, razão pela qual facilmente se desdenha dos psicólogos com alusões como “minha avó já sabia”. “Progresso em geral não provém das teorias, mas de alguém que descobre um modo de testar a teoria, como sugeriu Mischel (Mischel & Ayduk, 2004. Mischel, 1974. Mischel et alii, 1988. Shoda et alii, 1990). Ele e seus colegas estavam teorizando sobre autorregulação – na verdade, não tinham sequer discutido seus resultados em termos de autocontrole ou força de vontade há muitos anos atrás. Estavam estudando como uma criança aprende a resistir à gratificação imediata, e descobriram um modo novo criativo de observar o processo em crianças de quatro anos. Trariam as crianças, uma de cada vez, numa sala, mostrar-lhes-iam um malvavisco (marshmallow) e oferecer-lhes-iam uma aposta antes de as deixar sozinhas na sala. As crianças poderiam comer o malvavisco sempre que quisessem, mas se renunciassem até que o experimentador voltasse, receberiam um segundo malvavisco para comerem juntos. Algumas crianças devoraram tudo logo; outras tentaram resistir, mas não aguentaram; algumas conseguiram esperar os quinze minutos inteiros para uma recompensa maior. As que tiveram sucesso, tenderam a fazer isso apelando para distrações, o que pareceu ser um achado bastante interessante ao tempo dos experimentos, nos anos 60. Muito mais tarde, porém, Mischel descobriu algo a mais, graças a um golpe de boa sorte. Suas próprias filhas frequentavam a mesma escola, no campus da universidade de Stanford, onde ocorreram os experimentos do malvavisco. Bem antes de terminar os experimentos e passar para outros assuntos, Mischel continuou a ouvir de suas filhas sobre os colegas de classe. Notou que as crianças que haviam falhado em esperar pelo malvavisco extra pareciam ter mais tropeços que as outras, tanto dentro, quanto fora da escola. Para ver se aí se poderia achar algum padrão, Mischel e seus colegas rastrearam centenas de veteranos dos experimentos. Descobriu-se que aqueles que mostraram maior força de vontade aos quatro anos foram os que continuaram em frente com melhores notas e escores de teste. As crianças que aguentaram resistir por 15 minutos inteiros acabaram obtendo escores de 210 pontos acima no SAT (exame tipo vestibular) do que aquelas que desabaram após a metade do primeiro minuto” (Baumeister, 2011:216). Realmente, Baumeister teve também sorte, ao incluir suas filhas como monitoras do experimento! Saiu barato e foi brilhante: um resultado extremamente elucidativo.

Notou-se que crianças com força de vontade cresciam tornando-se mais populares com seus pares e professores. Tendiam a ter maiores salários. Tinham também índices mais baixos de massa corporal, sinalizando ter propensão menor para ganhar peso, à medida que se chegava à meia idade. Alegavam ter menos problemas com abuso de drogas. Quer dizer, resultados estupendos, já que é enormemente difícil mensurar algo na infância que poderia ter tamanho poder de predição em nível significante. Aliás, recordando os esforços de Freud de que a infância pesava fortemente na vida adulta, o que faltou foi esse poder de predição satisfatoriamente mensurado (Wolfe & Johnson, 1995. Moffitt et alii, 2010. Tangney et alii, 2004). Revisando este tipo de literatura nos anos 90, Seligman (1993) concluiu que dificilmente haveria alguma prova de que episódios na primeira infância poderiam ter impacto causal na personalidade adulta, com exceção possível de trauma severo ou má nutrição. Mais recentemente, chega-se a reconhecer que “autodisciplina é mais efetiva para predizer desempenho acadêmico do que o QI” (Duckworth & Seligman, 2005). Baumeister, Heatherton e Tice (1994), sem meias palavras, dizem que “o fracasso da autorregulação é a maior patologia social de nosso tempo”, levando-se em conta índices crescentes de divórcio, violência doméstica, crime etc. Esta obra estimulou mais experimentos e estudos, incluindo-se o desenvolvimento de uma escala de medida de autocontrole em testes de personalidade. “Quando os pesquisadores compararam notas de estudantes com perto de trezes traços de personalidade, autocontrole acabou se tornando o único que predizia a média da nota estudantil mais que mero acaso. Autocontrole também se provou ser o melhor preditor de notas na faculdade do que o QI do estudante ou o escore no SAT. Embora inteligência crua seja obviamente uma vantagem, o estudo mostrou que o autocontrole era mais importante porque ajudava os estudantes a mostrarem-se mais confiáveis para aproveitarem as aulas, começarem seus trabalhos de casa mais cedo e gastar mais tempo trabalhando e menos tempo vendo televisão” (Baumeister, 2011:216). 



