Poucas escolas de formação de professores têm a reputação do Instituto Nacional de Educação, em Cingapura – sob o comando de Lee Sing Kong, 57 anos. À faculdade credita-se muito do rápido avanço da educação no país, que partiu de um patamar semelhante ao africano, em 1960, para figurar hoje entre os melhores do mundo em sala de aula
Camila Pereira
Revista Veja – 03/06/2009
A seguir, os principais trechos da entrevista que Lee Kong concedeu à repórter Camila Pereira.
LÁ, PROFESSOR TEM STATUS : Só admitimos na escola de formação de professores aqueles estudantes que, no ensino médio, aparecem entre os 30% melhores da turma. A ideia é que os mais talentosos do país sirvam à educação. Não adianta baixar uma regra dessas, no entanto, sem criar incentivos bem concretos para que tais jovens se interessem pela carreira. Um deles é o bom salário inicial, semelhante ao de um engenheiro no mesmo estágio. O outro é o prestígio da profissão em Cingapura. No dia dos professores, o presidente faz questão de receber aqueles que deram contribuições especiais às suas escolas. Os melhores ganham prêmios em dinheiro e são adorados pela população. Tudo isso explica a altíssima procura pela carreira. Em meu instituto, a relação é de seis candidatos para cada vaga – e todos são bons.
A CIÊNCIA DA EDUCAÇÃO: Ensinamos apenas técnicas pedagógicas cuja eficácia já foi comprovada cientificamente. Temos dois laboratórios para fazer esse tipo de pesquisa. Num deles, o foco é desenvolver novas metodologias de ensino. No outro, testamos essas ideias na prática. São estudos longos e sistemáticos, que envolvem diferentes grupos de alunos. Ao final do processo, é possível identificar o que dá certo para transmitir cada conhecimento. Munidos dessas pesquisas, passamos a orientar os aspirantes a professor a fazer uso de recursos tecnológicos de modo produtivo. Por exemplo: nossos professores criam situações em que os alunos têm de pesquisar juntos, em rede, na internet. Para despertar a atenção dos estudantes hoje, é crucial entender que eles já nasceram num mundo conectado e pensam de maneira menos linear. São capazes de realizar diversas tarefas ao mesmo tempo e gostam mais de interagir do que de assistir passivamente a uma aula. Por isso, exercícios práticos e atividades em laboratório tornaram-se um dos esteios da nossa educação.
COMO UMA RESIDÊNCIA MÉDICA: Em nosso currículo, cerca de 30% do cronograma do curso se cumpre dentro das escolas. Os alunos passam por uma espécie de residência médica, em que efetivamente dão aulas, supervisionados por docentes mais experientes. É básico para qualquer um que queira aprender a ensinar, embora ainda não seja assim em muitos lugares. Felizmente, na maioria dos países da OCDE, que engloba os trinta países mais industrializados do planeta, já existe essa compreensão de que a formação do professor deve incluir uma intensa experiência prática. Do contrário, será incompleta.
UMA NAÇÃO QUE FORMA CIENTISTAS: Despertar o interesse dos alunos por química, física e matemática é visto como função prioritária dos professores em Cingapura, como é na Ásia de modo geral. Ainda no ensino fundamental, os estudantes são incentivados a fazer pesquisas e os que se destacam já começam a trabalhar com pesquisadores renomados dentro das universidades. Há também muitas feiras de ciências ao longo do ano e as populares olimpíadas internacionais. Grandes cientistas costumam se tornar ídolos nacionais. Os prêmios Nobel são recebidos como celebridades em Cingapura. Nessas ocasiões, garantimos que alunos e professores das escolas – e não apenas os universitários – assistam às palestras e os conheçam pessoalmente.
ESCOLAS DIRIGIDAS COMO EMPRESAS: Em Cingapura, boas ideias do setor privado são aplicadas na educação. Há uma década, as escolas públicas do país definem sua Visão, Missão e Valores – a tríade básica em qualquer empresa. Elas também determinam metas a ser alcançadas e são cobradas pelo governo. Ainda existe uma política de bonificação pelo desempenho. Um professor que obtém bons resultados em sala de aula chega a receber dois salários a mais por ano. Não temos professores ruins. Quem não apresenta bons resultados é demitido.
POR QUE NÃO COPIAR? Se não bastasse o fato de que custa caro produzir tanta pesquisa como nós fazemos, ainda existe, em certos lugares, resistência à ideia de que a escolha de métodos pedagógicos deve se basear em evidências científicas. Mas estou certo de que mesmo os países com menos recursos podem ir nessa direção. Basta olhar para o que dá certo e, por que não, copiar. Claro que é preciso tomar cuidado ao adaptar métodos didáticos a realidades culturais diferentes, mas essa solução não deve ser desprezada por países que não têm muito para investir.
