13/02/2008 - 21:34
Quando começou a dar aulas de Inglês, Bárbara Dieu nunca havia pensado em se tornar professora. Muito menos uma educadora on-line. "Eu tinha um computador em casa, mas sem internet", conta. O ano era 1997 e a rede mundial de computadores ainda estava, digamos, na Era da Pedra Lascada.
As aulas esporádicas nos cursinhos de inglês se tornaram a profissão de Bárbara quando ela assumiu o cargo de professora de Língua Estrangeira em um liceu franco-brasileiro. Determinada, voltou às cadeiras universitárias depois de já ter concluído a graduação em Ciências Sociais e se especializou em Pedagogia.
A segunda barreira que precisava ser rompida era a do computador. Instalou uma conexão discada e aprendeu a usar o e-mail para se comunicar com um filho que morava no exterior. Do correio eletrônico, a professora pulou para as ferramentas de busca. O Google ainda era uma idéia na cabeça dos seus criadores Larry Paige e Sergey Brin - e ela teve que se virar com o antigo Altavista.
Entusiasmada, Bárbara começou a vasculhar a rede até descobrir um programa de intercâmbio on-line oferecido por escolas dos Estados Unidos. A idéia era simples: colocar os estudantes brasileiros em contato com alunos norte-americanos para que trocassem experiência em inglês, via e-mail. O problema era que a maioria deles não tinha computador, e os que possuiam não dispunham de conexão com a internet. Na escola havia apenas um PC, com acesso controlado à rede.
Para não desistir da idéia, a professora pediu que os alunos escrevessem os textos a mão e começou a digitá-los em casa. Enviava o material para os norte-americanos pelo seu computador pessoal. A persistência rendeu e ela foi convidada para ir aos Estados Unidos. Levou 45 alunos e montou um site para transmitir on-line as experiências e fotos capturadas durante a visita à escolas de lá.
Depois dessa primeira experiência, Bárbara estudou as tecnologias de publicação na web e começou a participar de diversos programas internacionais de colaboração educacional on-line. "Fizemos um site, em 2000, em parceria com escolas holandesas. Depois vieram projetos com França, Itália, África... E durante cinco anos participamos de um projeto online da Unesco com escolas de todo mundo", lembra a professora.
Em 2003, um desafio acabaria se tornando o maior projeto da educadora. Com a extinção de um jornal na web, que os alunos mantinham como parte do currículo das aulas de Bárbara, surgiu a necessidade de se criar um espaço na rede. "Foi quando entrei no mundo dos blogs e descobri uma poderosa ferramenta educacional", diz.
Bárbara estimulou seus alunos a manter diários on-line para exercitar a expressão em inglês, além de outras habilidades, como fotografia, desenho e pintura. As páginas de cada estudante eram visitadas e comentadas pelos colegas de classe. Com o tempo, surgiram produções multimídia em vídeos, podcasts e ensaios fotográficos. À professora cabia a tarefa de revisar os textos e sugerir temas.
"A partir daí desenvolvi uma proposta pedagógica que já vinha amadurecendo ao longo do trabalho com internet e Educação. É o que eu chamo de 'you-learning' (algo como 'autoaprendizagem'), que se baseia no princípio de que você nunca pára de aprender.", explica a professora. "A escola é apenas o ambiente formal, mas a casa do aluno e, sobretudo, o ambiente virtual, seja ele acessado de um PC ou de um dispositivo móvel, são espaços privilegiados para um processo de ensino contínuo e ancorado em experiências cotidianas", finaliza.
Fim do isolamento
A experiência com Educação on-line não foi apenas uma proposta pedagógica para a professora Bárbara. "Quando entrei na internet pela primeira vez já tinha 14 anos de sala de aula e estava esgotada. Sentia que estava me repetindo e não encontrava tempo para me renovar", revela. Na rede, ela conseguiu o que não encontrava na vida real: tempo para novas experiências, compartilhamento de conhecimentos e capacitação profissional. "Sempre digo que a mudança foi sutil, mas fundamental. Troquei a TV pelo computador no meu tempo livre e passei a me sentir muito menos isolada", conta.
Para quem nunca tinha usado um mouse e um teclado, foi difícil começar. "Aprendi na marra e com a ajuda dos meus alunos. Foi uma troca que se refletiu numa ótima experiência de sala de aula. Acabei criando uma outra identidade como educadora fora da escola, em função das comunidades de que comecei a fazer parte, juntamente com professores de todo mundo", diz.
Mais que disposição para aprender, o professor que quiser entrar na rede e usá-la como ferramenta útil no processo educacional precisa, segundo Bárbara, aprender a lidar com o caos e a desorganização.
"Não dá para ter na Educação on-line a mesma cabeça do processo de aprendizagem tradicional. Na web não não se pode e não é bom ter controle de tudo. O professor tem que aprender a deixar de querer controlar as atividades do aluno e deixar o fluxo de ensino correr mais livre. Não adianta imposição, a palavra-chave é compartilhar", ensina.
Quer saber mais?
Vivência Pedagógica - Site com artigos, teses, dissertações e notícias sobre Educação na web.
Edublogosfera - Página que reúne os blogs de professores.
Bárbara Dieu - Endereço online da professora Bárbara Dieu com artigos e materiais sobre Educação online;
Para entrar em contato com a professora Bárbara Dieu escreva para beeonline@gmail.com.
Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/online/redacao/blog/20080213_posts.shtml
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