II. IMPORTÂNCIA DO AUTOCONTROLE CRESCE


“A evidência mais forte, no entanto, foi publicada em 2010. Num estudo sofrido de longo prazo, muito mais amplo e mais completo do que qualquer outro feito anteriormente, uma equipe internacional de pesquisadores rastreou mil crianças em Nova Zelândia desde o nascimento até a idade de 32 anos. O autocontrole de cada criança foi classificado numa variedade de maneiras (através de observação por pesquisadores, bem como de registros de problemas a partir dos pais, professores e de outras crianças). Isto produziu uma mensuração especialmente confiável do autocontrole das crianças e os pesquisadores foram capazes de checar contra um espectro extraordinariamente amplo de resultados através da adolescência até à idade adulta. As crianças com alto autocontrole cresceram para adultos que tinham melhor saúde física, incluindo menores índices de obesidade, menos doenças transmitidas sexualmente e mesmo dentes mais saudáveis. (Aparentemente, bom autocontrole inclui escovar os dentes e passar fio dental). Autocontrole foi irrelevante em depressão adulta, mas sua falta tornou pessoas mais propensas ao álcool e a problemas com drogas. As crianças com autocontrole fraco tendiam a desenvolver-se mais problematicamente em termos financeiros. Trabalhavam em empregos relativamente mal pagos, tinham pouco dinheiro no banco e tinham menor probabilidade de possuir uma casa ou ter poupança para a aposentadoria. Desenvolveram-se tendo também mais crianças sendo cuidadas em domicílios de um progenitor só, presumivelmente porque tinham tempo mais difícil para adaptar-se à disciplina requerida para relacionamento de longo prazo. As crianças com bom autocontrole tinham maior chance de construir um casamento estável e criar filhos numa casa de dois progenitores. Por fim (ainda que não seja a questão menos relevante), os filhos com autocontrole fraco eram mais propensos a acabar na prisão. Entre aquelas com menor nível de autocontrole, mais de 40% tinham condenação criminal aos 32 anos, comparadas como apenas 12% das pessoas que tinham estado no topo da distribuição de autocontrole em sua juventude” (Baumeister, 2011:229). É respeitável este esforço de pesquisa, tão amplo e concertado, mesclando métodos de observação e análise, mas mais interessante é a corroboração da hipótese do autocontrole como estratégia ou tecnologia fundamental para a vida futura. Os resultados são altissonantes.

Procurou-se mais corroboração em outras dimensões, com destaque para biologia animal. Procurando-se explicações para cérebros maiores, aludiu-se já a bananas e frutos ricos em calorias. Enquanto isso, animais que pastam não precisam preocupar-se com a próxima refeição: está tudo à mão (ou à boca). A bananeira que, há uma semana, tinha bananas maduras, no ponto, hoje pode estar sem nada ou com restos apenas. Um comedor de banana precisa de um cérebro maior para lembrar de onde estão frutos maduros, tendo ainda como compensação nutrir-se das devidas calorias, de sorte que a “teoria do cérebro que procura banana” fazia sentido, embora apenas em teoria. O antropólogo Dunbar (1998) não encontrou suporte, ao estudar os cérebros e dietas de animais diferentes, não havendo, para ele, correlação entre tamanho do cérebro e tipo de comida. A hipótese de Dunbar não se vincula com o ambiente físico, mas com algo ainda mais crucial para a sobrevivência: vida social. Constatou que animais com cérebros maiores tinham redes sociais mais complexas, abrindo um novo horizonte para entender o homo sapiens.  “Humanos são os primatas com os lóbulos frontais maiores porque temos os maiores grupos sociais, e é por isso aparentemente que temos a maior necessidade de autocontrole. Tendemos a pensar de força de vontade como uma força para melhoramento pessoal – assumindo uma dieta, terminando o trabalho no tempo previsto, saindo para fazer exercício, deixar de fumar – mas esta não é provavelmente a razão primária de sua evolução tão plena em nossos antepassados. Primatas são seres sociais que têm de controlar a si mesmos para conviver com o resto do grupo. Dependem uns dos outros para comida de que precisam para sobreviver. Quando a comida é compartilhada, muitas vezes é o macho maior e mais forte que tem a primeira escolha no que comer, enquanto os outros esperam sua vez conforme o status. Para que os animais sobrevivam em tal grupo sem serem maltratados, precisam restringir seu impulso de comer imediatamente. Chimpanzés e macacos não poderiam comer pacificamente, se tivessem cérebros de esquilos. Precisam gastar mais calorias em lutar do que iriam consumir na refeição” (Baumeister, 2011:253). Parece engenhosa esta elucubração. De fato, para viver em redes sociais é imprescindível renunciar em face de rivais que gostariam de ter a mesma chance ou de aproveitar-se da chance dos outros, ou mesmo pelo fato de ser viver em grupo. Entra também a habilidade de cálculo, através do qual pode-se ponderar qual seria o momento mais propício para termos as necessidades e desejos satisfeitos, implicando planejamento, renúncia, estratégia, uma elaboração já bastante sofisticada do cérebro. Não é, certamente, uma explicação suficiente, porque esta possivelmente jamais teremos.

