Uma visão pragmática do termo que define a segunda geração da internet.
Por Marcello Póvoa
Naturalmente o leitor já ouviu falar da Web 2.0. O termo esta cada vez mais em voga, apesar de ter uma significância bastante ampla, e muitas vezes um pouco nebulosa. Quanto mais divulgada e popular é a expressão, mais os limites de sua definição ficam indeterminados. Assim, as linhas abaixo procuram definir uma síntese do que, ao menos originalmente, se trata a já famosa Web 2.0.
O termo Web 2.0 se refere a uma suposta segunda geração de serviços de internet. Como toda forma de classificação histórica, não podemos dizer exatamente quando termina ou começa este período cronologicamente. Mas a observação destes padrões de comportamento na rede pode ser saudável do momento em que colabora com a organização de idéias e conceitos em uma indústria nova e particularmente complexa por sofrer agressivas mutações — justamente por estar ainda em sua fase embrionária.
A expressão Web 2.0 foi primeiramente cunhada pela empresa O’Reilly Media, e desdobrou-se em uma séria de conferências e livros atingindo grande popularidade nas comunidades de desenvolvimento web. Uma observação de padrões em comum de negócio e tecnologia em uma variedade de projetos web que estão surgindo levou a dita cuja classificação “Web 2.0”. Abaixo, uma síntese dos principais padrões que são considerados como parte do grupo de tendências desta segunda geração web.
A web como platafoma
Sites deixam de ter uma caracteristica estática para se tornarem verdadeiros aplicativos no servidor. As funcionalidades dos sites são muito mais poderosas, lembrando a sofisticação de softwares que rodam no desktop de seu PC. Certamente hoje é mais complexo (e na maioria das vezes mais custoso) desenvolver um serviço web competitivo do que há alguns anos.
Estes “sites aplicativos” tem também uma integração mais eficiente com a interface no cliente (browser) – que passa a ser mais poderosa com protocolos como o AJAX, que podem gerar uma usabilidade mais intuitiva e que resembla as interfaces escritas em código de baixo nível ( C++ e afins ).
Beta eterno
Tradicionalmente sites e aplicativos evoluíam com lançamento de versões 1.0, 2.0, 3.0 etc. Software é um buraco sem fundo, ou seja, nunca chegaremos a versão “final”. No mais, pelo fato do aplicativo estar em rede, o feedback de usuários e constante teste de funcionalidades torna-se um processo sem necessariamente uma interrupção por versões. Assim, sites/aplicativos ficam em “beta eterno”, denotando uma evolução sem fim. Apesar de pelo ponto de vista tecnológico o beta eterno fazer sentido, do ponto de vista de marketing o conceito é questionável já que o consumidor precisa de uma percepção clara de valor agregado na evolução do produto — principalmente para justificar usar mais ou mesmo gastar mais neste produto. Assim, alguma forma de empacotamento de fases na evolução do produto deverá continuar sendo necessária, mesmo que seja puramente perceptual — através de branding, por exemplo.
Redes sociais
Recentemente houve uma explosão da audiência em sites que formam e catalisam comunidades, tais como Orkut e My Space, dentre outros. Na verdade, estas redes de pessoas sempre existiram desde os primórdios da internet (BBS, chat, fóruns etc.). O que aconteceu foi uma aceleração recente do número de usuários destas comunidades devido a maior riqueza de conceito e sofisticação tecnológica dos “sites aplicativos”, somados a um aumento da base instalada de banda larga.
Flexibilidade no conteúdo
O conteúdo passa a ser dinâmico e sua publicação muito mais flexível, tanto por editores profissionais como pelos próprios usuários. Ferramentas de publicação multi-plataforma (PC, celular, PDAs, IPTV) geram poder e eficiência jornalistica à sites de notícias, por exemplo. Ao mesmo tempo, o próprio usuário passa a gerar conteúdo (ex. YouTube), classificá-lo e mesmo parcialmente editá-lo usando formatos como RSS, ou Really Simple Syndication (ex. Netvibes). As “Wikis” são talvez a forma mais extrema de edição colaborativa, onde qualquer pessoa teoricamente qualificada pode melhorar a qualidade de determinado conteúdo (ex. Wikipedia).
Tags
Tradicionalmente o conteúdo era classificado para o usuário, ou mesmo pelo próprio usuário em categorias pré-definidas. As Tags geraram uma taxonomia “invertida”, onde conteúdos se auto-classificam em categorias definidas (ex. del.icio.us).
Percepção de valor econômico
Talvez a mais importante função do termo Web 2.0 tenha sido a de sinalizar o início de uma nova e promissora fase na web, que vinha sob visão um tanto pessimista do mercado após o estouro da bolha especulativa no começo do século.
Durante a “bolha”, forças do mercado fizeram acreditar que a perda do timing de entrada na nova economia seria um problema sério a médio prazo para corporações já estabelecidas. Assim, apesar da nítida super-valorização no preço das empresas que representavam a dita nova economia, muitas destas foram adquiridas pois acreditava-se que o custo de entrada seria compensado através de um ingresso rápido em um mercado em formação, e irreversível a longo prazo. Com uma estratégia agressiva de aquisições e venda rápida, alguns bancos ( especialmente Wall Street) lucraram significativamente com participações principalmente em emissões primárias (IPOs). Com o fim deste fenômeno cognitivo, gerou-se um sentimento pessimista no mercado quanto a web.
O fato é que a web nunca parou de evoluir, apenas agora com um filtro seletivo de modelos de negócio muito mais realista. O IPO do Google em 2004 talvez tenha sido o marco para a entrada nesta nova fase de otimismo pragmático do mercado em relação a web. O termo Web 2.0 certamente ajudou a consolidar esta nova percepção de valor da internet, agora com modelos de negócio apresentando retornos reais. Ao mesmo tempo, uma integração da internet no modus operandi das corporações “tradicionais”, gerou novos e vitais canais de geração de receita, redução de custos ou mesmo formação de um CRM inteligente. Tudo isso denota esta segunda geração da internet, que esperamos seja apenas uma das muitas outras gerações promissoras que virão pela frente.
Sobre o Autor
Marcello Póvoa (mpovoa@mppsolutions.com) é sócio-diretor da MPP Solutions.
Fonte: http://webinsider.uol.com.br/index.php/2006/10/30/o-que-e-web-20/
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