Publicado em: 01 de Fevereiro de 2005 | Atualizado em: 01 de Fevereiro de 2005
Duas grandes mudanças proporcionadas pela tecnologia estão abrindo novas portas à tradicional forma de ensino. A primeira diz respeito ao aprendizado na escola.
Hoje, o espaço físico escolar já pode ser dispensado em muitos casos, como no ensino à distância (EAD). A outra transformação, mais delicada, envolve a relação entre professor e aluno.
Até pouco tempo atrás, cabia ao primeiro ensinar e ao segundo aprender.
Atualmente, com a facilidade de acesso às informações, o aluno dispõe de múltiplas fontes de conhecimento e cabe ao professor desenvolver outra postura em sala de aula.
Para falar sobre esses temas e comentar sobre as perspectivas da educação, conversamos com Maria Teresa Marques Amaral, coordenadora da Cátedra de EAD da Unesco na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Integrante do Fórum de Líderes Educacionais da Microsoft, Maria Teresa diz que o educador tende a se tornar "mais um mediador no ambiente de aprendizagem do que um transmissor que regula e dosa a aprendizagem"
Até pouco tempo atrás, havia preconceito com relação à educação à distância. Atualmente a EAD vem ganhando respeito entre os educadores. Como e por que e isso começou a mudar?
Eu não diria com tanta convicção que o preconceito está alterado. Mas isso se deve ao fato de que historicamente a educação - e mais especificamente o ensino - sempre estiveram relacionados à transmissão oral e presencial. A relação pedagógica era necessariamente presencial, entre o professor que ensina e o aluno que aprende. No momento que se amplia o conceito de ensino, o foco da questão deixa de ser o modelo formal e passa a ser sobre "o que é educar" e "o que é educação". Uma nova cultura da aprendizagem se impõe tendo que levar em consideração a conjunção de diversas mudanças sociais, tecnológicas e culturais. O que está posto não é somente a sociedade da informação, mas, sobretudo a sociedade da aprendizagem. Estamos em uma época em que a preocupação com a democratização da informação faz diferença. Ao mesmo tempo, encontramos muitas pessoas dedicadas a fazer com que outras tantas pessoas aprendam e sejam incluídas.
Quais fatores caracterizam bons projetos de e-learning?
Um bom projeto terá sempre características da comunicação, da interação e da interatividade. Ou seja, a idéia-força contida em "ambiente de aprendizagem" deve permitir que o projeto seja motivador, instigante, facilitador do exercício de construção da aprendizagem.
Até que ponto a maturidade dos estudantes influi na execução de programas de educação à distância?
A maturidade dos estudantes sempre irá influir em qualquer projeto de educação, seja à distância ou presencial. O ideal é que o aluno sempre aprenda pelo desejo de aprender, mas o real é que nem sempre isso ocorre. Por isso, o educador terá sempre o desafio da motivação.
Como motivar os alunos no ensino à distância?
Só existe uma fórmula: que a aprendizagem seja significativa. Sendo significativa e trabalhando com a interação e a interatividade, a gente pode conhecer o aluno, e é isso que fará a diferença O olho no olho pode ser re-significado pela interatividade. Assim, o aluno percebe seu papel ativo na construção da aprendizagem.
Existe diferença na abordagem de tutoriais direcionados a públicos distintos, como estudantes e profissionais?
Sim, pois, se as necessidades são distintas, as abordagens necessariamente serão distintas. Um dos segredos é esse ajuste às necessidades e conhecer seu público. Não é possível tratar da mesma forma um jovem que tem uma dinâmica particular de ver o mundo e um executivo que poderá considerar de forma totalmente diferente uma proposta mais lúdica.
Em comparação com o ensino tradicional, quais as vantagens e desvantagens de projetos de educação à distância e do uso de tutoriais?
Não gosto de estabelecer essa comparação, pois acho que prós e contras comparativos não constroem abordagens consistentes. Tanto posso ter uma educação à distância tradicional como posso ser muito inovador num modelo dito tradicional. O importante é pensar os fundamentos de cada modelo e chamar para si a coerência entre objetivos e proposta pedagógica.
Como pensar em inclusão digital em países que ainda possuem alto índice de analfabetismo e graves problemas de ensino?
Essa é sempre a pergunta mais contundente, pois sempre vamos dizer "se ainda não resolvemos o problema do analfabetismo como introduzir o computador". Necessariamente teremos que conviver com todas as possibilidades. Desconstruir essa premissa não é simples, mas é da responsabilidade de todos. A distribuição social da tecnologia passa pelo acesso à tecnologia e deverá ser vista como apoio e não como exclusão.
Em um futuro breve um aluno vai poder optar por estudar em casa, em vez de freqüentar uma escola? De que modo?
Talvez da forma mais simples do que conseguimos pensar agora. Passará necessariamente pela responsabilidade e autonomia com o processo de aprendizagem. Teremos que deixar de lado as formas reguladoras da avaliação ainda presentes na escola. O educador será muito mais um mediador no ambiente de aprendizagem do que um transmissor que regula e dosa a aprendizagem. Talvez ainda seja uma idealização quando pensamos no volume de problemas a serem resolvidos, mas acredito que a formação dos educadores também acompanhará essa mutação. A sociedade da aprendizagem dará o tom das novas formas de aprender e ensinar, desde que se saiba para que aprender e para que ensinar.
Fonte: http://www.microsoft.com/brasil/educacao/parceiro/entrev.mspx
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