Para humanos, um dos controles mais complicados é das emoções (Lewis et alii, 2000). Embora hoje se assuma que fazem parte da racionalidade, não sendo, pois, seu antípoda (Damásio, 1996; 1999), é habilidade enorme saber lidar com elas, retirando delas as energias vitais de que precisamos para nossa motivação. Podemos facilmente nos sentir sobrecarregados por eventos frustrantes, ou entristecidos por ocorrências desagradáveis, bem como mais felizes por boas novas; mas isto pode estar sucedendo porque o controle emocional não está funcionando como imaginaríamos. É importante analisar sentimentos, não se deixar sucumbir neles, como é importante resistir a tentações, para usar um conselho antigo de gente religiosa. No entanto, resistir a tentações pode também implicar maior atração por elas. Sabemos que o proibido é mais gostoso, desde sempre, ou desde Adão e Eva. Em termos da pesquisa, os experimentos têm demonstrado duas lições: i) temos um montante finito de força de vontade que se exaure, usando-a; ii) usa-se o mesmo estoque de força de vontade para todo tipo de tarefas (Baumeister, 2011:547). Em palavras mais populares, força de vontade cansa rápido, não se pode ser herói toda hora, ninguém é de ferro. Lidar com emoções fortes é um desafio extremo, por conta das infindas ambiguidades envolvidas, que vão desde a motivação mais radical e efetiva, até ser tragado por tais vulcões indomáveis. Força de vontade é um trunfo que precisa ser reconstruído diariamente. Não é um estoque fixo e sempre disponível, garantido.

Baumeister categoriza o uso da força de vontade em quatro categorias, começando com o controle dos pensamentos. Por vezes é uma luta perdida quando se quer, sem êxito, ignorar algo sério (esquecer algo que nos atormenta), ou quando queremos nos livrar de algo que bate no ouvido. Controlar os pensamentos não pode ser tarefa completa, porque eles vazam por entre as comportas e tapumes, mas é possível avançar nessa direção. Pode-se também aprender a focar, em especial quando a motivação é forte. Há pessoas que conservam sua força de vontade procurando, não a melhor ou a plena reposta, mas uma conclusão predeterminada. Assim procedem teólogos e crentes: filtram o mundo de modo que o mundo se adapte a princípios tidos por não negociáveis de sua fé. Os melhores marinheiros muitas vezes têm êxito, enganando-se a si mesmos; banqueiros fizeram empréstimos mobiliários ignorando regras comezinhas de empréstimo (por exemplo, não se empresta a quem não tem renda adequada) (Baumeister refere-se à bancarrota dos bancos imobiliários americanos e seus empréstimos podres); Tiger Wood (campeão mais renomado do golfe e que se envolveu com aventuras extraconjugais) se convenceu de que monogamia não era para ele e que poderia ficar incógnito e impune em seus affaires. Aprender a focar, claramente, é uma espada de dois gumes: quando o foco é obsessivo, não se vê mais nada. Uma segunda categoria é o controle das emoções, ou a regulação do afeto quando focada no humor: particularmente difícil porque, em geral, não se muda o humor por um ato de vontade. “Pode-se mudar o que se pensa ou como se comporta, mas não se pode forçar a ser feliz. Podem-se tratar seus parentes por parte da esposa polidamente, mas não pode regozijar-se com sua visita já de um mês” (Id.:581). Para precaver-se de tristeza ou raiva, usam-se estratégias indiretas como distrair-se, fazer exercícios, ou mesmo meditar, quando se usam expedientes mais inadequados como bebedeira, perder-se na noite, etc.

Uma terceira categoria é o controle do impulso, desfio mais associado com força de vontade (resistir a tentações como álcool, tabaco, chocolate, comida boa etc.). Na prática, não controlamos os impulsos, porque impulso é, por definição, algo fora de controle. Mas podemos cercar a questão com iniciativas inteligentes, por exemplo, evitando causas e ocasiões dos impulsos. Se sabemos que, indo a um bar, corremos o risco de nos embebedar, é melhor não ir. Se já sabemos que, paquerando a servente da festa, posso arranjar os maiores problemas, seria mais ajuizado não se permitir isso. Por fim, há o controle do desempenho, focando a própria energia na tarefa à mão, procurando a combinação correta de velocidade e acuidade, regulando o tempo, perseverando até ao final. Há estratégias para aprimorar esses tipos de controle, variando também nas culturas e tradições. Aquelas mais consonantes com a pesquisa científica se voltam para iniciativas que reforçam a automotivação, mais que qualquer sugestão de fora. Força de vontade precisa ser construída, e reconstruída todo dia. Cabe, então, a pergunta: se força de vontade não é só metáfora, mas, existindo algo como “força” impulsionando esta virtude, donde viria?

