Como insistir em verdadeiro e falso, como se só houvesse essas duas alternativas, como se a todas as perguntas fosse possível responder com esse tipo de dualismo, um dos tantos que infernizam a vida humana, como seus colegas: certo/errado, bom/mau, bonito/feio, moral/imoral, normal/anormal, natural/anti-natural, teísta/ateu, homossexual/heterossexual (ah! novela Mulheres Apaixonadas, com mãe e filha se dilacerando por causa disso) etc.
Certo, errado, verdadeiro ou falso?
Entre certo e errado existe toda uma gama de valores: provavelmente certo, provavelmente errado, insuficiência de dados... Aristóteles mesmo caiu nessa cilada. Ele é o fundador da lógica bivalente, aquela que vê tudo em termos de verdadeiro ou falso, isto é, só admite dois valores lógicos. Foi preciso passarem 23 séculos para a lógica explodir esses conceitos, no século dezenove. Hoje falamos de lógicas, no plural: bivalente, trivalente, polivalente entre outras.
Dever-se-ia, pois, evitar pedir aos educandos que respondam verdadeiro ou falso às questões... Verdade e falsidade são algo objetivo, que se impõe a todos. Respostas como certo ou errado já são mais modestas, mais realistas. Certo ou errado são algo subjetivo, que depende da pessoa, dos dados de que dispõe. Seria ainda mais educativo fornecer ao educando uma gama de respostas: certo, provavelmente certo, insuficiência de dados, provavelmente errado, errado. Quanto mais ignorante é uma pessoa, mais certezas tem. Ela confunde o amor à certeza com o amor à verdade. Por exemplo, se alguém perguntar a um marido alcoólatra se ele costuma bater na mulher quando está completamente embriagado, será que ele poderá responder a essa pergunta em termos de verdadeiro ou falso, de correto ou incorreto, como fazem aqueles policiais entrevistados lá no programa Cidade Alerta?. Evidentemente que não. Ele só poderá dizer: "provavelmente sim", ou "provavelmente não", ou "não sei". Quem poderia responder a isso em termos de verdadeiro ou falso seria só Deus ou um vice-Deus. Mas Deus não é casado nem alcoólatra...
Ninguém nasce pensando
Aristóteles falava de um organon, um instrumento para ampliar a nossa capacidade de pensar. Uma espécie de "óculos" para aumentar a nossa visão intelectual, como os oculistas prometem ampliar a nossa visão física. Porque ninguém na realidade nasce pensando. Pensar é um hábito, uma conquista, algo que se adquire, que vira uma segunda natureza. As pessoas nascem com a capacidade de pensar. Não quer dizer que façam uso dela. O hábito é algo que se faz sem dificuldade, quase sem o sentir. Como a virtude, que se pratica sem o perceber, sem dificuldade. O vício também é assim: pratica-se com a maior facilidade. Basta observar a frieza com que os criminosos falam dos seus feitos monstruosos.
Se ninguém nasce pensando, ninguém também precisa morrer sem pensar. Pensar se aprende. Basta exercitar-se no pensamento. Se quem inventou o alfabeto era analfabeto, quem inventou o pensamento era um "burro" no bom sentido, que parou para pensar. O problema é o do que vem a ser pensar, afinal de contas. Para os dicionários, é refletir (voltar-se para si mesmo), considerar (etimologicamente, "olhar para os astros", sidera em latim), formar idéias etc. Tudo demasiado vago, que deixa a pessoa na mesma, sem saber por onde começar.
Operações de pensamento
Na realidade, pensar é trabalhar sobre os dados que nos são fornecidos pelos sentidos. Dado é, como o nome está dizendo, aquilo que recebemos de graça, sem nenhum esforço, bastando abrir os olhos ou os ouvidos. Como tudo o que é de graça, isso pouco valor tem para nos orientar na selva da realidade. Só o dado trabalhado, burilado (como o diamante bruto) adquire toda a sua força, toda a sua importância para nós. Podemos trabalhá-lo de várias formas: observando-os bem (sabemos que a atenção espontânea, é dispersa, podendo deixar de lado o imperceptível e o significativo), comparando-os entre si, interpretando-os etc. Donde as chamadas operações de pensamento: observação, comparação, interpretação, classificação, resumo, imaginação (invenção), procura de pressupostos, crítica etc. Todas elas com regras apropriadas. É isso, se não me engano, que devia ser feito em sala de aula e fora dela. A matéria lecionada, o currículo não tem lá tanta importância.
Para a Filosofia nenhum assunto lhe é estranho; pelo contrário, todo bom assunto lhe é estranho. Assim também para a "pensamentática". Essa e a decoreba usam do mesmo currículo, mas não com os mesmos resultados. A primeira forma o cidadão, o profissional competente; a segunda, o diplomado. Vale a pena, pois, ensinar a pensar.
Os entendidos garantem que não fazemos uso nem de 5% da nossa capacidade de pensar
Sabe-se que esta divisão das pessoas é feita pelos "bons"
Idea (grego), donde Cícero tirou o latim idea, significa exatamente isto: "visão mental" Fonte: http://www.profissaomestre.com.br/php/verMateria.php?cod=1209