7 de jun. de 2010

Educar o educador

José Manuel Moran

De um professor espera-se, em primeiro lugar, que seja competente na sua especialidade, que conheça a matéria, que esteja atualizado. Em segundo lugar, que saiba comunicar-se com os seus alunos, motivá-los, explicar o conteúdo, manter o grupo atento, entrosado, cooperativo, produtivo.

Muitos se satisfazem em ser competentes no conteúdo de ensino, em dominar determinada área de conhecimento e em aprimorar-se nas técnicas de comunicação desse conteúdo. São os professores bem preparados, que prestam um serviço importante socialmente em troca de uma remuneração, em geral, mais baixa do que alta.

Na educação, escolar ou empresarial, precisamos de pessoas que sejam competentes em determinadas áreas de conhecimento, em comunicar esse conteúdo aos seus alunos, mas também que saibam interagir de forma mais rica, profunda, vivencial, facilitando a compreensão e a prática de formas autênticas de viver, de sentir, de aprender, de comunicar-se. Ao educar facilitamos, num clima de confiança, interações pessoais e grupais que ultrapassam o conteúdo para, através dele, ajudar a construir um referencial rico de conhecimento, de emoções e de práticas.

As mudanças na educação dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar. Pessoas com as quais valha a pena entrar em contato, porque dele saímos enriquecidos.

Os grandes educadores atraem não só pelas suas idéias, mas pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula chamam a atenção. Há sempre algo surpreendente, diferente no que dizem, nas relações que estabelecem, na sua forma de olhar, na forma de comunicar-se. São um poço inesgotável de descobertas.

Enquanto isso, boa parte dos professores é previsível, não nos surpreende; repete fórmulas, sínteses.

O contato com educadores entusiasmados atrai, contagia, estimula, os torna próximos da maior parte dos alunos. Mesmo que não concordemos com todas as suas idéias, os respeitamos.

As primeiras reações que o bom professor e educador despertam no aluno são a confiança, a admiração e o entusiasmo. Isso facilita enormemente o processo de ensino-aprendizagem.

As mudanças na educação dependem também de termos administradores, diretores e coordenadores mais abertos, que entendam todas as dimensões que estão envolvidas no processo pedagógico, além das empresariais ligadas ao lucro; que apoiem os professores inovadores, que equilibrem o gerenciamento empresarial, tecnológico e o humano, contribuindo para que haja um ambiente de maior inovação, intercâmbio e comunicação.

As mudanças na educação dependem também dos alunos. Alunos curiosos, motivados, facilitam enormemente o processo, estimulam as melhores qualidades do professor, tornam-se interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada do professor-educador.

Alunos motivados aprendem e ensinam, avançam mais, ajudam o professor a ajudá-los melhor. Alunos que provêm de famílias abertas, que apoiam as mudanças, que estimulam afetivamente os filhos, que desenvolvem ambientes culturalmente ricos, aprendem mais rapidamente, crescem mais confiantes e se tornam pessoas mais produtivas.

Fonte: http://www.eca.usp.br/prof/moran/uber.htm#educar

3 comentários:

Teresa Pombo disse...

Oi Robson! Excelente recomendação de leitura! Não podia estar mais de acordo. As mudanças na educação são urgentes e para que aconteçam precisamos cada vez de educadores inspiradores, profundamente inovadores e à-vontade com o digital. Os líderes que nos fazem falta precisam de nos contagiar pelo coração e pela profunda inovação que nos trazem. Obrigada!

Robson Freire disse...

Olá Teresa Pombo

Que prazer ver sua opinião externada aqui no Caldeirão de Ideias. Mas uma coisa me incomoda demais é ver toda carga do insucesso atual ser colocada na conta do professor.

Sei que somos os agentes da mudança, mas é uma forma muito simplista de ver as coisas.

Há muito mais coisas envolvidas que apenas bons profissionais de educação pode simplesmente resolver.

A própria arquitetura escolar hoje não e apropriada para um sistema que valorize a conversação e a interação, a didática e a pratica de ontem maquiada para parecer moderna.

Além da não valorização do profissional de educação moderno dentro de sua importância para o novo cenário que se aproxima.

Essas são questões que estão muito ligadas ao sucesso da educação do que apenas professores inspiradores possam resolver.

Beijos e Volte Sempre

Robson Freire

Anônimo disse...

O texto do Moran é realmente provocador.

Aborda a questão do entusiasmo, e a importância de ser a medida para alunos, professores e o corpo diretivo da escola.

É o que a escola precisa.