A resposta apareceu acidentalmente de um experimento fracassado inspirado na terça-feira do carnaval e de outros carnavais festejados na véspera da quaresma. Terça-feira do carnaval é chamada de “Mardi Gras” (Terça Gorda, em francês), o dia antes da quarta-feira de cinzas, quando as pessoas se preparam para um tempo de jejum e autossacrifício, por conta de terem vergonhosamente cedido a seus desejos. Em certos lugares é conhecida como Dia da Panqueca, que começa com cafés da manhã nos quais se podem comer todas as panquecas em igrejas. Padeiros prestigiam a ocasião produzindo fôrmas especiais, variando seus nomes de cultura a cultura, e cuja receita inclui montanhas de açúcares, ovos, farinha, manteiga e toucinho. A comilança é só o começo. “Desde Veneza, passando por Nova Orleans, até Rio de Janeiro, os farristas se movimentam em torno dos vícios mais atraentes, por vezes sob máscaras tradicionais, mas por vezes deixando tudo à mostra. É um dia em que se pode demonstrar-se na rua com adereços na cabeça e nada mais, orgulhosamente correspondendo aos aplausos de bêbados. Perder o autocontrole torna-se uma virtude. No México, homens casados recebem oficialmente um dia de liberdade de suas obrigações conjugais, dia chamado de ‘El día del marido oprimido’... Na véspera da quaresma, mesmo os paroquianos anglo-saxões mais rígidos se encontram com humor de perdão. Chamam de Terça do Perdão (Shrove Tuesday), derivado do verbo ‘shrive’, que significa ‘receber absolvição pelos pecados’” (Baumeister, 2011:612). Toda essa armação, na qual estão metidas também entidades religiosas, indica que autocontrole é uma virtude tão importante e exigente que, pelo menos alguma vez no ano, será permitido não cumprir. Sugere-se que não é realista esperar autocontrole o ano inteiro, todo dia, nem mesmo de devotos fiéis. Depois do carnaval vem a quaresma, tempo de jejum e abstinência, quando se volta ao sério de novo. Antes, porém, há alguns momentos de férias, nos quais pode valer tudo em termos de seguir os desejos sem qualquer pudor. A resposta acidental à pergunta feita acima seria, então: a “força” advém da capacidade, muitas vezes religiosa, de resistir às tentações, praticando a  renúncia.


III. FORÇAS RELIGIOSAS

Religiões são um fenômeno de rara ambiguidade, além de força histórica incomum (Bellah, 2011. Shermer, 1997; 1999). Não há grupo humano conhecido que não estruture este tipo de manifestação, e também nos tempos modernos (e pós-modernos), religiões não cessam de aparecer, sempre mostrando dupla face: de um lado, satisfazem necessidades básicas humanas que, sob a forma da religiosidade ou espiritualidade, podem alcançar expressões de rara virtude e autorrealização; de outro, são negócios escusos, máquinas de guerra, fundamentalismos exclusivistas,   povos eleitos” e outros tantos vícios segregacionistas, à sombra de Deus (ou deuses) bem urdidos para sustentarem as respectivas hierarquias. Um dos traços mais imponentes das religiões é a imposição de múltiplas formas de autocontrole, tendo sua expressão máxima nos “renunciadores” orientais ou nos monges ocidentais (cristãos), capazes de renunciar ao sexo, à riqueza e mesmo à própria vontade (obediência). Qualquer atividade religiosa aumenta a longevidade (McCullough & Willoughby, 2009. McCullough et alii, 2000), segundo visão de McCullough e colegas, compulsando mais de três dúzias de estudos que haviam perguntado às pessoas sobre suas devoções religiosas e acompanhando-as no tempo. Descobriu-se que pessoas não religiosas morriam antes e que, em qualquer ponto do tempo, uma pessoa ativamente religiosa tinha 25% a mais de chance de ficar viva. A pesquisa disponível só tem confirmado tais resultados. Algumas das pessoas com vida longa alegam que Deus estaria diretamente respondendo a suas preces, embora esta não seja hipótese válida para cientistas. Estes encontraram razões mais terrenas. De fato, pessoas religiosas tendem menos que outras a desenvolver hábitos não saudáveis, como bebedeira, sexo arriscado, drogas ilícitas, cigarro. Tendem mais a usar cintos de segurança, ir ao dentista, tomar vitaminas. Com suporte social de outros crentes, sua fé ajuda a lidar com infortúnios, sendo uma das virtudes mais eminentes o autocontrole. O estudo de McCullough & Willoughby (2009) teria mostrado: “religião promove valores familiares e harmonia social, em parte porque alguns valores ganham em importância quando se supõem vinculados à vontade de Deus ou a outros valores religiosos. Benefícios menos óbvios incluíam o achado de que religião reduz conflitos internos das pessoas entre diferentes objetivos e valores. Como anotamos antes, objetivos em conflito impedem a autorregulação; assim, a religião reduz tais problemas oferecendo aos crentes prioridades mais claras” (Baumeister, 2011:2614). 

