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Essa discussão volta-se para questões acerca da incorporação das tecnologias digitais às ações educativas formais e o papel do professor frente às atuais demandas trazidas por essas tecnologias.
Primeiramente é necessário destacar, como o faz Arruda (2004), que a partir da maior difusão de acesso à internet, em torno do ano de 1995, diversos pesquisadores começaram a associar esse tema às pesquisas educacionais. Esse autor, em consonância com Castells (2001), reconhece que tal difusão seja relativa, mostrando-se mais presentes junto às camadas A e B da população brasileira.
No entanto, destaca que ?a utilização de tecnologias educacionais no contexto escolar está inserida em uma realidade econômica mais ampla, marcada por um processo de reestruturação capitalista? (ARRUDA pg. 14, 2004), que gerou a organização de movimentos de mudanças pedagógicas, não apenas no Brasil, como também em outros países, como, Chile, Portugal e Espanha.
No curso desse movimento diversas modificações foram trazidas para nosso sistema educacional, em formatos distintos e diversos, que vão desde medidas avaliativas, como ao lançamento de Parâmetros Curriculares. Não é objetivo deste texto debater sobre essas transformações, mas sim reconhecer que, a preocupação em se incorporar as tecnologias digitais nos processos educacionais vêm associadas a elas.
Nesse fluxo as pesquisas educacionais conseguem identificar, junto às escolas públicas e privadas um movimento de ?informatização? desse espaço. Cabe também destacar que esse movimento tem por meta a difusão dos meios informatizados junto aos educandos. No entanto, tal processo deve ser analisado com cautela e um certo grau de relativização.
Relacionar as tecnologias digitais à educação exige o reconhecimento de dois pontos, considerados por mim e Arruda (2005) como fundamentais. Primeiro, as tecnologias digitais trazem possibilidades interativas para a educação as quais, aparentemente, ainda não foram, genericamente, incorporadas nas práticas docentes, independentemente à adoção, ou não, dessa nova linguagem.
Tais possibilidades interativas podem trazer para a docência novos encaminhamentos quanto ao processo de aquisição do conhecimento pelo aluno. Compreendo que a utilização das tecnologias digitais deva ser assumida como parte da cultura escolar. Embora seja notória a importância atribuída a essas novas tecnologias no âmbito escolar, uma vez que esta é por vezes utilizada como estratégia de marketing por escolas privadas, ainda é desconhecido o(s) modo(s) como essas tecnologias são apropriadas pelos professores.
Em segundo lugar, como indica Arruda (2004), existe um descompasso entre o domínio que o docente apresenta destas novas linguagens frente aos conhecimentos que seus alunos possuem.
Esse ponto registra-se como um complicador a mais para o docente que, além de necessitar possuir um conhecimento específico acerca das possibilidades postas pela disciplina escolar a qual leciona, deverá também ser capaz de identificar as tecnologias digitais como linguagem favorecedora para apreensão da realidade?
Como o docente fará esse último movimento sem apresentar, até mesmo, conhecimentos básicos na área da informática?
Destaco ainda que, conhecimentos básicos mostram-se insuficientes para a apreensão, pelo professor, das potencialidades das tecnologias digitais para o ensino. Promover a discussão sobre a incorporação e as implicações das tecnologias digitais nas escolas, em especial nas disciplinas escolares, significa assumir a idéia da constituição de ?sujeitos comunicacionais? pela instituição escolar.
Em pesquisa recentemente desenvolvida (1), tive a oportunidade de observar como os professores de escolas privadas de Belo Horizonte utilizam tecnologias digitais em sua prática pedagógica. Resultados parciais vêm indicando aos pesquisadores envolvidos que, embora a literatura conhecida aponte o caráter amplo dado ao desenvolvimento tecnológico ao longo da história humana, na escola ainda persiste uma interpretação muito mais ligada à questão técnica.
Os dados obtidos até o momento confirmam a perspectiva de Arruda (2004) a qual afirma que a, as tecnologias digitais são tratadas no âmbito escolar somente no seu aspecto de produção de técnicas e ferramentas, limitando a presença das tecnologias tão somente aos chamados ?recursos? didáticos, como quadro, giz, aparelhos, livros etc.
Deixa-se de observar aspectos muito mais amplos de introdução de tecnologias no ensino. Alava (2002) afirma-nos que no sentido mais amplo atribuído às tecnologias, o processo de ensino-aprendizagem acontece sempre mediado por alguma tecnologia, seja organizacional, simbólica ou ferramenta/recurso.
