1 de set. de 2009

Steve Jobs, Bono, Al Gore e os novos professores.

Hoje, é mais fácil ser autodidata do que há uma década. Mesmo com o excesso de conteúdo de qualidade duvidosa que existe por aí encontram-se bons livros na Wikipedia ou na Amazon. Se é assim, para que escola? Se o conhecimento se desatualiza cada vez mais rápido, faz sentido frequentar uma faculdade? Ou seria mais abrangente e barato montar o próprio aprendizado contínuo?

A resposta não é simples. O aprendizado contínuo demanda um esforço considerável, ainda mais se for por conta própria. As escolas, por mais que possam contribuir para “construir noção”, estão longe de se tornarem paraísos. Educação de qualidade depende, acima de tudo, da vontade de aprender. Isso não é ensinado, mas pode ser inspirado. Professores atualizados em escolas bem-equipadas são apenas parte do processo. O que vai fazer a diferença é o brilho nos olhos de alunos apaixonados pelo que descobrem.

Na universidade tradicional existe a livre-docência – uma espécie de título atribuído a um pesquisador que, depois de ter concluído o mestrado e o doutorado, pode realizar pesquisas sem orientador. O mundo profissional não requer tanto esforço. Depois de alguns anos de experiência, é fácil identificar as necessidades de aprimoramento. Cursos técnicos, administração, planejamento são os mais procurados.

Não há dúvida de que sejam úteis, mas, na maioria das vezes, só reforçam o ponto de vista que já se tem. Ao contrário da escola convencional, raramente se é contrariado em um curso desses. Além disso, boa parte do sucesso dos cursos de extensão deve-se ao fato de que a freqüência não é obrigatória. Como o aluno não é questionado, não amplia sua perspectiva de mundo e não é capaz de identificar, aglutinar (ou até mesmo prever) tendências. Como não foi desafiado a pensar em áreas além da sua, não consegue desenvolver novas soluções. Ou seja, é criativamente nulo fora de sua área.

Um professor não é (ou não deveria ser) uma fonte de informação, mas de inspiração. Sob esse aspecto, Steve Jobs, Bono e Al Gore são excelentes mestres. No entanto, ao longo da história, essas funções se misturaram. Na medida em que a informação é abundante e acessível, o fornecedor de conteúdo se torna dispensável. O de orientação, pelo contrário, cada vez mais fundamental. O processo que elimina o primeiro deixa a seleção e controle das fontes de referência a cargo do aluno. Como é desprovido de noção, é natural que ele seja tolerante com seus próprios vícios, encorajando a polarização e a alienação.

Na sociedade da informação, a função do professor é definir parâmetros para ser o maestro do conteúdo disponível. Ele não precisa identificar o novo – isso é feito pelos alunos. Tampouco precisa se opor às novas tecnologias ou alertar sobre seus excessos. Isso é feito por pais, mídia e sociedade.

Um professor de verdade não se intimida com o novo, ao contrário, estimula o debate e a curiosidade para combater estereótipos, gerar conhecimento coletivo, filtrar o excesso de informação, influenciar e formar os formadores de opinião. Ao compartilhar experiências para desenvolver o senso crítico em seus alunos, poderá guiá-los por novos cenários. Só assim eles serão capazes de selecionar as opções que lhes são oferecidas – de crescer, enfim. Parece catequese? Não é tão diferente assim.


Luli Radfahrer é professor de Comunicação Digital da Escola
de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo
webdesign@luli.com.br


Fonte: http://www.arede.inf.br/inclusao/edicao-atual/2141-opiniao-edicao-50

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