Esta argumentação ilustra o valor de uma vida sem vícios, sem entrar no mérito se o autocontrole implicado poderia ser justificado sem mais. Viver a vida toda trancado no convento, sob a fé de estar seguindo o exemplo de Cristo que também assim viveu – em total renúncia – pode ser visto como projeto estranho de vida, em especial para denominações religiosas que seguem a teologia da prosperidade, não do despojamento, como foi a vida de Cristo relatada no Novo Testamento. Mas é conhecido que pessoas religiosas com este nível de renúncia possuem grande chance de vida longa, em grande parte porque não praticam vícios arriscados ou diretamente danosos, sem falar num estilo de vida tranquilo, sem maior estresse. A religião afeta dois mecanismos centrais para autocontrole: construir força de vontade e aprimorar o monitoramento. Desde o início dos anos 20, pesquisadores já notaram que estudantes investindo maior tempo na escola dominical apresentavam escores mais elevados em testes de laboratório de autodisciplina. Crianças com devoção religiosa mais visível mostram impulsividade relativamente menor frente aos pais e professores. A pesquisa não saberia (ainda) responder se orar/rezar aprimora o autocontrole, mas tais rituais acabam colaborando na construção da força de vontade como todo exercício de ascese, incluindo-se sentar de modo adequado e falar com precisão. Também exercícios de meditação envolvem esforço de autorregulação e atenção, como no caso conhecido da meditação zen, que começa contando a respiração até dez e depois de novo e de novo. A mente facilmente vagabundeia, mas na meditação é forçada a concentrar-se disciplinadamente. Efeito similar poderia ser rezar o rosário, cantar salmos hebreus, repetir mantras dos hindus. “Quando os neurocientistas observam as pessoas rezando ou meditando, veem atividade incisiva em duas partes do cérebro que também são importantes para a autorregulação e controle da atenção. Psicólogos veem um efeito quando expõem pessoas a palavras religiosas subliminarmente, significando que palavras são lançadas numa tela tão rapidamente que as pessoas não se conscientizam do que viram. Pessoas expostas subliminarmente a palavras religiosas como Deus ou Bíblia se tornam mais vagarosas em reconhecer palavras associadas com tentações como drogas ou sexo pré-marital” (Id.:2615). Observa McCullough que, na pesquisa, se tem a impressão de que as pessoas associam religião com o poder de dominar tentações, sugerindo que rituais de oração e meditação são um tipo de execução anaeróbica para autocontrole (Baumeister, 2011:2627).

Religião contribui para o autocontrole, entre outras coias, organizando o dia e o tempo em geral, em torno de rituais que o devoto assume, obrigando-o a se disciplinar. Algumas religiões, como o islã, exigem orações em determinados momentos do dia, outras prescrevem tempo de jejum, como o Yom Kippur dos judeus, o mês do Ramadan islâmico, os quarenta dias da quaresma dos católicos. Por vezes há regras para comer que mandam suprimir certas iguarias ou prescrevem o vegetarianismo. Tendo Deus como presença constante, os religiosos se monitoram porque se sentem monitorados. Este controle é só aumentado pelo controle de outros religiosos à volta. O sacramento da confissão entre católicos, implicando contar para o padre seus pecados, se quiser perdão, é uma tática de monitoramento muito forte, invasiva. Baumeister afasta a alegação de que este autocontrole é resultado apenas do medo de Deus, porque é preciso levar em conta todo o universo circundante de valores religiosos fortemente autodisciplinadores. As denominações pentecostais atuais (religiões ditas evangélicas recentes) vangloriam-se, entre outras coias, de arrumarem a vida das pessoas em todos os sentidos: refazem casamentos, reaproximam famílias, consertam a vida de negócios, disciplinam valores e atitudes, em especial afastam vícios (drogas, álcool, desregramento), além de, exigindo o dízimo de cada um, montar um controle financeiro na vida de todos. É um grande trabalho e que justifica, em parte, o envolvimento forte que gera nas pessoas. Pode-se discutir até morrer sobre a oportunidade e mesmo decência de tais iniciativas religiosas, por exemplo, que a hierarquia não tem nada a ver com a vida concreta de Cristo (o exemplo mais radical de autocontrole, despojamento, autodisciplina), se locupleta à custa do dízimo dos mais pobres, montam impérios para um pretenso Deus que aprecia o fausto (de novo, nada a ver com Cristo), mas que é desfrutado pelos pastores e chefes. Nada de novo, porém. Todas as religiões surgem para acabar com as outras, e fazem a mesma coisa, abusando da linguagem do amor... Ironicamente, o ambientalismo de hoje conclama a humanidade para renunciar a desperdícios, indicando que a vida no Planeta só é viável se todos souberem restringir suas ganâncias. De uma forma ou de outra, estamos buscando os “10 mandamentos” do bom comportamento ambiental! Assim, um corpo amplo e novo de pesquisa reconhece o valor de práticas religiosas, ou regras como essa: “O melhor modo para reduzir estresse em sua vida é parar de contorcer-se. Significa arrumar sua vida de sorte a se ter uma chance realista de êxito. Pessoas exitosas não usam força de vontade como defesa de última trincheira para as parar do desastre, pelo menos não como estratégia regular, como Baumeister e seus colegas observaram recentemente nos dois lados do Atlântico. Quando monitoraram alemães durante o dia (com observações monitoradas por bips), os pesquisadores ficaram surpresos em encontrar que as pessoas com forte autocontrole gastavam menos tempo resistindo aos desejos do que outras” (Baumeister, 2011:3474).


IV. PARA APRIMORAR O AUTOCONTROLE


Baumeister, seguindo a tradição americana de transformar ciência em autoajuda, também oferece “dicas” ou “fórmulas” para aprimorar o autocontrole. Talvez seja a parte mais questionável de sua obra, mas, não sendo demasiadamente exigente neste caso, podemos observar o que ele prescreve. Começa censurando com veemência a procrastinação (deixar para depois), “um vício quase universal” (2011:3498). Em surveys modernos, 95% das pessoas admitem procrastinar pelo menos às vezes, um “pecado” que estaria se alastrando com a multiplicação das tentações. Segundo Steel (2011; 2007), analisando dados das últimas quatro décadas, concluiu que houve aumento incisivo dos procrastinadores. Em surveys americanos, mais da metade se diz crônico procrastinador, sendo que trabalhadores também assumem que, por dia, jogam fora duas horas de trabalho, deixando as coisas para depois. Por vezes, a procrastinação pode ser devido ao perfeccionismo, mas isto é raro e serve mais como desculpa. A questão mais importante parece ser a impulsividade, o que acabou sugerindo que procrastinação é mais própria do homem: homens possuem impulsos mais difíceis de controlar. Em vez de enfrentar o problema que surge, deixam para depois e buscam outras ocupações secundárias, também para se conseguirem recompensas imediatistas. Alguns chegam a dizer que produzem melhor sob pressão, mas estão, como mostram as pesquisas, enganando a si mesmos.  

