22 de jun. de 2010

Por que não usar web 2.0 e redes sociais no ensino?


Humberto Zanetti*

Sempre pensamos em web 2.0 para o comércio ou para o relacionamento pessoal, mas poucos utilizam as vantagens dessas ferramentas e conceitos para a área da educação.

Recentemente um consultor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Seely Brown, comentou em entrevista sobre a falta de investimento das escolas e universidades de todo o mundo na elaboração de projetos educacionais que utilizem recursos de web 2.0.

Brown enfatiza que tais projetos poderiam introduzir nos alunos a cultura de divulgar e debater ideias, como no uso de wikis e blogs.

Esse princípio é sempre enfatizado por pesquisadores na área da educação: dar a possibilidade de o aluno se tornar mais do que um ser passivo na etapa de aprendizagem. O aluno pode se tornar um agente pensante que veja nessas ferramentas a oportunidade ideal, estimulado pela possibilidade de formar e trocar conhecimentos.

O professor por sua vez terá a oportunidade de verificar aspectos muitas vezes difíceis de serem identificados na sala de aula, como a capacidade de elaborar textos, pesquisar sobre um assunto, dar uma opinião e debater a de outros.

Essa rede de comunicação também pode agregar valores à instituição de ensino. Um wiki bem desenvolvido, por exemplo, pode ser usado como ferramenta de pesquisa para alunos futuros, formando uma enciclopédia particular.

Como e quais ferramentas usar?

A princípio essa metodologia dever ser inserida gradativamente, com uma mescla de atividades em sala e em ambiente virtual. Seria válido o professor dar “uma aula” sobre o conceito, as ferramentas e os objetivos e trazer aos poucos, posteriormente, em cada aula, o estímulo ao uso da tecnologia. Passada essa fase, pode pedir tarefas onde o conteúdo deverá ser exposto periodicamente via blog, ou após finalizado, submetido a um wiki.

Professores têm a possibilidade de utilizar os recursos web 2.0 também para seu controle de aulas, através de ferramentas online que ajudam o trabalho do profissional de ensino. Um exemplo seria um blog onde o professor compartilha informações com seus alunos e publica seu calendário de aulas e avaliações sempre atualizado, a relação parcial de notas, além de comentários sobre assuntos abordados.

Todas essas possibilidades descritas não exigem despesas adicionais. Um serviço bem interessante é o Edublogs.org. Voltado especificamente para profissionais de ensino, fornece um serviço de blog e atualmente integra ferramenta wiki do Wikispaces gratuitamente. Esta dobradinha de ferramentas forma um ambiente simples e eficaz de aprendizado e colaboração.

Claro que nesse processo há barreiras. A primeira seria fazer com que os educadores aprendam e usem a web a seu favor. Que procurem se adequar e utilizem essas ferramentas como um meio de melhorar o processo educativo.

Em segundo lugar seria a etapa de treinar e educar os alunos nessas tecnologias e conceitos, onde vai se procurar mostrar como pode ser vantajoso tirar proveito de um ambiente colaborativo.

Cabe a nós, professores, a tarefa de abrir os olhos para essa nova oportunidade. O processo de aprendizagem não é somente transmitir o conhecimento e sim ensinar como usá-lo, como modificá-lo e até mesmo discordar dele. Temos as ferramentas, só falta usar.

*Humberto Zanetti (profzanetti@gmail.com) é professor pela Anhanguera Educacional S.A., freelancer e pesquisador em arquitetura da informação, user interface e design de interação e mantém site e blog pessoais.

Fonte: Webinsider

Um comentário:

Suintila V. Pedreira disse...

Caros colegas,

A internet realmente é maravilhosa, quando o assunto é encontrar informações. Mas o que venho percebendo a muito tempo nela é que algo está errado, muito errado. Cadê as informações?