Na verdade, na sociedade contemporânea há uma estreita vinculação entre tecnologia e ?novidade?, principalmente porque na modernidade a tecnologia está ligada à produção (PAIVA, 1999). O modelo de produção atual é caracterizado pela grande diversidade de produtos e segmentação de mercado, o que leva as empresas a buscarem constantemente o desenvolvimento tecnológico visando a ?diferenciação? em um mercado amplamente competitivo.
Entretanto, a análise das práticas pedagógicas e de alguns softwares voltados para o ensino tem indicado um uso das tecnologias digitais bastante próximo àquele atribuído, por exemplo, ao livro didático. Nesse último caso o conteúdo presente no material didático é incorporado como fim da aprendizagem e não como meio.
As tecnologias digitais (softwares, internet) são tratadas como ?livros didáticos animados? ou simples material de pesquisa, similar ao que ocorre com revistas e jornais.
Essas características presentes na prática pedagógica revelam não apenas um desconhecimento acerca das possibilidades para as atividades educacionais, mas também (se não, sobretudo) uma concepção de ensino de distante das orientações recentes postas para educação brasileira a partir da década de 1990.
Uma outra forma de aprender
Alava (2002) (2) afirma que estas novas tecnologias dizem respeito, sobretudo aos educadores, no entanto são vistas como elementos técnicos que ?renovam? o ensino somente através da introdução do maquinário na escola.
No entanto as novas tecnologias da informação e comunicação oferecem novas possibilidades de aprender e devem deixar o estatuto de simples auxiliar (na aprendizagem) para tornar-se centro de uma outra forma de aprender, que afeta, em primeiro lugar a mudança dos modos de comunicação e dos modos de interação.
Finalizo afirmando a necessidade de pesquisas favoreçam a apreensão das possibilidades cognitivas postas por essa linguagem, a fim de superar um visão reducionista que percebe as tecnologias numa perspectiva meramente técnica. [Webinsider]
Notas
(1) ALLAIN, L., ARRUDA, E. ROQUE ASCENÇÃO, V. Implicações das Novas Tecnologias na Prática Pedagógica de Professores de Ciências, Geografia e História das séries iniciais: um recorte pedagógico e comunicacional. Belo Horizonte, Universidade FUMEC, 2005.
(2) Autores como SANCHO (1998), LANDRY (2002), GREEN e BIGUN (1995), ARRUDA (2004), SILVA (2003), dentre outros também apresentam olhares mais amplos sobre as tecnologias e buscam desmistificar a idéia de que tecnologia está ligada sempre a algo recente.
Bibliografia
ALAVA, Séraphin & colaboradores. Ciberespaço e formações abertas: rumo a novas práticas educacionais? Porto Alegre: Artmed, 2002
ARRUDA, Eucidio. Ciberprofessor: Novas Tecnologias, Ensino e Trabalho Docente. Belo Horizonte: Autêntica, 2004
CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet: reflexões sobre a Internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2003.
GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. São Paulo: Unesp, 1991.
PAIVA, José Eustáquio Machado de. Um estudo acerca do conceito de tecnologia. In: Educação & Tecnologia. Belo Horizonte: Revista do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, v. 4 n. ½ jan/dez. 1999.
Sobre o autor
Valéria de Oliveira Roque Ascenção (valeriaroque@gmail.com) é professora da Universidade Fumec.
Fonte: http://webinsider.uol.com.br/2006/11/09/o-papel-das-tecnologias-digitais-no-contexto-escolar/
3 comentários:
Oi, Robson, como vai? Em primeiro lugar, gostaria de pedir desculpas. Sei que esse não é o lugar apropriado para esse tipo de contato, mas não achei nenhum outro meio de fazê-lo.
Estou divulgando um projeto bem legal desenvolvido pelo Instituto C&A. É o Projeto Paralapracá, que vai selecionar cinco municípios do nordeste brasileiro para receberem formação para professores e apoio para instituições de Educação Infantil. As prefeituras podem se inscrever até o dia 22 de junho, por meio do site do Instituto C&A (www.institutocea.org.br).
Envio essa mensagem, pois acho que o assunto tem relação com a linha editorial de seu blog e pode interessar a seus leitores. Se precisar saber mais, entre em contato (filipe.pereira@maquina.inf.br).
Estou à disposição! Obrigado!
Observação: Ao aluno a informática está inserida em sua vida, seja através de grupos de bate-papo,pesquisas, auxiliares de tradução, etc.SARAH QUEQUETO
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