Primeira lição do “Willpower 101” (101 é número usado para indicar uma lista de coisas essenciais, neste caso para aprimorar a força de vontade) (101.2012): “Conheça seus limites” (Baumeister, 2011:3547). Tomando em conta que, i) o suprimento de força de vontade é limitado e ii) que usamos este recurso para muitas outras tarefas, é fundamental medir o tamanho dos ombros, para saber o que e como carregar. Ademais, o mundo de hoje é mais complexo, impõe mais expectativas e exigências, em meio a novos atrativos e distrações. Por mais que, olhando de modo otimista, limites sejam desafios, só vencemos desafios limitados, para sermos minimamente realistas. A seguir vem a lição: “Observe sintomas” (Baumeister, 2011:3568). É preciso auscultar sintomas tênues, sutis, mas decisivos, que indicam nossas fraquezas e chances. As coisas não podem nos preocupar mais do que merecem, nem de menos, o que pede desconfiômetro, serenidade e capacidade de decisão. “Escolha suas batalhas” – é outra lição. Não se podem controlar ou predizer os estresses que incidirão sobre a vida, mas, podemos, nos períodos de calma, ou pelo menos em momentos mais pacíficos, planejar nosso ataque. Podemos evitar batalhas perdidas, cuja luta é só perda de tempo. Podemos divisar estratégias para podermos chegar mais longe. Podemos poupar energias preciosas. “Faça uma lista de tarefas” – é a próxima lição. Se não quisermos ser propositivos logo de saída, podemos começar pelo outro lado: tarefas que não devem ser feitas..., aquelas preocupações que não nos deveriam preocupar, aqueles desgastes de que não precisamos, aquelas trapalhadas que nada acrescentam. Esta lista depende, naturalmente, do conhecimento que se tem de si mesmo: nossos fortes e nossos fracos.

Fuja da falácia do planejamento” – sinaliza a importância de não planejar o que não tem muita chance de acontecer, como se, só por planejar, garantimos a realização. Baumeister dá como exemplo a promessa de prédios em construção que nunca terminam no prazo e custam mais do que se havia prescrito. Muito menos, podemos planejar que termine seis meses antes... “Não esqueça o básico” – Trata-se de não deixar de lado tarefas básicas – dá o exemplo de trocar as meias todos os dias – imaginando que, com isso, se poupa tempo para, digamos, estudar mais para a prova. Na prática é contraproducente, porque não trocar as meias, não lavar a louça, não cuidar dos cabelos, não preparar comida saudável acabam incidindo em situações vexatórias que reduzem ainda mais nossa capacidade de reação. Além do mais, tais procedimentos interferem nos outros, que, vivendo juntos, precisam conviver com meias sujas, louça por lavar, cabelos mal cheirosos, comida ruim... Faz parte do autocontrole bem feito ter as coisas básicas da vida bem arrumadas. Esta lista pode ter sua utilidade, mesmo que tenha sabor de autoajuda. Não custa transformar resultados de pesquisa em indicações práticas. O problema é que se acredita demais em saídas automáticas ou miraculosas, perdendo-se de vista que chances podem vir por acaso, mas é mais prudente correr atrás delas.

