O relatório mundial da UNESCO sobre educação indicava, em 1995, que no mundo inteiro mais de 53 milhões de pessoas se dedicavam ao ensino, dos quais metade no nível primário e um terço no secundário. Tudo indica que desde então esse número tenha vindo a aumentar. Por um lado porque a educação expande-se em certos países em que, no entanto, o acesso à mesma é limitado e, por outro lado, porque a exigência da educação permanente cresce com o desenvolvimento social. Mas, para além dessa expansão quantitativa, actualmente assiste-se a uma interrogação ao papel do docente.
O novo papel do docente
Depois de um longo período em que o docente foi relegado para uma posição subordinada, não só relativamente às suas condições de trabalho, mas também do ponto de vista pedagógico, actualmente observa-se uma importante revalorização da sua posição e do seu papel. Todas as análises insistem em sublinhar que o docente não deve limitar-se exclusivamente à transmissão de conhecimentos, mas também constituir-se como um guia dos seus alunos para encontrar, organizar e processar o saber. Para isso deve estar em condições de adaptar a sua relação com os estudantes. Ao converter-se num companheiro, deve ajudá-los a encontrar, a organizar e a utilizar adequadamente os seus conhecimentos. É necessário, portanto, que favoreça a aquisição das técnicas básicas: bom domínio da leitura, da escrita e do cálculo. Mas também que sensibilize os jovens e os incuta do espírito de harmonia entre a escola e a comunidade. Deve ser um agente transmissor da cultura e do saber e auxiliar os alunos a tomarem consciência da sua integração na comunidade mundial favorecendo, por exemplo, o desenvolvimento de aptidões criativas e o espírito crítico.
Para cumprir com estas tarefas, os docentes devem assegurar, permanentemente, o seu desenvolvimento pessoal, em especial o aperfeiçoamento dos seus conhecimentos e aptidões pedagógicas. Também devem ter consciência dos valores e atitudes das quais depende o funcionamento de uma sociedade humana harmoniosa e participar activamente na vida comunitária e social. É necessário, além disso, que saibam aconselhar individualmente os alunos e conheçam diferentes metodologias de ensino indicadas a cada situação. No momento em que a escola já não se encontra reservada a um pequeno grupo de privilegiados, o docente deve poder ocupar-se de uma população escolar muito diferenciada do ponto de vista intelectual, cultural e social.
É verdade que se exige muito mais ao docente. Demasiado, dirão alguns que não vêem como, na maioria dos países - e não só naqueles em desenvolvimento, onde a profissão é mal remunerada e por vezes perigosa - essas medidas possam ser aplicadas. É por isso que é necessário fazer uma análise integral do problema, começando pelo recrutamento e formação inicial dos docentes.
Quem escolhe uma atividade docente hoje em dia?
A resposta que se obtém na maior parte das regiões do mundo é que a atividade docente não atrai os jovens mais talentosos e que constitui, em muitos casos, uma actividade transitória enquanto se procura um emprego mais prestigiado.
A importância e a dimensão desse fenómeno não é a mesma em toda a parte. No entanto, o consenso é geral em reconhecer a existência do problema e a necessidade de combatê-lo com urgência. Os docentes da primeira metade do século vinte e um são os jovens que neste momento se encontram nos institutos de formação de professores. É neste momento, então, que há que actuar se se pretende garantir uma educação de qualidade para o próximo século. Os relatórios regionais, preparados para servir de base aos debates da CIE, lançam sinais de alarme que devem ser escutados. Todos concordam que a docência é uma actividade muito pouco atraente do ponto de vista da sua valorização social: "São pouco numerosos os que querem ser docentes. Os estudantes mais inteligentes e os que obtêm os melhores resultados optam por outras profissões" (África); "Apesar de diversas tentativas de motivação, só um número escasso de estudantes capazes no plano académico desejam ser docentes" (Ásia/Pacífico); " Os docentes árabes não gozam de uma situação económica que atraia até à profissão os candidatos mais qualificados" (Estados árabes). As medidas de estímulo para atrair os jovens mais dotados até à profissão docente podem assumir diferentes formas, segundo os distintos contextos culturais, económicos e sociais. É necessário recordar, no entanto, que desde há muitos anos, os especialistas no tema insistem na necessidade de prestar atenção não só às qualificações dos futuros docentes mas também aos traços da sua personalidade. Para que a carreira docente alcance um verdadeiro profissionalismo, é necessário que o recrutamento e a formação sejam mais exigentes.