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Lee Kong: a disputa por uma vaga é alta em sua escola para professores
A seguir, os principais trechos da entrevista que Lee Kong concedeu à repórter Camila Pereira.
LÁ, PROFESSOR TEM STATUS : Só admitimos na escola de formação de professores aqueles estudantes que, no ensino médio, aparecem entre os 30% melhores da turma. A ideia é que os mais talentosos do país sirvam à educação. Não adianta baixar uma regra dessas, no entanto, sem criar incentivos bem concretos para que tais jovens se interessem pela carreira. Um deles é o bom salário inicial, semelhante ao de um engenheiro no mesmo estágio. O outro é o prestígio da profissão em Cingapura. No dia dos professores, o presidente faz questão de receber aqueles que deram contribuições especiais às suas escolas. Os melhores ganham prêmios em dinheiro e são adorados pela população. Tudo isso explica a altíssima procura pela carreira. Em meu instituto, a relação é de seis candidatos para cada vaga – e todos são bons.
A CIÊNCIA DA EDUCAÇÃO: Ensinamos apenas técnicas pedagógicas cuja eficácia já foi comprovada cientificamente. Temos dois laboratórios para fazer esse tipo de pesquisa. Num deles, o foco é desenvolver novas metodologias de ensino. No outro, testamos essas ideias na prática. São estudos longos e sistemáticos, que envolvem diferentes grupos de alunos. Ao final do processo, é possível identificar o que dá certo para transmitir cada conhecimento. Munidos dessas pesquisas, passamos a orientar os aspirantes a professor a fazer uso de recursos tecnológicos de modo produtivo. Por exemplo: nossos professores criam situações em que os alunos têm de pesquisar juntos, em rede, na internet. Para despertar a atenção dos estudantes hoje, é crucial entender que eles já nasceram num mundo conectado e pensam de maneira menos linear. São capazes de realizar diversas tarefas ao mesmo tempo e gostam mais de interagir do que de assistir passivamente a uma aula. Por isso, exercícios práticos e atividades em laboratório tornaram-se um dos esteios da nossa educação.
COMO UMA RESIDÊNCIA MÉDICA: Em nosso currículo, cerca de 30% do cronograma do curso se cumpre dentro das escolas. Os alunos passam por uma espécie de residência médica, em que efetivamente dão aulas, supervisionados por docentes mais experientes. É básico para qualquer um que queira aprender a ensinar, embora ainda não seja assim em muitos lugares. Felizmente, na maioria dos países da OCDE, que engloba os trinta países mais industrializados do planeta, já existe essa compreensão de que a formação do professor deve incluir uma intensa experiência prática. Do contrário, será incompleta.
UMA NAÇÃO QUE FORMA CIENTISTAS: Despertar o interesse dos alunos por química, física e matemática é visto como função prioritária dos professores em Cingapura, como é na Ásia de modo geral. Ainda no ensino fundamental, os estudantes são incentivados a fazer pesquisas e os que se destacam já começam a trabalhar com pesquisadores renomados dentro das universidades. Há também muitas feiras de ciências ao longo do ano e as populares olimpíadas internacionais. Grandes cientistas costumam se tornar ídolos nacionais. Os prêmios Nobel são recebidos como celebridades em Cingapura. Nessas ocasiões, garantimos que alunos e professores das escolas – e não apenas os universitários – assistam às palestras e os conheçam pessoalmente.
ESCOLAS DIRIGIDAS COMO EMPRESAS: Em Cingapura, boas ideias do setor privado são aplicadas na educação. Há uma década, as escolas públicas do país definem sua Visão, Missão e Valores – a tríade básica em qualquer empresa. Elas também determinam metas a ser alcançadas e são cobradas pelo governo. Ainda existe uma política de bonificação pelo desempenho. Um professor que obtém bons resultados em sala de aula chega a receber dois salários a mais por ano. Não temos professores ruins. Quem não apresenta bons resultados é demitido.
POR QUE NÃO COPIAR? Se não bastasse o fato de que custa caro produzir tanta pesquisa como nós fazemos, ainda existe, em certos lugares, resistência à ideia de que a escolha de métodos pedagógicos deve se basear em evidências científicas. Mas estou certo de que mesmo os países com menos recursos podem ir nessa direção. Basta olhar para o que dá certo e, por que não, copiar. Claro que é preciso tomar cuidado ao adaptar métodos didáticos a realidades culturais diferentes, mas essa solução não deve ser desprezada por países que não têm muito para investir.
Fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/educacao/conteudo_474897.shtml
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