Novos tempos, novas ferramentas, novos jeitos de aprender e existir
Ney Mourão
O filósofo, físico e matemático francês René Descartes, se hoje vivesse, talvez tivesse dito sua máxima mais célebre assim: “Teclo; logo existo”. Ainda assim, com a vertiginosa velocidade do avanço das tecnologias, tal afirmação correria o risco de, dentro de alguns anos, com o já previsível desaparecimento dos teclados em nossas máquinas, também tornar-se obsoleta.
É fato conhecido: nas últimas décadas, experimentou-se, no campo tecnológico, um acúmulo de descobertas e novidades equivalente ao que se conseguiu em séculos de anterior existência humana. A chamada Era do Conhecimento trouxe, para o processo de ensino/aprendizagem, novas perguntas, novos questionamentos e a necessidade de respostas tão ágeis quanto o contexto em que estão inseridas. A TV de nossa sala mostra, em tempo real (e nunca se disse tanto a expressão “tempo real” como agora), a imagem de dois aviões invadindo duas torres, em um lugar a milhares de quilômetros de distância. De imediato, nossos filhos querem saber por que, onde ficam os prédios, quem é o senhor de barba longa a quem é atribuído o ataque. Num lampejo, todo o mundo está plugado, em rede, com históricos disponíveis, localizações geográficas, simulações de vôos, gráficos, reflexões ético-antropológicas. Conecto-me; logo existo! Eis a fórmula de um tempo novo!
Um personagem deste cenário em turbilhão vive ansiedades maiores. Um personagem habituado à constância, à previsibilidade, às fórmulas prontas, aos livros onde o saber estava consolidado, a um tempo medido mais pela cronologia do que pela efervescência. Um personagem de um mundo onde aviões não atravessavam torres, com transmissão ao vivo em telas instaladas em suas salas.
O professor é um personagem cujo papel mais definidor era a capacidade de oferecer respostas. No atual cenário, multiplicam-se as perguntas e a relação ensino-aprendizagem torna-se efetiva teia de construção de saberes, onde também o docente é um vivenciador das mudanças. Novos saberes, novos sabores precisam ser descobertos.
”As tecnologias conectam as pessoas, que se conectam entre si”, disse Bill Gates. As novas tecnologias digitais têm possibilitado uma dinâmica nova, oportunizando a disponibilização de informação em rede e uma nova postura dos agentes vivos que dela se utilizam. Alguns começam a tornar-se mais ativos e interativos. Ou, pelo menos, estão sendo estimulados a desenvolverem tal perfil - por exigência do mercado ou por incentivo dos seus parceiros, tanto instrutores/facilitadores quanto aprendizes também.
Na Educação a Distância, um leque imenso de possibilidades se abre. Conexões mais ágeis permitem a evolução do aspecto gráfico dos ambientes, a criação de novos recursos de interação entre aprendizes, a exploração de novas linguagens. Mais que isso, oportuniza a diminuição do contingente de excluídos no acesso à informação.
É certo que a rapidez das mudanças também assusta. Nosso personagem, muitas vezes, vê-se às voltas com paradigmas novos, que nem sempre se encaixam com o tradicional. A própria legislação em Educação, em nosso país, tem passado por críticas constantes, por não conseguir acompanhar a velocidade com que emergem novos cenários. Auto-aprendizado, formação continuada autônoma e “home schooling”, por exemplo, ainda são bichos-papões incompreensíveis, que muitos evitam até tocar no assunto. A relação docência-aprendiz vê-se tomada pela necessidade de aprimoramento constante nas duas pontas. Wikis, ambientes virtuais, novas plataformas, redes inovadoras de interação – tudo é rápido e tem que ser aprendido com agilidade, sob o risco da obsolescência.
Sem dúvida, não há volta. Como afirma LÉVY (2006), cada vez mais, Educação a Distância e o formato presencial mais se assemelharão e se apropriarão do melhor dos dois mundos. Não há como se desfazer das tecnologias, mas sim há que se utilizar delas com bom senso, como ferramentas, como suporte ao anseio maior de todo processo educacional, seja a distância ou presencial: tornar as pessoas melhores!
(Ney Mourão é jornalista, tutor em Educação a Distância, e vive a boa ansiedade dos dois mundos - é educador e eterno aprendiz!)
Fonte: Texto retirado do blog Arte Brasilis da professora Vera, por indicação do amigo José Antônio Klaes Roig editor do blog Letra Viva do Roig.
2 comentários:
Fui tutora do Curso de Pedagogia a Distância da UDESC em minha cidade e a experiência foi realmente fantástica. No início, como qualquer início, foi difícil, pois nossa clientela eram professoras com muito mais experiência de sala de aula e alunos e pais do que eu, e além de estarem a procura de um diploma achavam que toda a tecnologia disponível era inacessível a todos. Mas ao longo do processo, fomos aproveitando, como Ney Mourão mesmo disse, vivendo e vencendo a ansiedade dos dois mundos. Abraços.
Caro Robson, bom dia.
Concordo com o paragrafo final do texto, que considera ideal essa mescla de ferramentas, virtual e presencial, na Educacao a Distancia, sempre que possivel. A troca de experiencias eh enriquecedora. Assim como a tecnologia, que veio pra ficar, as relacoes pessoais sao insubstituiveis. Abraco, grata pela citacao da fonte,
Vera ~ Arte Brasilis
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