Analisando o “futuro do autocontrole” (Baumeister, 2011:3784), Baumeister questiona o vezo antigo de colocar o autocontrole nas mãos de Deus ou nos comparsas de mesma religião. “Preceitos divinos e pressão social a partir do resto da congregação tornaram religião o promotor mais poderoso do autocontrole para a maior parte da história. Hoje, muito embora a influência da religião esteja recuando em alguns lugares, as pessoas estão aprendendo outros modos para empurrar o autocontrole para os outros: amigos, smartphones, sites da web que monitoram comportamentos e forçam apostas, para vizinhos que se reúnem na igreja e para redes sociais conectadas eletronicamente. Temos novas ferramentas para quantificar quase tudo que fazemos e compartilhamos isso com novas congregações. Entrementes, cada vez mais pessoas chegam a perceber que autocontrole fraco é central para problemas pessoais e sociais” (Ib.). O ponto crucial do autocontrole não é “produtividade”, porque as pessoas hoje já não precisam trabalhar tão arduamente. No século XIX, o trabalhador típico tinha mal e mal uma hora livre por dia e não existia aposentadoria. Hoje, gastamos por volta de um quinto das horas despertas no trabalho. Baumeister avalia que o tempo restante é, na verdade, um surpreendente dom, sem precedentes na história humana, mas isto exige um tipo nunca dantes visto de autocontrole para o desfrutar bem. Facilmente preferimos procrastinar, mesmo quando se trata de prazer, supondo que, no futuro, teremos ainda mais tempo. Assumimos um compromisso em três meses no futuro, quando não o faríamos jamais se estivéssemos a uma semana dele. Dizemos sim, imaginando que no futuro tudo se resolve com o próprio tempo. Deixamos de ir ao zoológico ou passear num fim de semana, sem perceber que são, na maioria das vezes, chances perdidas. Por isso, Baumeister considera estratégia importante saber atacar, ficar na ofensiva, não deixar nada para depois. Sendo nosso tempo na terra limitado, urge aproveitá-lo todo. Entre as descobertas mais significativas de Baumeister é que “pessoas com força mais forte de vontade são mais altruístas” (Ib.). São mais capazes de fazer doações, trabalho voluntário e oferecer suas casas para abrigar desabrigados. “Força de vontade evoluiu porque foi crucial para nossos ancestrais conviver melhor com o resto do clã, e ainda serve a este propósito hoje. Disciplina interna ainda orienta para gentileza externa. É por isso que, a despeito de todas as fraquezas e fracassos descritos nesse livro, há razão para sermos agressivos no autocontrole. Força de vontade está evoluindo. Muitos de nós sucumbiram recentemente a novas tentações, e haverá um montão de novos desafios pela frente. Mas, independentemente do que novas tecnologias vão oferecer, ou independentemente de quão avassaladoras algumas das novas ameaças pareçam, os humanos possuem a capacidade de lidar com elas. Nossa força de vontade nos tornou as criaturas mais capazes do planeta e estamos redescobrindo como nos ajudar mutuamente. Estamos aprendendo, de novo, que força de vontade é a virtude que mais nos distingue como espécie, e o que nos torna fortes” (Ib.).

Não sei se tantas promessas são minimamente realistas, também porque aparece em Baumeister uma valorização excessiva dos humanos como expoentes da natureza, encontrando no autocontrole uma das alavancas de sua “superioridade”. Estamos aprendendo que esta visão está ultrapassada (Latour, 2005), porque todas as virtudes humanas são expressões da mesma natureza, naturais, portanto, não “superiores”. Poderíamos talvez alegar que força de vontade é uma tecnologia mais desenvolvida nos humanos, com alguma ligação (ainda pouco decifrada) com nossos cérebros maiores, sem falar que seu apreço também depende de contextos culturais. Há culturas que apreciam o trabalho como sentido da vida, como se pode averiguar da proposta marxista (trabalho é a categoria central da sociedade, por isso “Partido dos Trabalhadores” representam a sociedade inteira, não só trabalhadores), enquanto outras podem divisar no trabalho também seus traços degradantes. Em sociologia, é conhecida a tese de Weber sobre a ética protestante ou o espírito do capitalismo (ironizado na obra marcante de Boltanski & Chiapello, 2005), segundo a qual culturas que apreciam trabalho como sentido da vida se desenvolvem melhor, também porque mais facilmente economizam para investir (sabem renunciar). Esta tese insinua que culturas católicas, por exemplo, em geral são mais atrasadas, possivelmente porque nelas se trabalha menos... A Europa nórdica e países similares (Estados Unidos, Austrália, etc.) são países mais avançados e que também apreciam novas tecnologias e conhecimento inovador, gerando ambientes de maior competitividade e produtividade. Este tipo de visão, ainda que pareça ter evidências empíricas, desanda facilmente em etnocentrismos dos quais a Europa está cheia e que estão presentes em guerras mundiais massacrantes. Ressoa aí a noção pérfida do “povo eleito” bíblico: este fabrica seu Deus que, por sua vez, diz o que este povo quer ouvir, em especial o mandato de evangelização geral de todos sob um fundamentalismo só, sem esquecer o dízimo para a hierarquia.

É preciso – gostaria de argumentar – distinguir modos de autocontrole. Há aquele feito para garantir superioridade bélica, produtiva, cultural, onde a renúncia é mormente estratégia colonialista. Mas há aquele que podemos encontrar em filosofias de vida oriental, voltado para o controle dos desejos e para a renúncia em nome de outras dimensões da sociedade, com a mensagem enfática de que vida que vale a pena é aquela da qual temos controle por automotivação. Não é difícil ver – vemos em casa todo dia com nossos filhos – que pessoas com autocontrole mais avançado se produzem chances mais interessantes na vida, porque correm atrás delas, investem tempo e dedicação para se prepararem, recomeçam sem desânimo, perseveram. Esta mensagem me parece importante como filosofia de vida e como tentativa de redescobrir que, em educação, esta visão é importante. Se criamos filhos sem limites, eles não terão limites, e as primeiras vítimas podemos ser nós mesmos. Ao mesmo tempo, conseguir que os filhos percebam a importância de limites é uma engenharia finíssima, a maior pedagogia imaginável, porque implica suscitar uma criatura capaz de entender que ela mesma precisa saber limitar-se em nome da convivência possível. Podemos, como fez muito bem Baumeister, observar essa questão nas religiões: todas promovem a renúncia, porque partem da constatação de que o ser humano tende a ser uma figura decaída, viciada, pecadora, urgindo resgatar um tipo autodisciplinado de comportamento. Mas é preciso, de novo, distinguir: há quem se autocontrola por motivos religiosos impostos de fora, como ter de pagar o dízimo a qualquer custo (como se Deus precisasse de dízimo!), bem como há quem tem automotivação religiosa (religiosidade, não religião) para levar uma vida regrada, porque acredita que isto constrói uma sociedade melhor e um sentido alternativo de vida.