Cabe aqui uma discussão muito polêmica: Qual o conceito de Informação, e o que seria uma "Informação Relevante". Não pretendo enveredar nessa seara, mas me atrevo a afirmar que quase 90% do que se veicula pela Net não é informação relevante… é eco. Eco? Isso… eco! Mas tem mais. Como se não bastassem os infindáveis RT's (Re-Tweets), as poucas discussões que vejo acontecerem são sobre… a vida alheia!

Sou professor, e uma das grandes lições que meus 20 e tantos anos de exercício do magistério me ensinaram é que ainda preciso aprender muito! mas muito mesmo, pois os desafios da profissão nunca são os mesmos. Minha adolescência já se foi a bastante tempo, de modo que não preciso mais me sentir bem aceito por um grupo, seja qual for. Os anos de experiências nem sempre agradáveis me fizeram uma pessoa independente, mas não me tornaram um ermitão. Ninguém chega a lugar algum sozinho, nem mesmo gênios da humanidade como Issac Newton ou Albert Einstein chegaram, e eu não sou exceção, certamente.

Assim, faço parte de 6 Grupos de discussão, possuo 2 blogs e 5 contas de emails, tenho Yahoo Messenger e Skype, participo de 12 Foruns nacionais e internacionais, além de pertencer a 9 redes sociais, isso tudo desde 1995. Tudo isso tem um objetivo: trocar experiências seja com quem for.

Mas a cultura do povo brasileiro não ajuda. Vejo milhares de linhas escritas sobre a "mão de Deus" do Luis Fabiano, no gol do Brasil contra a Costa do Marfim, milhares de comentários sobre o "Cala Boca Galvão", com discussões acaloradas dos partidários de ambos os lados desse confronto "ideológico"… e não vejo quase nada sobre a miséria do povo sul-africano, pouquissimas notícias sobre as famílias que foram "hospedadas" em residências provisórias para que os turistas que visitassem a Africa do Sul não os vissem pedindo esmolas pelas ruas.

Nas redes sociais não é diferente. As grandes discussões, aquelas que batem records de réplicas, são sobre a vida dos outros… é a atriz que foi vista em compania de fulano, e ela era casada com ciclano, e por aí vai.

Nesse "Mar de desinformações", é possivel encontrar uma ou outra "ilha de salvação". Mas mesmo nessas "ilhas", cadê a participação? Tópicos de discussão verdadeiramente produtivos ficam à mercê dos comentários, que quase nunca aparecem. Réplicas demoram semanas, e até meses, para virem, e acabam esvasiando assuntos importantíssimos para nossa sociedade.

A minha geração lutou por liberdade neste país. Amigos meus, e pessoas que influenciaram os pensamentos da minha juventude deram a vida para que pudessemos expressar o que pensavamos… mas para que? Gilberto Gil, Chico Buarque , Jô Soares e Fernando Henrique Cardoso devem estar profundamente arrependidos do que fizeram pelo povo brasileiro… ou não? Até onde nossa liberdade de expressão vai nos levar?

Certa vez ví alguem comentar que nós não estamos produzindo conhecimento nas redes sociais… estamos só repassando o que alguns poucos fazem! Nosso papel não é mais de criadores… agora é o mesmo de um bibliotecário: organizamos e repassamos informações que outros produzem! Não vejo muita diferença entre esse comportamento e a tão combatida "educação bancária" que vigorava em nosso país nos anos 70. E já vejo os reflexos disso na nossa educação. Nossos alunos se transformam em ótimos "buscadores" de informações na Net… mas na hora de produzirem conhecimentos, são tão mediocres quanto o Lula, tentando mediar um acordo nuclear entre o Irã e a comunidade internacional.

Está me parecendo que o grande problema não é a ferramenta em sí, mas sim o uso que se faz dela, e é aqui que "a vaca vai pro brejo", pois cada pessoa a utilizará de acordo com o seu livre arbítreo.

Redes sociais para que, afinal?

Prof. Suintila