Antes de ensinar a ler é preciso tornar-se leitor
Autor: João Bittar
O professor entra na sala de aula, pergunta se os alunos leram o livro recomendado. Alguns dizem que sim, outros começam a inventar histórias enquanto os demais desconversam. Dia de prova. A professora permite consultar o livro, mas muitos alunos se saem mal porque não sabem nem em que página estaria a informação necessária para responder as questões. A cena não é agradável para um educador, mas é comum em muitas escolas brasileiras, sejam elas públicas ou particulares. Professores relatam suas experiências em blogs, páginas da internet e nas conversas no corredor do colégio e pedem auxílio a colegas e especialistas para driblar as dificuldades. Inventam artimanhas para prender a atenção dos alunos, mas esquecem que antes de ensinar a ler, é necessário tornarem-se leitores.
Na visão da pós-doutora em Linguística, Letras e Artes Marisa Lajolo, nem todo professor lê por prazer e existem ainda os que não têm acesso à leitura. “Tenho a impressão de que grande parte da formação inicial e continuada oferecida ao professor o encara mais como um ‘formador de leitores’ do que como uma pessoa que precisa ser formada como leitora”, avalia. Ela acredita que uma das melhores formas de trabalhar isso nos professores é buscar seu “histórico de leitura”. “O que leram , quando leram, do que gostaram, do que não gostaram, que experiências de leitura viveram quando eram crianças”, indica. Marisa afirma que aliar essa avaliação a discussões sólidas de questões de linguagem, de escrita e de leitura pode capacitá-los a trabalhar a leitura com seus alunos.
Doutora em Educação, Eleuza Rodrigues Maria Barboza acredita que a leitura e a escrita são a base para a aprendizagem das crianças e dos jovens. Para ela, todos os professores, independentemente da disciplina que lecionam, deveriam trabalhar com as habilidades da leitura e da escrita. “As dificuldades encontradas pelos professores vêm de uma formação que não priorizou o seu próprio desenvolvimento enquanto leitores e escritores proficientes. Saem das universidades e se deparam com uma diversidade imensa de alunos nas suas salas de aula e têm que aprender fazendo e, muitas vezes, sozinhos”, destaca.
Eleuza que agora atua como secretária de Educação de Juiz de Fora (MG), diz que toda atividade de incentivo à leitura é importante, tanto para alunos quanto para professores. Ela diz que Em Juiz de Fora, algumas escolas começaram a promover a leitura coletiva. Nela, todos os professores e alunos de uma escola trabalham com um livro de literatura previamente escolhido. “Dessa leitura derivam várias atividades que vão desde manifestações de expressão artística, representações teatrais, até atividades de outras áreas como história, geografia, matemática baseadas no livro que todos leram”, conta. Segundo ela, todos aprendem e todos acabam se desenvolvendo nas habilidades da leitura e da escrita.
Em seu trabalho no Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação (Caesd) da Universidade Federal de Juiz de Fora, Eleuza observou que estudos de alguns estados mostraram que 30% dos alunos da 4ª série do ensino fundamental tinham desempenho muito baixo na leitura. Para reverter esse quadro, além de melhorar a formação dos professores, Eleuza aconselha a aliar recursos disponíveis, como a tecnologia à leitura para conseguir bons resultados. “Em uma escola em que o professor pode contar com o computador e a internet, o dinamismo das aulas cresce e o ambiente motivador abre um leque grande de possibilidade de trabalho com recursos que enriquecem tanto o professor quanto os alunos e ainda facilita a comunicação que se estabelece entre eles”, conclui.
Marisa Lajolo completa: “um professor, paradoxalmente, é um profissional que precisa ser conquistado para o exercício de suas tarefas”.
(Rafania Almeida)
Fonte: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/conteudoJornal.html?idConteudo=1153
Um comentário:
com certeza!!! a leitura amplia horizontes.Parabéns pelo ótimo conteúdo.
Postar um comentário