Como a humanidade sempre vai de um extremo a outro, o fato de estarmos fartos de crianças sem limites e de bandidagem à solta sem lei (não só de bandidos fora da lei, mas principalmente daqueles dentro da lei), pode provocar o outro extremo: voltar ao Antigo Testamento – dente por dente, olho por olho. Saber renunciar é fundamental. Talvez seja um dos gestos mais “formativos”. Mas é sempre preciso perguntar pela razão. Muita renúncia pode ser apenas exploração: somos obrigados a renunciar, para que o outro desfrute à nossa custa. Vai nisso também algo de mistério, que a pesquisa não deslindou ou talvez, por limitações metodológicas, jamais vá decifrar: a renúncia é necessária por conta de nossos desejos incontidos e destrutivos; desejos são, porém, uma das energias mais substanciais do ser humano e de outras criaturas naturais. É uma gangorra sem solução. Mesmo assim, parece claro: não se constrói uma vida interessante, autossatisfatória e satisfatória para a sociedade sem renúncia. Este reconhecimento fundamentou por séculos uma pedagogia do castigo (também físico). Ponto algo de qualquer castigo é obrigar a renunciar. Não queremos voltar no tempo. Mas podemos ter exagerado no outro lado: quando as crianças fazem o que querem e os pais veem nisso uma gracinha, podemos estar cultivando pequenos monstros que, depois, nos vão engolir, maltratar. O mundo digital pode ter sua parte nesse risco, porque, sobretudo para crianças, aparece como horizonte infinito de entretenimento, informação, interação, consumo, aguçando a expectativa de querer tudo na hora.


PARA CONCLUIR


Alguns reparos que coloquei aqui à obra de Baumeister não deveriam deixar a impressão de que se trata de algo descartável. Quero dizer o contrário. É surpreendente que este estudo tenha entrando com tanta força em nossas filosofias de vida, mexendo profundamente com paradigmas vigentes familiares, educacionais, produtivos, etc. O mais importante é o esforço ingente de colocar tudo no plano da pesquisa científica, com devidas evidências empíricas. Chamou-me a atenção o espaço dedicado ao papel das religiões no autocontrole. Pode ser decisivo na vida de muitas pessoas que, finalmente, se arrumaram um norte e a eles se subjugam, manifestando, então, um estilo de convivência mais condizente. A religião é um fenômeno de rara ambiguidade. Serve para qualquer coisa, também como negação da própria religião. Apesar dos pesares, não se escapa de constatar que pessoas religiosas apresentam “vantagens” claras sobre pessoas viciadas. Isto lembra a célebre discussão sobre liberdade. Todos a querem como bem elevado. Mas, só a temos relativamente, porque liberdade própria só existe junto com a liberdade dos outros. Ou seja, liberdade só pode ser bem praticada com devida renúncia. Viver em sociedade é viver renunciando, como é o caso de casamentos que duram muito: ambos sabem renunciar. É uma dimensão sui generis, porque atinge comportamentos naturais – por exemplo, sexo – que se impõem limitações que agridem a naturalidade da vida. Muitas religiões prescrevem este tipo de perspectiva: viver com pouco, pretender pouco, não se impor. Talvez ainda seja a maneira mais prática de ser feliz: saber renunciar.

REFERÊNCIAS

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[1] Tais sinalizadores são bips que soam em intervalos determinados pelos pesquisadores para colher e controlar dados. Um dos mais conhecidos pesquisadores a usar esse método de coleta foi o conhecido psicólogo do “flow”: Csikszentmihalyi (1991). Como já aleguei, não vou questionar esta propensão empirista do método, mesmo que fosse fácil mostrar que possivelmente mais deturpa do que trabalha tais dinâmicas reduzidas a manifestações mensuráveis (Demo, 2001). Como toda dinâmica complexa também apresenta recorrências que podem ser formalizadas pelo método científico, apesar do reducionismo empirista, é possível obter insights pertinentes (Demo, 2002).

Sobre o autor: Prof° Dr. Pedro Demo,Doutor em Sociologia pela Universidade de Saarbrucker, Alemanha; pós –doutorado na UCIA – Los Angelas; técnico de Planejamento e Pesquisa IPEA; professor - titular da Universidade de Brasília; autor de mais de 40 livros; conferencista de Renome Internacional. Algumas publicações do autor: Desafios Modernos da Educação, Conhecimento Moderno, Assessor para a Tele Educação, Política Social do Conhecimento, Dialética da Felicidade, Avaliação Qualitativa, Pobreza Política, LDB – Avanço e Ranços, e Educação Cultura e Política Social. Aqui curriculum vitae completo , Blog: http://pedrodemo.blogspot.com.br/
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