A formação dos docentes posta em dúvida
Uma vez tomada a decisão de ser docente, chega a etapa da formação inicial. Nesta fase, a maioria dos diagnósticos indica que o problema mais importante reside no imenso abismo que existe entre a formação e o que se espera na realidade de um docente eficaz e inovador. Os programas de formação docente estão habitualmente muito afastados dos problemas que se encontram na educação de alunos socialmente desfavorecidos tais como as classes de vários graus ou pluriculturais, nas zonas marginais, no ensino da leitura, da escrita e do cálculo ou na solução de conflitos, etc. Os métodos pedagógicos aprendidos durante a formação inicial têm pouca relação com os princípios que se supõem que os docentes devem aplicar no exercício da sua profissão. Dá-se maior importância à formação puramente académica em vez de favorecer a observação e as práticas inovadoras; dá-se prioridade à formação individual em detrimento do trabalho em equipa e acentuam-se os aspectos puramente cognitivos em detrimento dos afectivos.
Nos anos cinquenta e sessenta, pensava-se que o recomendável seria elevar a formação dos professores ao nível de educação superior. Foi assim que, em muitos países, foram criadas universidades pedagógicas ou institutos superiores de formação docente. A experiência demonstrou que essa medida, ainda que necessária, não era de forma alguma suficiente. O simples aumento do número de anos de formação não implica necessariamente uma melhoria na qualidade da formação profissional. Em muitos casos, a mudança da formação do nível secundário ao nível superior, provocou uma perda de especificidade da capacidade de ensinar; a formação específica para o ensino da leitura, da escrita ou do cálculo tendeu a desaparecer e a dissolver-se numa preparação geral para a literatura ou a matemática. Segundo inquéritos realizados em países desenvolvidos, uma percentagem importante de professores e mestres considera que não foram bem preparados para ensinar a leitura ou exercer as suas profissões em zonas sociais marginais. Não estão satisfeitos com a formação oferecida nas universidades nem nos institutos de formação superior e preferem, pelo contrário, a formação impartida por pessoas provenientes do próprio meio escolar.
Soluções?
A CIE constatou que o êxito de uma reforma da profissão docente passa por uma política integral, cujo um dos elementos mais importantes deve ser o da revalorização da actividade entre os jovens estudantes e, particularmente, entre os mais talentosos. A profissão é muito pouco atraente no que diz respeito à sua valorização social, às remunerações e às perspectivas de ascensão; por isso é necessário oferecer medidas que incitem aqueles que estão inclinados a eleger a carreira docente e incentivem o ingresso na docência de pessoas qualificadas provenientes de outros horizontes profissionais.
Perante a evidente necessidade de desenvolver a auto-reflexão e a capacidade de reciclagem permanente dos docentes, será indispensável que a formação inicial consagre mais ao que hoje em dia se usou chamar aprender a aprender. As necessidades e os problemas reais da escola também deverão articular-se mais eficazmente com a formação inicial. Será útil e desejável a criação de locais de discussão e intercâmbio tanto entre colegas como com pessoas provenientes de outras profissões, em particular professores com experiência e investigadores que trabalhem nas suas respectivas disciplinas. Estes intercâmbios permitiriam, além do mais, evitar que a formação inicial se torne rapidamente ultrapassada.
Como se pode ver, a situação não é clara. Especialmente porque existem os problemas específicos dos países em desenvolvimento: consequência das políticas de ajustamento estrutural, aumento da pobreza, persistência de fenómenos de má nutrição e alimentação, extraordinário crescimento da urbanização e problemas específicos dos países industrializados: aumento dos fenómenos migratórios, desemprego e consequências da introdução de novas tecnologias nos sistemas de produção e gestão.
É certo que esta reforma de fundo das profissões docentes, que passa por uma melhor qualidade da formação inicial dos seus intervenientes, não será feita de um dia para o outro. Mas se os objectivos não são fáceis de alcançar têm, pelo menos, o mérito de voltar a centrar a actividade de educador num verdadeiro projecto de coesão social para devolver o entusiasmo a quem se prepara para adoptá-la.
Fonte: UNESCO e A Página da Educação
Um comentário:
OLÁ!
É sempre inovador e interessante, quando nos pré-dispomos a melhorar nossas aulas, e antes disso é preciso assimilar todo esse conhecimento incluso nesse texto.
Adoreiiiiii...............
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